Além das tradicionais doenças fungicas que acometem o trigo, doenças causadas por bactérias têm ganhado espaço nas últimas safras, preocupando triticultores do Sul do Brasil. Dentre as principais doenças do trigo causadas por bactérias, destacam-se a estria-bacteriana (Xanthomonas translucens pv. undulosa) e a queima da folha (Pseudomonas syringae pv. syringae).

A alta umidade relativa do ar é o ponto chave para a entrada da doença, sendo que a infecção das plantas ocorre através da penetração por aberturas naturais, como hidatódios, estômatos e ferimentos (Neivert; Gralak; Tagliani, 2018). Lesões provenientes da ocorrência de doenças fungicas contribuem para a penetração das bactérias e infecção das plantas, nesse sentido o controle eficiente de doenças fungicidas também contribui para reduzir a infecção de doenças bacterianas no trigo.

Principais bacterioses do trigo
Estria-bacteriana (Xanthomonas translucens pv. undulosa)

De acordo com Lau et al (2020), os danos em decorrência dessa doença podem causar perdas de produtividade de até 40% dependendo da suscetibilidade da cultivar. Os sintomas normalmente são mais aparentes próximo ao espigamento.

As infecções nas folhas são caracterizadas por estrias translúcidas do tipo anasarca, no sentido das nervuras foliares, que podem ser mais facilmente visualizadas com luz. Sob condições de molhamento, podem ser observados exsudatos da bactéria sobre estas estrias (Lau et al., 2020).

À medida em que as lesões evoluem, a cor das estrias mudam de marrom clara para marrom escura, tornando-se necróticas. Além da cor, com a evolução dos sintomas, as estrias coalescem, formando lesões que podem cobrir praticamente toda a folha (Lau et al., 2020).

Figura 1. Sintomas foliares de Estria-bacteriana (Xanthomonas translucens pv. undulosa) em trigo.
Foto: Ricardo Trezzi Casa

Além das folhas, essa bactéria pode infectar as glumas durante a fase de enchimento de grãos, causando pequenas estrias longitudinais de cor marrom escura a negra. Em plantas infectadas, é comum observar a alternância entre áreas sadias e necróticas, nas aristas das espigas.


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Figura 2. Sintomas de Estria-bacteriana (Xanthomonas translucens pv. undulosa) em colmo e espigas de trigo.
Foto: José Maurício Cunha Fernandes
Queima da folha (Pseudomonas syringae pv. syringae)

Com maior importância em regiões de cultivo de clima frio, os sintomas da queima da folha podem surgir em qualquer folha do trigo, mas apresentam maior frequência nas folhas superiores da planta.

A infecção inicia-se com a presença de uma mancha aquosa, com diâmetro em torno de 1 mm, que evolui em um período de dois a três dias para uma coloração branco-amarelada com áreas cloróticas que podem coalescer, formando um aspecto desidratado. Pode-se observar exsudato bacteriano de aspecto molhado sobre as lesões nas folhas, sob condições ambientais de molhamento contínuo (Lau et al., 2020).

Figura 3. Sintomas de Queima da folha (Pseudomonas syringae pv. syringae) em trigo.

Manejo das bacterioses no trigo

Tanto as bactérias causadoras da queima da folha, quando as bactérias causadoras da estria-bacteriana podem sobreviver nos restos culturais de trigo, bem como em plantas voluntárias de trigo e em hospedeiros secundários. Com isso em vista uma das principais estratégias de manejo das bacterioses consiste na rotação de culturas e na eliminação de plantas voluntárias (hospedeiras), reduzindo assim a fonte de inóculo primário das doenças.

Além disso, é fundamental adotar estratégias complementares, tais com o uso de sementes isentas de bactérias, utilizar cultivares resistentes, realizar a semeadura em épocas recomendadas para a cultura (evitando condições de temperatura e molhamento favoráveis a infecção), reduzir o trafego de máquinas entre áreas sadias e contaminadas, e realizar o controle químico quando necessário.

Dentre as medidas citadas anteriormente, o uso de cultivares resistentes é a melhor opção para reduzir os danos em função das bacterioses no trigo. Existe diferença genética na reação de cultivares para as duas bacterioses, como constatado em testes de inoculação controlada com distintos isolados bacterianos (Lau et al., 2020).

Controle químico das bacterioses no trigo

De acordo com Lau et al. (2020), os tratamentos químicos para o controle das bacterioses no trigo não são muito efetivos. Atualmente, somente o fungicida Casugamicina (Kasumin) apresenta registro para o controle de bacteriose no trigo (Agrofit, 2024), e apenas, para a queima da folha (Pseudomonas syringae pv. syringae).

A nível de campo, sabe-se que esse fungicida contribui para a redução da severidade das bacterioses no trigo, principalmente quando associado a outros fungicidas, em especial, multissítios como o mancozebe. No entanto, ainda há pouca efetividade no controle dessas doenças na cultura.


Veja mais: Quais os fungicidas indicados no manual de Indicações Técnicas para o controle de doenças no trigo?


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Referências:

AGROFIT. CONSULTA DE PRAGA/DOENÇA. Ministérios da Agricultura e Pecuária, 2024. Disponível em: < https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >, acesso em: 24/09/2024.

LAU, D. et al. PRINCIPAIS DOENÇAS DO TRIGO NO SUL DO BRASIL: DIAGNÓSTICO E MANEJO. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 375, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/221150/1/ComTec-375-Online-2021.pdf >, acesso em: 24/09/2024.

NEIVERT, M.; GRALAK, E.; TAGLIANI, M. C. INCIDÊNICA E SEVERIDADE DE BACTERIOSE NA CULTURA DO TRIGO EM SANTA MARIA DO OESTES/PR E IVAIPORÃ/PR SAFRA 2017. Tech & Campo, 2018. Disponível em: < https://revista.camporeal.edu.br/index.php/tech/article/view/124 >, acesso em: 24/09/2024.

Foto de capa: José Maurício Cunha Fernandes

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