O mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum é uma das principais e mais preocupantes doenças que acometem a soja. A doença apresenta ampla distribuição, e pode causar perdas de produtividade de até 70% dependendo da suscetibilidade da cultivar, severidade da doença e estádio em que acomete a soja (Meyer et al., 2014)
O mofo-branco infecta mais de 400 espécies incluindo monocotiledôneas e dicotiledôneas, possibilitando com que o fungo permaneça viável em plantas hospedeiras durante os períodos entressafra (Grigolli, 2015). Além disso, o mofo-branco produz estruturas reprodutivas (escleródios), que permitem ao fungo permanecer viável por um longo período até encontrar condições adequadas para a germinação e desenvolvimento do mofo-branco.
Figura 1. Germinação carpogênica de escleródios de Sclerotinia sclerotiorum, com elevada formação de apotécios (A e B), e de um escleródio enterrado a cerca de 3 cm de profundidade no solo, mostrando a capacidade de elongação da estipe (C).
Com isso, a doença é disseminada facilmente entre áreas de cultivo. O período mais vulnerável da soja ao mofo-branco vai da floração plena ao início da formação dos legumes (Soares et al., 2023). Nesse período, o controle químico é indispensável para evitar perdas de produtividade, especialmente em áreas com histórico de ocorrência da doença.
Biocontrole com Bacillus
Além do controle químico com fungicidas, agendes de biocontrole como fungos e bactérias vêm sendo empregados no manejo do mofo-branco, como ferramentas complementares ao controle químico. Um grupo em destaque são as bactérias do gênero Bacillus. No Brasil, esse grupo de bactérias concentra a maioria dos produtos biológicos comerciais para uso no controle biológico do mofo-branco.
Segundo Meyer et al. (2022) os mecanismos de ação de Bacillus spp. no controle de S. sclerotiorum não são muito bem conhecidos, mas um de seus principais efeitos é a inibição da germinação carpogênica e do crescimento micelial do patógeno. Este gênero de bactérias produz uma gama de compostos antifúngicos e antibacterianos que suprimem o desenvolvimento de vários fitopatógenos, além de também promoverem a indução de resistência sistêmica em plantas.
Avaliando a eficiência de Bacillus subtilis e Bacillus pumilus no controle preventivo e curativo do mofo-branco da soja Otávio et al. (2018) observaram que esses bioagentes atuam como antagonistas na inibição do crescimento micelial do mofo-branco. Os autores destacam que, preventivamente, as duas espécies de Bacillus apresentam resultados satisfatórios na redução da severidade do mofo-branco em soja (Figura 1), no entanto, dentro das condições estudadas, somente o Bacillus pumilus apresentou efeito curativo, sendo que, o Bacillus subtilis não diferiu da testemunha.
Figura 2. Severidade de Sclerotinia sclerotiorum quando controlada com antagonistas.
Quando aplicadas de forma preventiva, as bactérias do gênero Bacillus atuam como antagonistas do mofo-branco, inibindo a germinação dos escleródios e o crescimento micelial do fungo, no entanto, a ação curativa pode se restringir a algumas espécies do gênero Bacillus. Em suma, essas bactérias podem atuar positivamente do manejo do mofo-branco, como agentes de biocontrole, especialmente quando empregadas de forma preventiva ao desenvolvimento da doença.
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Referências:
GRIGOLLI, J. F. J. MANEJO DE DOENÇAS NA CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2014/2015, 2015. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/216/216/newarchive-216.pdf >, acesso em: 14/08/2024.
MEYER, M. C. et al. ENSAIOS COOPERATIVOS DE CONTROLE QUÍMICO DE MOFO-BRANCONA CULTURA DA SOJA: SAFRAS 2009 A 2012. Embrapa, Documentos, n. 345, 2014. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/985018/1/Ensaioscooperativosdecontrolequimicodemofobranconaculturadasojasafras2009a2012.pdf >, acesso em: 14/08/2024.
OTÁVIO, P. et al. BIOCONTROLE DE MOFO BRANCO EM SOJA COM Bacillus spp. XLI Congresso Paulista de Fitopatologia, 2018. Disponível em: < http://ww1.infobibos.com.br/anais/cpfito/41/Resumos/Resumo41CPFito_0130.pdf >, acesso em: 14/08/2024.
SOARES, R. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa Soja, Documentos, n. 256, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1158639 >, acesso em: 14/08/2024.