Por: Cristiele Deckert, jornalista bolsista Fapesc Epagri/Cepa
A capacidade de armazenagem de grãos em Santa Catarina não tem acompanhado o ritmo da produção agrícola nos últimos anos. Entre 2020 e 2025, a produção total de grãos do Estado, que inclui arroz, feijão, milho, soja, trigo, aveia e cevada, cresceu 19%. Este aumento de produtividade representa um salto de 6,2 milhões para 7,38 milhões de toneladas. No entanto, a capacidade estática de armazenagem avançou apenas 5,1% no mesmo período.

Com esse descompasso, o déficit de armazenagem no estado ultrapassou 800 mil toneladas em 2025, ano em que foi registrada uma safra recorde. A situação acende um sinal de alerta especialmente para o milho, insumo essencial para a cadeia produtiva de proteína animal. Segundo estimativas, o déficit de armazenagem de milho em Santa Catarina já ultrapassa 5,5 milhões de toneladas, considerando a demanda das indústrias de carnes e rações.
De acordo com Edilamar Wons, segundo vice-presidente da Cooperalfa, a carência por estruturas de estocagem adequadas se agravou nos últimos anos. “Apesar dos ganhos expressivos nas lavouras, o armazenamento não tem acompanhado esse aumento de produtividade, o que tem obrigado a cooperativa a buscar soluções emergenciais, como o uso de silos bolsa”, explica.
Essa alternativa é uma opção tanto para a cooperativa quanto para o produtor, mas tem um custo alto e o grão não pode ficar armazenado por muito tempo, as atuais taxas de juros dificultam novos investimentos em infraestrutura, tanto por parte das cooperativas quanto dos agricultores. “Além disso, a deficiência na capacidade de armazenamento impacta diretamente a comercialização dos grãos, como não temos armazenagem suficiente, precisamos ir para o mercado e comercializar esse produto antecipadamente que em muitos casos ocorre em momentos desfavoráveis de mercado, reduzindo a rentabilidade da produção”, observa Wons.
Diante desse cenário, cooperativas e lideranças do agronegócio já discutem alternativas para ampliar a capacidade de estocagem no Estado e dar suporte à continuidade do crescimento da produção agropecuária catarinense. Segundo Haroldo Tavares Elias, analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, a última safra evidenciou esse descompasso. “Tivemos uma defasagem de cerca de 800 mil toneladas na capacidade estática de armazenagem do Estado. Essa limitação afeta toda a logística da produção de grãos e torna indiscutível a necessidade de ampliar continuamente essa estrutura, especialmente diante das safras recordes que vêm sendo registradas em Santa Catarina”, destaca.
O problema se intensifica quando se considera o déficit histórico de milho no estado, essencial para a produção de rações. Elias lembra que Santa Catarina precisa importar, anualmente, cerca de 6 milhões de toneladas do grão de outras regiões do país e até do exterior. “A armazenagem é um suporte estratégico dentro do ciclo de suprimento de grãos, com papel fundamental para garantir o abastecimento das cadeias produtivas de suínos, aves e da bovinocultura de leite”, explica.
Clique aqui para conferir vídeo com análise de Haroldo Tavares Elias.
O boletim é uma publicação mensal do Centro Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Cepa) e traz dados atualizados sobre produção, preços, clima e mercado, servindo como termômetro do agronegócio catarinense. Confira os destaques do Boletim Agropecuário de junho de 2025:
Safra recorde pressiona preços do arroz para baixo
Os preços do arroz seguem em queda em Santa Catarina, influenciados pelo bom desempenho da atual safra. Em junho de 2025, a saca do grão foi cotada a R$65,75, mantendo a tendência de retração observada desde o fim de 2024. O recuo é atribuído ao aumento da oferta no mercado, resultado de uma safra com produtividade recorde estimada em 8,7 toneladas por hectare — alta de 9,58% em relação ao ciclo anterior. O avanço da produção foi impulsionado por condições climáticas favoráveis e investimentos em tecnologia no campo.
Safra de inverno inicia com preços firmes e previsão de queda na produção de trigo
Em maio, os produtores catarinenses de trigo receberam, em média, R$ 77,61 pela saca de 60 kg, valor 0,96% superior ao do mês anterior. O período foi marcado por massas de ar frio, com registro de geadas e até neve nas regiões de maior altitude. Apesar do frio, o plantio do trigo avança lentamente e deve ganhar ritmo a partir de 20 de junho. Até o fim de maio, apenas 5% da área estimada (116,1 mil hectares) havia sido semeada, com destaque para Chapecó, Xanxerê e São Miguel do Oeste. A previsão para a safra 2025/26 é de uma produção de 406,96 mil toneladas, 5,86% inferior à anterior. Já a aveia grão, cultivada principalmente para cobertura de solo e alimentação animal, deve atingir 50,2 mil toneladas, alta de 2,29%. A cevada, que tem produção ainda modesta no estado, deve registrar forte crescimento, com colheita estimada em 3,5 mil toneladas, 152,11% a mais que na última temporada.
Alta produtividade e oferta global pressionam preço do milho
O preço médio do milho registrou queda de 7,8% em maio na comparação com abril, tendência que se manteve nos primeiros dias de junho. A pressão sobre os preços vem do avanço da colheita da segunda safra no Brasil, da maior oferta global das expectativas de uma produção recorde, fatores que derrubaram os valores nos contratos futuros e no mercado físico. A produção nacional foi estimada em 126,87 milhões de toneladas, aumento de 9,9% em relação à safra anterior. Em Santa Catarina, mesmo com redução de área, a produção cresceu mais de 25%, totalizando 2,7 milhões de toneladas. O estado também atingiu produtividade recorde, com média de 9,4 toneladas por hectare nas duas safras.
Com safra recorde, preço da soja oscila e inicia junho em leve alta
O preço médio da soja ao produtor caiu 2,2% em maio, fechando o mês a R$121,99 por saca, mas apresentou leve recuperação nos primeiros dez dias de junho, atingindo R$122,50/sc. A confirmação de uma boa produção nacional e fatores externos, como a trégua comercial entre Estados Unidos e China, influenciaram o comportamento do mercado. O estado registrou safra recorde de soja, com crescimento de 18,6% na produção em relação ao ciclo anterior, totalizando 3,26 milhões de toneladas. A área plantada aumentou 2,25%, alcançando 829,2 mil hectares, e a produtividade média subiu 16%, chegando a 3.931 kg/ha. O Planalto Norte se destacou com índices superiores a 5 toneladas por hectare em municípios como Canoinhas e Mafra. Já a segunda safra teve desempenho inferior, afetada pela estiagem registrada em março.
Oferta elevada pressiona preços da banana
Entre abril e maio de 2025, o mercado de bananas em Santa Catarina registrou queda nos preços ao produtor, com a banana-caturra sofrendo desvalorização de 18,1% devido ao aumento da oferta, e a banana-prata recuando 3,9%, impactada pela menor procura em razão das frutas da estação. Para junho, a expectativa é de manutenção dessa tendência de baixa, diante da maior oferta e da concorrência com outras frutas. No cenário nacional, as bananas-nanica e prata também enfrentam desvalorização nos preços em função da alta oferta e da competição sazonal. Apesar da queda nos valores negociados, 18,1% abaixo de 2023 (US$ 12,8 milhões), o volume exportado de bananas do Brasil cresceu em relação a 2024, totalizando 34,8 mil toneladas entre janeiro e maio. Santa Catarina se destaca como maior exportador nacional, respondendo por 50,6% do volume (17,6 mil toneladas), com incremento de 103% sobre 2024 e 1,7% frente a 2023, e exportações avaliadas em US$ 6,0 milhões, 47,2% do total brasileiro. Para a safra 2024/25, a produção catarinense deve crescer 17,5%, atingindo 768 mil toneladas, em 28,4 mil hectares, com aumento estimado de 18% na banana-caturra e 15,2% na banana-prata.
Mercado de maçã registra queda de preços
Entre abril e maio de 2025, os preços da maçã no atacado recuaram 1,95%, enquanto no mercado nacional a fruta catarinense teve queda de 5,8% na Ceagesp-SP e alta de 11,2% na Ceasaminas-MG. A maçã importada também desvalorizou 6,9% na Ceagesp-SP, mantendo preço 6,8% superior ao da fruta local em maio. Para junho, a expectativa é de valorização nos preços no atacado com o fim da safra e a entrada escalonada de variedades, com alta prevista para a maçã Gala e queda para a Fuji, refletindo um aumento médio de 1,4% nos preços. Entre janeiro e maio, as exportações brasileiras de maçã fresca totalizaram 11,7 mil toneladas, 43% a mais que em 2024, mas ainda 64% abaixo do volume de 2023, com valores negociados de US$ 12,3 milhões (55% inferiores a 2023). Santa Catarina responde por 29,3% do volume exportado em 2025, com 3,4 mil toneladas, um crescimento de 92% sobre 2024, porém 41,8% menor que 2023. As exportações catarinenses somaram US$ 3,4 milhões, 28,1% do total nacional, mas 21,4% abaixo do valor de 2023. Para a safra 2024/25, a produção estadual está prevista para crescer 13,75%, alcançando 481 mil toneladas, mas ainda abaixo da média histórica, mesmo com aumento de 9,53% na área cultivada.
Alho inicia junho com forte valorização e projeção de safra maior em 2025/26
Após queda de 1,32% no preço médio ao produtor em maio, o alho classes 4-5 iniciou junho com expressiva valorização, alcançando R$20,00/kg (alta de 15,94%). No atacado, os preços também subiram, com cotação média de R$24,86/kg, aumento de 9,51% em relação ao mês anterior. A expectativa positiva do mercado reflete o bom desempenho da safra 2024/25, que incentivou o aumento da área plantada no estado para a próxima temporada. A estimativa inicial da Epagri/Cepa para a safra 2025/26 projeta crescimento de 12,75% na área cultivada, com produção prevista de 7,76 mil toneladas, 7,44% acima da safra passada, e produtividade média de 10.453 kg/ha. Em maio, o Brasil importou 17,74 mil toneladas de alho, volume 11,78% menor que o de abril, mas 6,48% superior ao registrado em maio de 2024.
Cebola tem forte valorização e safra 2025/26 deve crescer mais de 6%
O mercado de cebola apresentou forte valorização nos meses de maio e início de junho. O preço médio ao produtor subiu 5,98% em maio frente a abril e deu um salto de 40,82% na primeira semana de junho, alcançando R$52,67 por saca de 20 kg. No atacado, os preços seguiram a tendência de alta: a média de maio foi de R$63,42/saca (+20,51%), chegando a R$65,58 nas primeiras semanas de junho (+3,40%). A estimativa inicial da Epagri/Cepa para a safra 2025/26 projeta uma produção de 594 mil toneladas em Santa Catarina, aumento de 6,78% em relação ao ciclo anterior, impulsionada por crescimento de 1% na área plantada e produtividade estimada de 30,5 t/ha. Apesar do bom momento do mercado interno, as importações brasileiras de cebola somam 111,5 mil toneladas em 2025, o equivalente a 49,27% do volume importado no mesmo período de 2024. Só em maio, foram importadas 60,2 mil toneladas, com preço médio (FOB) de US$0,16/kg.
Preço do boi gordo recua, mas ainda é 27,5% maior que em 2024
Nas duas primeiras semanas de junho, o preço do boi gordo em Santa Catarina caiu 1,3%, seguindo a tendência observada nos principais estados produtores. A retração foi puxada pelo aumento temporário na oferta, com produtores antecipando abates devido à chegada do inverno, quando os custos com suplementação alimentar sobem e o ganho de peso dos animais diminui. A demanda doméstica também recuou, pressionada pelos preços elevados da carne bovina, que levaram os consumidores a migrarem para proteínas mais acessíveis, como carne de frango e suína. Ainda assim, na comparação com o mesmo período de 2024 (com valores corrigidos pelo IGP-DI), a cotação do boi gordo em SC acumula alta de 27,5%, conforme dados preliminares.
Exportações de carne de frango caem em maio
Santa Catarina exportou 81,6 mil toneladas de carne de frango em maio de 2025, registrando quedas de 24,7% em relação a abril e de 9,0% frente ao mesmo mês de 2024. As receitas também recuaram cerca de US$ 169,5 milhões, isto é, -26,2% em relação a abril e -2,1% na comparação anual). A retração é decorrente, em grande medida, à repercussão do foco de influenza aviária (H5N1) no Rio Grande do Sul, que resultou em embargos temporários de alguns países, mesmo com Santa Catarina mantendo o status de zona livre da doença. No acumulado de janeiro a maio, no entanto, o desempenho segue positivo, foram 496,8 mil toneladas embarcadas (+5,5%) e US$ 1,02 bilhão em receitas (+13,6%) em relação ao mesmo período de 2024. O estado respondeu por 22,6% do volume e 24,5% do valor das exportações brasileiras no período.
SC tem melhor maio da história nas exportações de carne suína, apesar de recuo frente a abril
O estado exportou 59,2 mil toneladas de carne suína em maio de 2025, registrando queda de 8,5% em relação a abril, mas crescimento de 8,8% frente ao mesmo mês do ano passado. As receitas foram de US$ 147,5 milhões, redução de 5,3% no mês, porém alta expressiva de 20,4% na comparação anual. Os números representam o melhor desempenho para o mês de maio desde o início da série histórica, em 1997. No acumulado de janeiro a maio, o estado embarcou 299,4 mil toneladas e faturou US$ 726 milhões, com altas de 8,7% em volume e 18,1% em valor frente a 2024, ou seja, novo recorde para o período. Santa Catarina respondeu por 53% do volume e 53,4% da receita das exportações brasileiras de carne suína nos cinco primeiros meses do ano.
Leite: SC mantém 3ª posição nacional com leve alta na captação
Santa Catarina captou 790,7 milhões de litros de leite cru inspecionado no primeiro trimestre de 2025, alta de 0,8% frente ao mesmo período de 2024. Com isso, o estado manteve 12% de participação na produção nacional e segue como o terceiro maior captador de leite do país. Em maio, as exportações catarinenses de lácteos somaram 66 toneladas – crescimento de 200% em relação ao mesmo mês do ano anterior – e contribuíram para reduzir em 77% o déficit na balança comercial do setor. Já o preço médio pago ao produtor caiu para R$ 2,72/litro, recuo real de R$ 0,04 frente a abril. No atacado, os preços dos derivados apresentaram queda, com destaque para a mussarela (-2,7%) e o queijo prato (-4,2%). Já o leite em pó registrou leve alta no período. Por outro lado, os custos de produção apresentaram queda real, com o custo médio do leite em R$ 1,91/litro, 6% inferior ao de abril de 2024.
Veja no vídeo a apresentação completa do Boletim Agropecuário de Junho.
Fonte: Epagri