O nitrogênio (N) desempenha um papel essencial na nutrição da soja, destacando-se como o nutriente requerido em maior quantidade pela cultura. A fixação biológica do nitrogênio (FBN) é a principal fonte de suprimento do nitrogênio para a cultura da soja. Nesse contexto, bactérias pertencentes ao gênero Bradyrhizobium, desempenham um papel muito importante, pois ao estabelecerem a simbiose com as raízes da soja por meio dos pelos radiculares, formam os nódulos responsáveis pela FBN e, dependendo da eficiência, podem fornecer todo o nitrogênio que a soja necessita durante seu ciclo de desenvolvimento (Embrapa Soja, 2008). O nitrogênio é o elemento mais demandado pela cultura da soja, para cada tonelada de soja produzida, são necessários cerca de 80 Kg de nitrogênio, dos quais aproximadamente, 50 Kg são exportados nos grãos (Gitti et al., 2019).
O processo de inoculação é uma prática fundamental em áreas de primeiro ano de cultivo da soja, ou em locais onde a leguminosa não é cultivada há algum tempo, pois, as bactérias fixadoras de N2, possivelmente, apresentam-se em baixas populações ou até mesmo ausentes no solo. No entanto, mesmo em áreas onde a soja é cultivada regularmente, é vantajoso realizar o processo de inoculação a cada safra, durante a instalação da cultura no campo, seja via semente ou no sulco de semeadura (Prando et al., 2022). Pesquisas demonstram que a inoculação anual da soja com Bradyrhizobium em áreas tradicionais de cultivo proporciona um ganho médio de 8%, um retorno significativo em relação ao baixo custo do inoculante (Prando et al., 2020).
A coinoculação de Bradyrhizobium e Azospirillum em plantas de soja resulta em benefícios relevantes, incluindo uma nodulação mais abundante e precoce, juntamente com um aumento médio na produtividade de 16%, esse ganho é o dobro do obtido pela simples inoculação anual com Bradyrhizobium. A coinoculação resulta ainda, em melhorias em vários aspectos das raízes da soja, como aumento no número de ramificações, comprimento e densidade, bem como uma maior incidência e comprimento dos pelos radiculares, o que proporciona uma maior capacidade de absorção de água e nutrientes, além de uma superfície de raiz expandida que favorece a nodulação e a fixação biológica de nitrogênio (Prando et al., 2020).
De acordo com a Emater – RS, existem dois tipos de inoculantes: os turfosos e os líquidos, ambos se demonstram eficientes e sua escolha é opcional. Para garantir a qualidade da inoculação, os inoculantes devem conter uma ou duas estirpes recomendadas para a cultura da soja. Além disso, o inoculante deve apresentar uma concentração mínima de um bilhão de células de rizóbios viáveis por grama ou ml do produto até a data de vencimento, assegurando assim sua eficiência ao ser aplicado na emente ou no sulco de semeadura (Emater – RS). A seguir podemos observar os tipos de inoculantes, bem como sua forma de aplicação na cultura da soja.
Figura 1. Tipos de inoculantes (líquido e turfa) e formas de aplicação na cultura da soja.

Vários aspectos devem ser considerados no momento da inoculação, Gitti et al. (2019), destaca que devemos lembrar que os inoculantes são bactérias vivas, nesse sentido, as recomendações de manejo devem ser seguidas rigorosamente para evitar qualquer perda de viabilidade. Ao escolher o inoculante, é essencial adquiri-los de empresas idôneas, devidamente registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e garantir que estejam dentro do prazo de validade. O armazenamento e transporte dos inoculantes devem ser realizados sob condições adequadas de temperatura e arejamento, visto que altas temperaturas e exposição direta ao sol podem comprometer a viabilidade das bactérias.
Quando se realiza a prática da inoculação, recomenda-se fazê-la à sombra, mantendo o inoculante protegido de calor e luz solar, além disso, deve-se fazer a semeadura o mais rápido possível após a inoculação, principalmente se houver tratamento adicional com fungicida e micronutrientes, garantindo assim, a máxima eficiência da inoculação (Gitti et al., 2019). Para garantir uma melhor aderência dos inoculantes turfosos, recomenda-se umedecer a semente com 300 ml de água açucarada a 10% para cada 50 Kg de semente, além disso, é de extrema importância garantir uma distribuição uniforme do inoculante, seja ele turfoso ou líquido, em todas as sementes para que o benefício da fixação biológica do nitrogênio seja obtido em todas as plantas cultivadas na lavoura (Embrapa, 2008).
Recomenda-se ainda a aplicação de nutrientes, o cobalto (Co) e o molibdênio (Mo) são nutrientes indispensáveis para garantir a eficiência da fixação biológica do nitrogênio (FBN), as recomendações técnicas sugerem a aplicação de 2 a 3 gramas de Co e 12 a 15 gramas de Mo por hectare, seja via semente ou por meio de aplicação foliar, durante os estádios de desenvolvimento V3 a V5 da soja (Gitti et al., 2019).
Para que a FBN seja eficiente na cultura da soja, é preciso garantir que as bactérias inoculadas tenham condições favoráveis para sobreviver e estabelecer a simbiose com a planta. Nogueira & Hungria (2014) destacam que a implementação de boas práticas de inoculação é importante, garantindo a sobrevivência das bactérias e, consequentemente, aumentando a eficiência da fixação biológica de nitrogênio. Tais práticas, incluem a adoção de um sistema de semeadura direta com qualidade, reduzindo as variações de temperatura e umidade no solo, criando um ambiente favorável para as bactérias. Além disso, a calagem e adubação adequadas também são aliadas importantes da FBN.
Os autores destacam ainda que a calagem contribui para maior eficiência da FBN, neutralizando a acidez excessiva do solo, que pode ser prejudicial nesse processo, além de fornecer cálcio (Ca) para o desenvolvimento das raízes e nódulos. Além disso, o fósforo (P) também é essencial, visto que a fixação biológica de nitrogênio é um processo que requer altos níveis de energia na forma de ATP, qualquer deficiência nutricional que afete a planta, também afetará esse processo. Vale ressaltar que o nitrogênio (N) mineral, em doses acima de 20 kg ha-1, inibe a nodulação e a fixação biológica de nitrogênio (Hungria & Nogueira, 2014).
Pesquisas realizadas pela Embrapa mostram os resultados do trabalho de boas práticas de inoculação e coinoculação da soja na safra 2021/2022, conduzidas em 47 URs em lavouras comerciais em 43 municípios do Paraná, onde observou-se em média um incremento no número de nódulos de 29,3% e no rendimento de grãos de 12,3% pela prática da coinoculação, estima-se que o retorno médio obtido pela adoção da coinoculação foi de R$ 935,64 ha-1. Abaixo podemos observar o resumo dos resultados obtidos nas safras 201/17 até 2021/22 com a coinoculação de soja com Bradyrhizobium + Azospirillum.
Figura 2. Resumo dos resultados das Unidades de Referência (URs) sobre coinoculação de soja com Bradyrhizobium + Azospirillum em áreas de produtores assistidos pelo IDR-Paraná, nas safras 2017/2018, 2018/2019, 2019/2020, 2020/2021 e 2021/2022.

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Referências:
EMATER. INOCULAÇÃO E REINOCULAÇÃO EM SOJA: TECNOLOGIAS QUE CONTRIBUEM PARA O AUMENTO DA PRODUVIDADE. Emater – RS. Disponível em: < https://www.soloeagua.rs.gov.br/upload/arquivos/201608/03170709-inoculacao-e-reinoculacao-em-soja.pdf >, acesso em: 02/10/2023.
EMBRAPA SOJA. TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA – REGIÃO CENTRAL DO BRASIL 2009 E 2010. Sistemas de Produção 13, Londrina – PR, 2008. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/471536/1/Tecnol2009.pdf >, acesso em: 02/10/2023.
GITTI, D. C. et al. MANEJO E FERTILIDADE DO SOLO PARA A CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção: Safra 2018/2019, cap. 1, Fundação MS. Maracaju – MS, 2019.Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 02/10/2023.
NOGUEIRA, M. A.; HUNGRIA, M. BOAS PRÁTICAS DE INOCULAÇÃO EM SOJA. Atas e Resumos, 40° Reunião de Pesquisa da Soja da Região Sul. Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS, 2014. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1020357/1/BoasPraticasdeInoculacao.pdf >, acesso em: 02/10/2023.
PRANDO, A. M. et al. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium E Azospirillum NA SAFRA 2021/2022 NO PARANÁ. Embrapa, Circular técnica 190. Londrina – PR, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1150565/1/Circ-Tec-190.pdf >, acesso em: 02/10/2023.
PRANDO, A. M. et al. COINOCULAÇÃO DA SOJA COM Bradyrhizobium E Azospirillum NA SAFRA 2019/2020 NO PARANÁ. Circular técnica 166, Embrapa. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/220542/1/CIrc-Tec-166.pdf >, acesso em: 02/10/2023.
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