Mesmo com os avanços no campo dos bioinsumos, a adubação das culturas agrícolas ainda é crucial para a obtenção de boas produtividades. Ainda que a utilização de bioinsumos como bactérias benéficas tenha contribuído para reduzir a necessidade da adubação nitrogenada no milho, por se tratar de um macronutriente requerido em grandes quantidades, a adubação do milho com Nitrogênio ainda se faz necessária.
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O Nitrogênio é o nutriente mais requerido pelo milho, o qual responde positivamente ao incremento da adubação nitrogenada. Contudo, mesmo com respostas positivas significativas, para melhorar a eficiência do uso desse nutriente pela planta, aumentando a produtividade, é necessário o adequado posicionamento da adubação com nitrogênio na cultura do milho.
Além da expectativa de produtividade, a exigência de Nitrogênio pela planta varia em função do ciclo de desenvolvimento do milho, havendo períodos estratégicos em que a adubação nitrogenada contribui expressivamente para o aumento da matéria seca e enchimento de grãos da cultura.
Na cultura do milho, a absorção de nutrientes ocorre em dois períodos distintos, o primeiro ocorre durante o desenvolvimento vegetativo, geralmente entre os estádios V12 a V18, quando o potencial de grãos está sendo estabelecido. O segundo período de maior demanda, ocorre durante a fase reprodutiva, especialmente durante a formação da espiga, quando o potencial produtivo da planta é atingido (Coelho, 2006).
Figura 1. Marcha de absorção de Nitrogênio em milho.
Vale destacar que, embora o comportamento expresso na figura 1 sirva como base da absorção de Nitrogênio pelo milho, a extração e exportação desse nutriente pode variar de acordo com o híbrido. Além disso, ao definir a dose de Nitrogênio a ser aplicada, além da expectativa de produtividade, deve-se considerar o teor de matéria orgânica do solo, cultura antecessora e palhada, com base nas recomendações técnicas para a região de cultivo.
Contudo, é consenso que a fim de melhor aproveitamento do nutriente e redução das perdas por lixiviação e volatilização, deve-se evitar a adição de elevadas doses de Nitrogênio na semeadura (sulco). Dependendo das interações entre fatores (clima, solo e ambiente), perdas de N por volatilizações superiores a 50% podem ocorrer (Ribeiro et al., 2020).
Épocas de aplicação de Nitrogênio em milho
No geral, as recomendações de manejo estabelecem que, para a produção de grãos e/ou sementes, deva-se aplicar de 20 e 40 kg ha⁻¹ de N na semeadura quando realizada sobre resíduos de gramíneas, e entre 10 e 20 kg ha⁻¹ de N quando sobre resíduos de leguminosas. A antecipação da adubação nitrogenada em cobertura para os estádios fenológicos de três a cinco folhas (V3 a V5) no Sistema Plantio Direto tem demonstrado impactos positivos na produtividade. Além disso, o fracionamento da adubação nitrogenada é recomendado quando a dose de N a ser aplicada é elevada, podendo-se distribuir 50% da dose nos estádios fenológicos V4 a V6 e os 50% restantes nos estádios V8 a V9 (Eicholz, et al., 2020).
Além disso, quando a densidade de plantas excede 65.000 plantas por hectare, é aconselhável aumentar a dose de nitrogênio em 10 kg ha-1 para cada acréscimo de 5.000 plantas ha-1. Em lavouras de milho que visam rendimentos superiores a 10 toneladas por hectare, recomenda-se um aumento na dose de nitrogênio em uma faixa de 20 a 40% (Eicholz et al., 2020).
Por que fracionar a adubação nitrogenada ?
Além de reduzir as perdas por lixiviação e volatilização, o fracionamento das doses de Nitrogênio, principalmente quando se trabalha com elevadas doesse, contribui para a melhoria da disponibilidade do nutriente em períodos essenciais para o metabolismo do milho.
Não menos importante, o fracionamento da adubação nitrogenada contribui para o melhor aproveitamento do Nitrogênio pela planta em períodos determinantes da formação da produtividade, como é o caso dos períodos da adubação em cobertura com nitrogênio.
No estádio V3, todas as folhas e espigas que a planta eventualmente produzirá estão em formação. Esse é um momento-chave, pois a definição do número máximo de grãos e, consequentemente, do potencial produtivo da cultura ocorre nessa fase (Magalhães & Durães, 2006).
Já no estádio V4, as folhas continuam seu desenvolvimento no meristema apical (ponto de crescimento), tornando essa fase estratégica para a aplicação de nitrogênio. A adubação nitrogenada nesse período é uma das práticas mais eficientes para potencializar a produtividade do milho. Em V6, inicia-se a definição do número de fileiras por espiga, um dos principais componentes da produtividade.
Entre V8 e V10, ocorre a diferenciação dos óvulos dentro das fileiras, etapa crucial para o potencial produtivo. Após V10, a planta entra em um período de crescimento acelerado, caracterizado por maior acúmulo de nutrientes e incremento na massa seca, preparando-se para a fase reprodutiva (Ribeiro et al., 2020).
Logo, considerando os aspectos observados, o fracionamento da adubação nitrogenada no milho é uma importante estratégia de manejo para maximizar a eficiência do uso do Nitrogênio, bem como proporcionar melhores condições nutricionais em momentos cruciais da formação dos componentes de produtividade, favorecendo o aumento do rendimento do milho.
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Referências:
COELHO, A. M. NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DO MILHO. Circular técnica 78, Embrapa. Sete Lagoas – MG, 2006. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPMS/19622/1/Circ_78.pdf >, acesso em: 01/04/2025.
EICHOLZ, E. D. MISOSUL: INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA O CULTIVO DO MILHO E SORGO NA REGIÃO SUBTROPICAL DO BRASIL: SAFRAS 2019/20 E 2020/21. Associação Brasileira de Milho e Sorgo, 2020. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/202011/23092828-informacoes-tecnicas-para-o-cultivo-do-milho-e-sorgo-na-regiao-subtropical-do-brasil-safras-2019-20-e-2020-21.pdf >, acesso em: 01/04/2025.
MAGALHÃES, P. C.; DURÃES, F. O. M. FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO DE MILHO. Embrapa, Circular Técnica, n. 76, 2006. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPMS/19620/1/Circ_76.pdf >, acesso em: 01/04/2025.
RIBEIRO, B. S. M. R. et al. ECOFISIOLOGIA DO MILHO: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, ed. 1, 2020.