O cultivo de plantas de cobertura, especialmente nos períodos de entressafra das culturas produtoras de grãos, é essencial para a sustentabilidade e a qualidade do sistema plantio direto (SPD). Como esse sistema se baseia na premissa da cobertura permanente do solo, as plantas de cobertura desempenham um papel crucial na sua manutenção, promovendo a produção de palhada e seus diversos benefícios agronômicos.

Além de minimizar o impacto das gotas de chuva, reduzindo significativamente a erosão superficial, a palhada residual contribui para a estabilidade térmica do solo, atenuando sua amplitude térmica. Também auxilia na supressão de plantas daninhas fotoblásticas positivas, dificultando sua emergência, e na redução da evaporação da água do solo, garantindo melhor retenção hídrica e maior eficiência no uso da água.

Muitas espécies de plantas de cobertura atuam como recicladoras de nutrientes. Elas absorvem elementos essenciais das camadas mais profundas do solo e os acumulam em sua biomassa. Com a degradação e mineralização da palhada, esses nutrientes são gradativamente liberados para a cultura sucessora, promovendo maior disponibilidade nutricional e, consequentemente, impactando positivamente a produtividade da lavoura.

Outro benefício relevante das plantas de cobertura é a melhoria da qualidade do solo. Além de estimular o desenvolvimento da fauna edáfica do solo, os resíduos vegetais no sistema de produção contribuem significativamente para o aumento do teor de matéria orgânica do solo.


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A elevação da matéria orgânica no solo ocorre por meio da deposição de resíduos orgânicos, especialmente os de origem vegetal (Pillon; Mielniczuk; Martin Neto, 2002). Entre as estratégias mais eficazes para incrementar os teores de matéria orgânica, destaca-se o cultivo de plantas de cobertura com alta produção de palhada residual.

Contudo, a escolha dessas espécies frequentemente é baseada apenas na produção de matéria seca da parte aérea, sem considerar a contribuição do sistema radicular, que também desempenha um papel fundamental na adição de matéria orgânica ao solo. Assim como a parte aérea da planta, a matéria seca produzida pelas raízes contribui significativamente para o aumento dos teores de matéria orgânica no solo. De acordo com Bordin et al. (2008), a contribuição das raízes ao aporte orgânico das culturas no solo é de 23% a 45% da matéria seca da parte aérea, conforme a cultura e o manejo utilizado.

Além dos benefícios para e melhoria dos teores de matéria orgânica do solo, os diferentes sistemas radiculares no sistema de rotação de culturas contribui para a melhoria de atributos físicos do solo, favorecendo o aumento da taxa de infiltração de água no solo, redução da compactação física e também aeração do solo, visto que há a formação de galerias no solo pelo sistema radicular das plantas.

Figura 1. Raízes de culturas produtoras de grãos e de cobertura, da esquerda para a direita são raízes de milheto, sorgo, milho, braquiária, soja, centeio e trigo.
Fonte: Fonte: Embrapa Trigo, citado por Moraes et al. (2016)

A reciclagem de nutrientes no solo é fortemente influenciada pelo sistema radicular das plantas de cobertura. Conforme destacado por Tiecher (2016), a quantidade de nutrientes presentes nas raízes, especialmente o nitrogênio, é frequentemente subestimada nos sistemas de cultivo. Isso ocorre porque se presume que as raízes contenham apenas pequenas quantidades desse nutriente, estimadas em 10-15% do nitrogênio total da planta. No entanto, pesquisas indicam que, no caso da ervilhaca, as raízes podem representar até 26% do nitrogênio total da planta, e, dependendo da espécie, esse percentual pode chegar a 40%.

Diante disso, o posicionamento das plantas de cobertura ou das culturas a serem inseridas no sistema de rotação deve ir além da aptidão agronômica e da produção de palhada. É essencial considerar também, a produção de matéria seca das raízes, priorizando espécies que apresentem elevada biomassa tanto na parte aérea quanto no sistema radicular.

A seguir, confira a produção de matéria seca, o acúmulo de carbono e a concentração de nitrogênio no sistema radicular de diferentes culturas de cobertura utilizadas no SPD.

Tabela 1. Produção de matéria seca (MS) e acúmulo de carbono (C) e nitrogênio (N) de raízes das principais espécies de plantas de cobertura de solo utilizadas em sistemas de culturas na Região Sul do Brasil.
1Total de MS de raízes livre de cinzas coletadas no pleno florescimento das plantas em cultivo solteiro (0-20 cm). RF = Raízes finas (1<Ø<2 mm). Espécies de Fabaceae conduzidas com fertilidade natural do solo e espécies de Poaceae de acordo com recomendações da CQFS – RS/SC, 2004. Fonte: Redin (2008, 2010, 2014), apud. Tiecher (2016)

Veja mais: Azevém no sistema Integração Lavoura-Pecuária


Referências:

BORDIN, I. et al. MATÉRIA SECA, CARBONO E NITROGÊNIO DE RAÍZES DE SOJA E MILHO EM PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.43, n.12, p.1785-1792, dez. 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pab/a/jSkKdJ4Vp6DFXx8BXpnr6zz/?lang=pt >, acesso em: 19/03/2025.

MORAES, M. T. et al. BENEFÍCIOS DAS PLANTAS DE COBERTURA SOBRE AS PROPRIEDADES FÍSICAS DO SOLO. UFRGS. Manejo e conservação do solo e da água em pequenas propriedades rurais no sul do Brasil: práticas alternativas de manejo visando a conservação do solo e da água, cap. II, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149123/001005239.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 19/03/2025.

PILLON, C. N. MIELNICZUK, J.; MARTIN NETO, L. DINÂMICA DA MATÉRIA ORGÂNICA NO AMBIENTE. Embrapa, Documentos, n. 105, 2002. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/32409/1/documento-105.pdf >, acesso em: 19/03/2025.

TIECHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. Porto Alegre, UFRGS, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/handle/10183/149123 >, acesso em: 19/03/2025.

 

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