O Brasil deve permanecer expandindo a área a ser cultivada com trigo em 2023. Com condições climáticas favoráveis, a produção brasileira pode superar 12 milhões de toneladas.
O primeiro levantamento de intenção de plantio para a safra 2023/24 de trigo sinaliza para um novo incremento de área. As terras cobertas com lavouras de trigo devem chegar a 3,465 milhões de hectares, um avanço de 5,1% em relação aos 3,297 milhões de hectares da temporada anterior, afirmou o analista de SAFRAS & Mercado, Elcio Amarildo Bento, durante o 5o SAFRAS Agri Week.
Os principais fatores apontados como motivadores para uma maior aposta no trigo são o atraso da colheita da soja, o custo de produção menor e a consequente expectativa de margens melhores devido à manutenção de preços firmes. Em regiões em que o trigo compete com o milho safrinha, o atraso da soja deixou a janela do plantio de milho apertada. Assim, muitos produtores vão optar pelo cereal de inverno.
Isso deve ocorrer no Paraná. Porém, o estado tem uma particularidade: o milho safrinha é plantado em municípios mais ao norte. Na safra passada, o milho roubou área de trigo. Neste ano, o movimento deve ser contrário. Na metade sul, onde não é possível o plantio do milho safrinha, as áreas plantadas no ano passado foram grandes, inclusive em municípios que não tem tradição em plantio. Na próxima temporada, é possível que haja um leve declínio, isso pois uma nova planta industrial deve demandar cevada a partir do final do ano. Sendo assim, esse outro cereal de inverno pode ter o plantio incentivado por contratos fechados diretamente com a indústria. A estimativa é de um aumento estadual de 4,5% na área.
No Rio Grande do Sul, os últimos anos foram muito bons em termos de preços, produtividade e qualidade. A abertura das exportações garantiu liquidez ao cereal, inclusive com negócios antecipados. Assim, os gaúchos falam em um aumento de 5% da área. A venda de semente está em bom ritmo e é mais um fator que respalda a expectativa de aumento de área.
Segundo estimativa de SAFRAS & Mercado, o potencial de produção, considerando uma produtividade dentro da normalidade e sem percalços climáticos, deve chegar a 12,07 milhões de toneladas, superando em 525 mil toneladas a safra anterior. O Rio Grande do Sul seguirá sendo o maior produtor, com um potencial de 6,250 milhões de toneladas (+4,0%), seguido pelo Paraná com 4,080 milhões de toneladas (4,6%), Santa Catarina com 473 mil toneladas (2,8%), São Paulo 455 mil toneladas, Minais Gerais 400 mil toneladas, Goiás/DF com 230 mil toneladas, Bahia com 100 mil toneladas e Mato Grosso do Sul com 82 mil toneladas. O maior temor em relação à possíveis perdas de produção é o período crítico de sensibilidade a geadas (floração e enchimento de grãos).
Com o fenômeno La Niña dando lugar ao El Niño, a expectativa é de um inverno menos rigoroso. Por outro lado, o alerta fica para a possibilidade de maior ocorrência de chuva no período da colheita. As chuvas podem não trazer grandes impactos sobre a quantidade produzida, mas afetam a qualidade, a exemplo do que aconteceu no Paraná esse ano.
“Para este ano, há um excesso de oferta no trigo russo, uma safra brasileira bastante volumosa e uma Argentina extremamente prejudicada pela estiagem”, afirma Elcio. Considerando a temporada 2022/23, foi um período de quebras significativas, especialmente na Ucrânia e Argentina. No leste europeu, as perdas foram causadas pelo conflito com os russos, que dificultou o manejo da cultura.
Autor/Fonte: Pedro Carneiro / Agência SAFRAS
Edição: Dylan Della Pasqua / Agência SAFRAS