A ocorrência de plantas daninhas é uma das principais responsáveis pela redução de produtividade e qualidade das culturas, pois competem por recursos essenciais, como água, luz e nutrientes. Entre essas plantas daninhas, destaca-se a buva (Conyza spp.), que pode apresentar um grande desafio quando presente em áreas de cultivo. Conforme Almeida & Ferrão (2022), dentre as principais culturas cultivadas no mundo, cerca de 34% das perdas de produtividade são por interferência de plantas daninhas. A presença de buva (Conyza spp.), pode reduzir a produtividade entre 12 e 14,6% na cultura da soja.
Figura 1. Buva (Conyza spp.).

De acordo com HRAC-Brasil (2021), a buva destaca-se com uma das plantas daninhas mais encontradas no mundo, tendo como principais espécies a Conyza bonariensis, Conyza canadensis e Conyza sumatrensis. Apresenta ampla adaptabilidade e sua dispersão ocorre exclusivamente por meio de sementes presentes no fruto do tipo aquênio, uma planta pode produzir um impressionante número de sementes, variando de 100 a 200 mil, chegando até mesmo a ultrapassar 300 mil. A buva tem a capacidade de disseminar-se pelo vento, além de poder ser transportada através das máquinas, como tratores e colheitadeiras, o que contribui para a dispersão e disseminação de sementes aumentando a ocorrência nas lavouras.
Segundo Albrecht & Albrecht (2021), a buva apresenta sementes fotoblásticas positivas, germinando apenas na presença de luz, sendo que a temperatura ótima para germinação, entre 15 e 20° C, não toleram áreas com muita umidade e as sementes mais próximas a superfície do solo apresentam mais chance de germinarem em comparação a que estão em maior profundidade no solo. De acordo com Dauer et al. (2007), a dispersão das sementes pelo vento pode alcançar distâncias consideráveis, ultrapassando 500 metros. No entanto, observa-se que a grande maioria dessas sementes, cerca de 99%, é encontrada em um raio de apenas 100 metros a partir da planta-mãe.
Vargas et al. (2007), afirmam que a buva é uma espécie de planta anual nativa da América do Sul, ocorrendo na Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil. Conforme Albrecht & Albrecht (2021), a buva é um gênero com espécies amplamente adaptáveis, de grande diversidade genética e complexa identificação morfológica na diferenciação entre espécies. A identificação correta das espécies é fundamental ao escolher a melhor estratégia de controle, a principal diferença entre as espécies é a inserção das inflorescências e a margem das folhas, confira a seguir, a principais diferenças morfológicas entre as plantas do gênero Conyza.
Tabela 1. Principais diferenças morfológicas entre plantas do gênero Conyza.

É uma das espécies de plantas daninhas mais importantes nas lavouras brasileiras, de acordo com Silva et al., (2018), a buva tem ocasionado preocupações e prejuízos aos agricultores do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, grandes estados produtores de soja, milho e trigo. No Brasil, o primeiro caso de resistência à herbicidas para buva foi registrado em 2005, sendo resistência ao glyphosate, nas espécies de C. bonariensis e C. canadenses. Oliveira Júnior et al. (2011), afirmam que o glyphosate é o herbicida mais utilizado e estudado no mundo, principalmente pelo seu amplo espectro de ação e pelo fato de apresentar eficácia no controle de invasoras de difícil manejo.
A resistência de plantas daninhas a herbicidas pode ser definida como a capacidade inerente e herdavel de determinados biótipos, dentro de uma população, de sobreviver e se reproduzir após a exposição a doses de herbicidas que seriam letais a indivíduos normais/suscetíveis da mesma espécie. A buva apresenta características distintas, como a resistência múltipla a diversos mecanismos de ação de herbicidas, bem como uma adaptabilidade notável e ampla distribuição geográfica que contribuem para que isso ocorra. A seguir, na tabela 2, são apresentados casos de resistência dessa planta.
Tabela 2. Casos de resistência de buva encontrados no Brasil, segundo Heap, 2021.

Um estudo realizado por Fornarolli et al. (2010), observou a interferência da presença de buva (Conyza bonariensis) no rendimento de grãos na cultura da soja, onde o aumento da densidade da espécie, reduziu significativamente o estande, o número de vagens e o rendimento de grãos. O aumento da densidade de plantas de buva por metro quadrado reduziu de 32 para 25 plantas m2, com relação ao número de vagens, reduziu-se de 39 para 23 vagens por planta. Em relação ao rendimento de grãos, observou-se que com a presença de até 6 plantas de buva m2 o rendimento foi em torno de 2500 a 3000 kg ha-1, de sete a quinze plantas de buva m2 em torno de 2000 kg ha-1 e de vinte a cinquenta plantas de buva m2 de 1500 a 500 kg ha-1.
Figura 2. Rendimento de grãos de soja em função do número de plantas de Conyza bonariensis por m2.

A buva (Conyza spp.) é uma planta daninha desafiadora, devido à sua resistência a vários herbicidas, alta produção de sementes e facilidade de dispersão. Para controlar essa planta daninha, torna-se fundamental adotar um manejo integrado com técnicas diferenciadas. A aplicação repetida de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação pode favorecer a ocorrência de casos de resistência, por isso, a rotação de culturas surge como uma estratégia substitutiva, permitindo a utilização de herbicidas com diferentes mecanismos de ação na área de cultivo.
O uso racional de herbicidas é essencial para evitar o desenvolvimento de novos casos de resistência. Além disso, outras medidas complementares podem ser adotadas para o controle da buva na lavoura. Ações como evitar a introdução e disseminação de sementes, optando por sementes certificadas, e realizar uma limpeza adequada de maquinários para evitar o transporte de sementes entre áreas de cultivo. O manejo mecânico também pode ser implementado sempre que possível, assim como o uso de plantas de cobertura para dificultar a germinação das sementes daninhas. Além disso, o manejo entressafra é uma estratégia relevante, pois o controle com o uso de herbicidas mostra-se mais eficiente quando as plantas daninhas se encontram em níveis iniciais de desenvolvimento.
Veja mais: Plantas de cobertura como aliadas no manejo de plantas daninhas
Referências:
ALBRECHT, A. J. P.; ALBRECHT, L. P. MAPEAMENTO DA BUVA (Conyza spp.) COM RESISTÊNCIA A HERBICIDAS. Informe Técnico, Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas -HRAC – BR, 2021. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1z8bw67vkeWifv-QhU1aIUqSu-sQe0O7T/view >, acesso em: 24/07/2023.
ALMEIDA, E. I. B.; FERRÃO, G. E. FUNDAMENTOS EM BIOLOGIA E MANEJO DE PLANTAS DANINHAS. São Luis – EDUFMA, 2022. Disponível em: < https://www.edufma.ufma.br/wp-content/uploads/woocommerce_uploads/2022/11/Livro-completo.pdf >, acesso em: 24/07/2023.
DAUER, J. T.; MORTENSEN, D. A.; VANGESSEL, M. J. DINÂMICA TEMPORAL E ESPACIAL DA DISPERSÃO DE SEMENTES DE Conyza canadenses A LONGA DISTÂNCIA. Jornal de Ecologia Aplicada, v.44, ed.1, p. 105-114, 2006. Disponível em: < https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1365-2664.2006.01256.x >, acesso em: 24/07/2023.
FORNAROLLI, D. A.; RIBEIRO, C. A.; SANTOS, B. C. S.; GAZZIEIRO, D. L. P. INTERFERÊNCIA DA ESPÉCIE Conyza bonariensis NO RENDIMENTO DE GRÃOS NA CULTURA DA SOJA. XXVII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas – Ribeirão Preto – SP, 2010. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/34263/1/31246.pdf >, acesso em: 24/07/2023.
OLIVEIRA JR, R. S.; CONSTANTIN, J; INOUE, M. H. BIOLOGIA E MANEJO DE PLANTAS DANINHAS. Omnipax, 348 p., Curitiba – PR, 2011. Disponível em: < http://www2.ufpel.edu.br/prg/sisbi/bibct/acervo/biologia_e_manejo_de_plantas_daninhas.pdf >, acesso em: 24/07/2023.
SILVA, A. F. M.; ALBRECHT, A. J. P.; ALBRECHT, L. P. BUVA (Conyza sumatrensis) COM RESISTÊNCIA À HERBICIDAS NA REGIÃO OESTE DO ESTADO DO PARANÁ. Supra Pesquisa, 2018. Disponível em: < https://b73f4c7b-d632-4353-826f-b62eca2c370a.filesusr.com/ugd/48f515_823263dc77244a839d004ee27046e77a.pdf >, acesso em: 24/07/2023.
VARGAS, L.; BIANCHI, M. A.; RIZZARDI, M. A.; AGOSTINETTO, D.; DAL MAGRO, T. BUVA (Conyza bonariensis) RESISTENTE AO GLYPHOSATE NA REGIÃO SUL DO BRASIL. Planta Daninha, v.25, n.3, p.573-578, Viçosa – MG, 2007. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/hGWJxhMh6R8FprV8L7W3pcR/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 24/07/2023.
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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.