Ao longo da atual gestão, a Caixa Econômica Federal pretende disponibilizar cerca de R$ 50 bilhões em crédito para o financiamento rural. O anúncio foi feito nesta terça-feira pelo presidente da instituição, Pedro Guimarães, que participou da videoconferência “Novas Linhas de Financiamento para o Agro”, organizada pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

Atualmente, o saldo da carteira de agronegócios da instituição é de R$ 6.8 bilhões. Para a safra 2020/21, serão disponibilizados R$ 12.1 bilhões. O aumento é de 7% do valor em relação à temporada passada. “Vamos focar nos créditos de longo prazo, com juros diferenciados, incluindo os financiamentos para a agricultura familiar, que já dispõe de R$ 2 bilhões”, disse Guimarães.

Além disso, o executivo afirmou que o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) receberá apoio direto da Caixa, com uma rede exclusiva de assistência técnica e extensão rural. Guimarães acrescentou que esse apoio será estendido ao programa de financiamento para custeio e investimentos de médios produtores (Pronamp).

Ele disse ainda que a Caixa está liderando, em parceria com o Sebrae, o financiamento às micro e pequenas empresas no Brasil, e dispõe de R$ 10 bilhões para o segmento. “Teremos um papel diferenciado no financiamento do agronegócio, mas daremos um passo de cada vez, com crescimento rápido e contínuo”.

Condições e taxas

O sistema de crédito do banco, já disponível, oferece financiamento para a safra 2020/21 pelo prazo máximo de 15 anos, com três anos de carência. Há novas linhas para investimentos com recursos livres captados por meio de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), com variação de juros de acordo com o prazo de pagamento.

O financiamento poderá ser feito pelo período de 60 a 180 meses, com taxas entre 7,30% a 8,75%. No caso das linhas com recursos obrigatórios, os juros para custeio e comercialização serão a partir de 3,5% ao ano, e para investimentos no Pronamp, de 4,8% ao ano.

Os recursos poderão ser aplicados na construção de armazéns, galpões e silos; aquisição de tratores, pulverizadores, colheitadeiras; projetos de irrigação e correção do solo, aquisição de animais, entre outros.

Guimarães mencionou que o novo sistema tem como benefícios o custo de oportunidade vantajoso, o ganho de produtividade, a maximização de resultados e a agilidade na liberação de recursos.

Revisão de fundos

No encontro, o presidente da Caixa defendeu também a revisão dos fundos constitucionais que destinam recursos para o setor produtivo. “Esses fundos atualmente têm 3% de taxa de gestão e 3% de risco de crédito. Se tivermos um fundo diferenciado e uma garantia implícita de risco de crédito, conseguiremos maior participação no agro”.

“Temos de trabalhar esses fundos constitucionais. O agro precisa saber, por meio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e da CNA, como acessar esses fundos. É um dever de casa que nós temos de fazer”, declarou o presidente da SNA, Antônio Alvarenga.

Carências

Empresários e representantes de instituições do setor, presentes à videoconferência, apresentaram propostas para incentivar e ampliar o sistema de financiamento da Caixa.

O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, lembrou que atualmente o agro brasileiro é muito mais eficiente e competitivo, mas sempre precisou de recursos. “Nossa expectativa é de que a Caixa atenda da melhor forma às necessidades dos produtores”, disse.

Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB (Organização das Cooperativas do Brasil), observou que o crédito rural oficial não atende a 30% da necessidade de financiamento global do agro, e que o modelo baseado em subsídios ainda é o tradicional e precisa mudar. Lopes também defendeu uma participação maior das cooperativas neste setor.

Agroindústria

Jacyr da Costa Filho, presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que “a agroindústria pode ser um canal importante para dar mais amplitude corporativa à Caixa na distribuição de recursos para algumas cadeias produtivas como a da cana-de-açúcar e a do leite”.

Para João Sampaio, Diretor de Relações Institucionais da Minerva Food, a Caixa poderia ser uma grande parceira para financiar, com a ajuda da tecnologia, a melhoria e a construção de aviários junto a cooperativas e empresas. “Isso irá favorecer, no longo prazo, a melhoria do bem-estar animal e o incremento da eficiência e da produtividade”, afirmou o executivo.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, destacou que a fruticultura irrigada é importante para melhorar as condições socioeconômicas de muitos brasileiros, principalmente os do semiárido nordestino, e solicitou à Caixa uma gerência melhor dos fundos de financiamento, para que sejam mais ágeis e gerem mais concorrência.

Importância dos solos

Walter Horita, grande produtor de algodão, defendeu a renovação automática do custeio para produtores, o investimento em armazéns, o financiamento de máquinas e equipamentos de alta tecnologia e os sistemas de correção do solo que, segundo ele, são de máxima importância para a garantia de crescimento da produtividade. “O produtor está um pouco defasado em relação a isso. O solo nutrido responde melhor à produção”.

Por sua vez, o presidente da SNA ressaltou a importância do financiamento da recuperação dos solos degradados no País. “Essas terras precisam ser incorporadas ao processo produtivo”, disse.

Cana e etanol

Ao destacar o setor sucroenergético, Alexandre de Morais Andrade, presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), falou sobre os esforços de algumas cooperativas de produtores em reabrir unidades industriais em Alagoas e outros estados.

“O produtor precisa agregar valor e não trabalhar somente com o setor primário, mas há dificuldades em conseguir recursos”, ressaltou Andrade. “A Caixa deveria abrir uma discussão com novas cooperativas para propiciar seu funcionamento”.

Já Evandro Gussi, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) disse que o setor utiliza, de forma sustentável, processos totalmente mecanizados nas atividades de colheita e processamento da cana, e ressaltou que o atual desafio “é estabelecer a sustentabilidade como negócio”.

Nesse contexto, Gussi lembrou que o programa RenovaBio (política nacional de biocombustíveis), já cumpre essa função. “O etanol reduz em até 90% a emissão de carbono”. Para ele, “estruturar créditos com base em carbono e também em estoques, respeitando a matemática financeira e os processos operacionais” são caminhos a serem seguidos.

Ano-calendário

O presidente da feira de máquinas agrícolas Agrishow Francisco Maturro, comentou sobre a falta de recursos do Plano ABC e solicitou à Caixa a elaboração de um ano-calendário para a safra brasileira, de janeiro a dezembro, em substituição ao modelo tradicional que, segundo Maturro, “foi adotado quando a agricultura fazia uma safra por ano”.

Para o presidente da Agrishow, o modelo antigo (de 1º de julho a 30 de junho) não atende ao contexto atual. Maturro também sugeriu à Caixa uma atenção melhor à capacitação de pessoal especializado para o atendimento dos clientes do agronegócio.

Participação

Ainda durante o encontro, o presidente da Caixa ressaltou a importância da participação dos diversos setores do agro na sugestão e elaboração de propostas junto à instituição financeira, e disse que “as parcerias podem gerar produtos estruturados”. Guimarães afirmou ainda que a Caixa irá analisar todas as sugestões e que promoverá outros contatos com instituições e empresas.

Assista, a seguir, na íntegra, a videoconferência com Pedro Guimarães.

Fonte: SNA

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