A tese de que o calcário está entre uma das principais tecnologias agrícolas para a ampliação da produtividade ganha corpo. Estudo da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) aponta a importância do corretivo de acidez também para a técnica da Integração Lavoura-Pecuária.
O resultado vai além do rendimento financeiro. O estudo mostra que a conservação do solo também tem sido incrementada, quando há aplicação de calcário.
A medida se insere na profissionalização do agronegócio brasileiro. Os empreendimentos se tornam mais rentáveis com a visão conservacionista. Em São Paulo, por exemplo, a busca por informações que relacionem o calcário ao combate à erosão de solo tem sido intensa, segundo estudo de entidades do setor.
O estudo ocorreu no Mato Grosso, dono do maior rebanho bovino do Brasil, com 31,7 milhões de cabeças. Isso corresponde a 14,8% do total nacional. Ao mesmo tempo, o estado ainda é uma das frentes agrícolas mais importantes, fruto dos investimentos em pesquisa e tecnologia e da utilização de insumos de alta qualidade.
O Brasil, com 215 milhões de cabeças de gado, tem posições no ranking que impressionam: detém o segundo maior rebanho mundial e é o principal exportador de carne bovina.
Pastos em más condições
O entrave ocorre quando perto de 11 milhões de hectares de pasto estão em más condições. Os números são do IBGE. As causas para esse cenário vão da retirada total da cobertura vegetal das áreas produtivas e da deficiência na fertilidade do solo até o chamado “superpastejo” – quando a quantidade de animais é superior à capacidade do pasto.
O superpastejo traz resultados ruins. Reduz a rebrota e a cobertura do solo, aumentando a incidência de radiação e erosão.
A valorização da calagem nas áreas dedicadas ao sistema de integração lavoura-pecuária tem se mostrado uma medida eficaz em prol do ganho de produtividade e à conservação do solo no Mato Grosso.
Investir no solo também
O professor Anderson Lange, doutor em Energia Nuclear da Agricultura na área de Solos e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), defende uma nova postura. “Muitas vezes, o produtor rural investe nos animais, mas subdimensiona os cuidados com o pasto. Essa conduta coloca em risco o rebanho em períodos de seca, quando não há chuvas. Caso não haja uma diversificação na alimentação do animal, o risco de perdas torna-se maior”, alerta Lange.
Dentre vários fatores, a falta de investimento no solo reduz a efetividade no aproveitamento da área.
O estudo fez um perfil da região norte do Mato Grosso. Campeã em número de animais disponíveis no estado, as pastagens são caracterizadas em sua maioria por áreas planas, passíveis de lavoura e da integração nos períodos de seca. Há um emprego em expansão da prática da conversão de áreas antigas de pastagens em lavoura, com a possibilidade do uso da integração lavoura-pecuária em larga escala.
Gerou a “terceira safra”
Isso gerou a chamada “terceira safra” de carne, com duas safras de grãos e uma destinada à produção pecuária. Há aproveitamento permanente do solo. O capim ainda melhora o perfil do solo nos aspectos químicos e físicos.
O professor Lange diz que tudo isso acontece em função da manutenção e melhoria das condições do solo, com a larga utilização do calcário no preparo para o plantio da lavoura, visto que ela estará em área de pastagem antiga.
O planejamento financeiro é importante. O pesquisador observa que, em parte dos casos, o produtor rural está descapitalizado – a abertura de área representa um custo alto. A construção do perfil de solo e a correção da acidez são afetadas.
“Geralmente, nesses casos, as doses de calcário são inadequadas em relação às características do solo e a incorporação do insumo acaba não sendo efetuada com assertividade”, alerta.
Calagem é investimento
Lange reforça que a calagem e a fertilização, quando feitas de maneira adequada, geram produtividade elevada nas culturas soja/milho e capim/gramíneas. Melhores resultados surgem quando o produtor rural passa a enxergar investimentos onde haveria, teoricamente, custos. Maior performance do sistema agropecuário incrementa a lucratividade.
A técnica ainda permite ao solo a série de benefícios trazidos pelo calcário incorporado de forma correta, e com acompanhamento técnico. Entre eles, estão:
. Aumento do pH do solo;
. Maior eficiência nos fertilizantes aplicados;
. Produtividade nas culturas;
. Aumento da disponibilidade de nutrientes;
. Redução do alumínio em excesso;
. Diminuição da fixação de fósforo;
. Fornecimento de cálcio e magnésio, elementos responsáveis pelo vigor da planta;
. e o Crescimento da raiz, o que auxilia a busca por água e nutrientes em profundidade.
Já o pastejo melhora a movimentação vertical de calcário, aperfeiçoando o desenvolvimento do perfil do solo e a disponibilidade de cálcio e magnésio. Isso resulta na fixação das raízes em profundidade.
Por sua vez, as gramíneas interferem positivamente na cultura de grãos, com a ciclagem de nutrientes, manutenção de água no sistema, na germinação da soja, redução de pragas e doenças, sem contar a melhora no equilíbrio do sistema.
“Com isso, as condições físicas e biológicas do solo agradecem”, reforça Anderson Lange.
Fonte: Assessoria de Imprensa – Abracal