Uma das principais e mais competitivas plantas daninhas que infestam culturas agrícolas é o capim-amargoso (Digitaria insularis). Segundo Gazziero et al. (2012), a convivência da soja com plantas de capim-amargoso resulta em significativas perdas de produtividade, havendo decréscimo da produtividade da soja a medida em que há o aumento da densidade populacional de capim-amargoso.
Figura 1. Produtividade em kg ha-1 e sacos (sc ha-1) de soja cultivada sob diferentes intensidades de infestações (média de classes) de capim-amargoso.

Embora o controle químico com o uso de herbicidas seja o método mais empregado no manejo do capim-amargoso, estratégias de manejo complementares podem ser adotadas de forma sistemática para reduzir as infestações de capim-amargoso. Uma dessas estratégias é a boa cobertura do solo, que dentre outros efeitos, limita o acesso das sementes do banco de sementes à luz. Além de, algumas espécies vegetais produzem substâncias químicas que se acumulam no solo e inibem a germinação ou o crescimento inicial de outras plantas (alelopatia) (Concenço et al., 2018).
Para que sementes de plantas daninhas presentes no banco de sementes do solo germinem dando origem a novos fluxos de emergência de plantas, é necessário haver condições adequadas de temperatura, umidade e luminosidade para algumas espécies (fotoblásticas positivas). Conforme observado por Melo et al., a boa cobertura do solo, contribui significativamente para a redução da emergência de plantas de capim-amargoso (figura 2).
Figura 2. Número de plântulas dias após a emergência de capim amargoso (Digitaria insularis), em função da cobertura de solo (palhada de braquiária, milho e soja) em Dourados/MS.

Entretanto, embora a cobertura do solo contribua para a redução dos fluxos de emergência do capim-amargoso, cabe destacar que esse efeito é dependente de outras condições ambientais, tais como temperatura. Avaliando os efeitos da luz e temperatura na germinação de sementes de plantas do gênero Digitaria, Mondo et al. (2010) observaram que para sementes de Digitaria insularis, além da cobertura do solo, a temperatura é um forte condicionante para a germinação da espécie, sendo que temperaturas 20-30 ºC, 20-35 ºC e 15-35 ºC foram as que resultaram em maiores porcentagens e velocidades de germinação, sempre associadas à presença de luz. Ao mesmo tempo, os autores observaram que para temperaturas 20-35 ºC e 15- 35 ºC, a ausência de luz não interferiu na germinação das sementes.
Tabela 1. Porcentagem e índice de velocidade de germinação (IVG) de sementes de Digitaria insularis expostas a diferentes condições de temperatura e luz, aos 21 dias após instalação.

Logo, somente a boa cobertura do solo pode não ser suficiente para reduzir significativamente os fluxos de emergência do capim-amargoso em lavouras agrícolas. Sobretudo, a cobertura do solo com plantas de cobertura ou palhada residual ainda constitui uma importante ferramenta de manejo pelos efeitos benéficos proporcionados ao sistema de produção e controle de outras espécies de plantas daninhas, em especial fotoblásticas positivas.
Veja mais: Eficiência de herbicidas pré-emergentes no controle do capim-amargoso em soja
Referências:
CONCENÇO, G. et al. TRIGO COMO SUPRESSOR DE INFESTAÇÃO DE CAPIM-AMARGOSO. Embrapa, Comunicado Técnico, n. 234, 2018. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1095174/1/COT2342018GERMANI1.pdf >, acesso em: 04/10/2022.
GAZZIERO, D. L. P. et al. EFEITOS DA CONVIVÊNCIA DO CAPIM-AMARGOSO NA PRODUTIVIDADE DA SOJA. XXVIII CBCPD, 3 a 6 de setembro de 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/67061/1/733-XXVIIICBCPD.pdf >, acesso em: 04/10/2022.
MELO, T. S. POTENCIAL DE DIFERENTES PLANTAS DE COBERTURA NO CONTROLE DE PICÃO PRETO (Bidens pilosa) E CAPIM AMARGOSO (Digitaria insularis). Agronomia: Jornadas Científicas, Volume 2. Disponível em: < http://downloads.editoracientifica.org/articles/200400078.pdf >, acesso em: 04/10/2022.
MONDO, V. H. V. et al. EFEITOS DA LUZ E TEMPERATURA NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE QUATRO ESPÉCIES DE PLANTAS DANINHAS DO GÊNERO Digitaria. Revista Brasileira de Sementes, vol. 32, nº 1, p.131-137, 2010. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbs/a/FCXbkqsnxf3sTrNmH6LP6vv/?lang=pt#:~:text=As%20temperaturas%2020%2D30%20%C2%BAC,interferiu%20na%20germina%C3%A7%C3%A3o%20das%20sementes. >, acesso em: 04/10/2022.