Até então, pelo que se conhece, a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) é o único inseto vetor dos molicutes (espiroplasma e fitoplasma) causadores dos enfezamentos na cultura do milho. Quando o inseto se alimenta de plantas com os enfezamentos, o inseto-vetor adquire na seiva do floema os molicutes (um ou ambos), que se multiplicam nos tecidos da sua glândula salivar, e após período latente de cerca de 3 a 4 semanas, torna-se infectante. A cigarrinha infectante, ao se alimentar da seiva de uma plântula sadia, transmite o(s) molicute(s), infectando essa planta (Sabato; Barros; Oliveira, 2016).
Tecnicamente, como a capacidade da cigarrinha em transmitir a doença esta diretamente relacionada com o número de indivíduos infectados, ainda não existe nível de ação pré-estabelecido para o controle da cigarrinha-do-milho, sendo mais usual, realizar o controle químico quando constatada a presença da praga, especialmente em áreas com histórico de ocorrência da doença.
Contudo, conhecer a biologia da cigarrinha-do-milho pode contribuir para a tomada de decisão frente a necessidade de realização de algumas práticas de manejo, visando a redução da população da praga e a menor incidência dos enfezamentos. Conforme destacado por Waquil (2004), em médio, o ciclo de vida de uma cigarrinha-do-milho fêmea é de aproximadamente 45 dias, sendo que durante esse período, ela pode ovipositar até 14 ovos dia-1, contudo, conforme observado por Waquil et al. (1997), sob condições ideais, os adultos da cigarrinha podem viver quase 52 dias.
A duração do ciclo de vida da cigarrinha-do-milho, assim como o período de eclosão de ninfas é muito dependente das condições de temperatura média do ar (Figura 1), contudo, cabe destacar que baixas temperatura não são um fator limitante para a sobrevivência da praga, ao contrário do que se costuma pensar. Abaixo de 20°C, não há eclosão de ninfas; entretanto, esses ovos permanecem viáveis, até atingirem condições adequadas para a eclosão (Waquil, 2004).
Figura 1. Porcentagem acumulada de eclosão de ninfas de D. maidis, cujos ovos foram incubados em diferentes temperaturas.
Naturalmente, temperaturas mais altas possibilitam um menor tempo de eclosão dos ovos de Dalbulus maidis. Sob condições favoráveis, a eclosão das ninfas se dá em nove dias e essas levam 15 dias para completar seu desenvolvimento, com a emergência dos adultos (Waquil, 2004).
Figura 2. Efeito da temperatura na biologia da cigarrinha-do-milho.
A temperatura ideal para o desenvolvimento da cigarrinha-do-milho varia entre 26°C a 32°C, nessas condições, conforme destacado por Waquil (2004), a praga consegue completar seu ciclo de vida em aproximadamente 24 dias. Levando em consideração a capacidade reprodutiva da cigarrinha-do-milho e seu curto ciclo de vida em condições ideais de temperatura, a eliminação de plantas hospedeiras da praga é essencial para reduzir as populações da cigarrinha e consequentemente o potencial de transmissão dos enfezamentos.
Veja mais: Cigarrinha-do-milho – Controle do milho “tiguera” é essencial para reduzir as populações da praga
Referências:
SABATO, E. O.; BARROS, A. C. S.; OLIVEIRA, I. R. CENÁRIO E MANEJO DE DOENÇAS DISSEMINADAS PELA CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa, Cartilha, 2016. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1059085/1/Cenariomanejo1.pdf >, acesso em: 16/03/2022.
WAQUIL, J. M. CIGARRINHA DO MILHO: VETOR DE MOLICUTES E VÍRUS. Embrapa, Circular Técnica, n. 41, 2004. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1344498/2767891/cigarrinha-do-milho-vetor-de-molicutes-e-virus.pdf/17d847e1-e4f1-4000-9d4f-7b7a0c720fd0 >, acesso em: 16/03/2022.
WAQUIL, J. M. ECOLOGIA, COMPORTAMENTO E BIONOMIA: ASPECTOS DA BIOLOGIA DA CIGARRINHA-DO-MILHO, Dalbulus maidis (DeLong & Wolcott) (Hemiptera: Cicadellidae). An. Soc. Entomol. Brasil, 1999. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/aseb/a/5gmpWKRrPWz6xTHDTtZwFQt/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 16/03/2022.
WAQUIL, J. M. et al. BIOLOGIA DA CIGARRINHA-DO-MILHO Dalbulus maidis (DeLong & Wolcott) (HETEROPTERA: Cicadellidae). Resumo do 16° Congresso Brasileiro de Entomologia, 1997. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/38318/1/Biologia-cigarrinha.pdf >, acesso em: 16/03/2022.