Após quase dois meses ausentes, em função dos recessos de final de ano e das férias de janeiro, encontramos um mercado da soja que apresenta, na média, uma elevação nas cotações em Chicago, na comparação com meados de dezembro passado, porém, uma redução nos preços internos da soja no Brasil.
No caso de Chicago, o primeiro mês cotado fechou esta quinta-feira (09/02) em US$ 15,19/bushel, contra US$ 14,73 no dia 15/12. Já a média de dezembro passado fechou em US$ 14,74, enquanto a média de janeiro/23 subiu para US$ 15,10/bushel, ganhando 2,4% sobre dezembro. A registrar que, neste período, o farelo de soja atingiu a US$ 513,00/tonelada curta na primeira quinzena de janeiro, recuando posteriormente para níveis ao redor de US$ 495,50 no dia 09 de fevereiro. Enquanto isso, o óleo de soja, neste início de fevereiro bateu em sua mais baixa cotação desde meados de janeiro de 2022, ao atingir 59,04 centavos de dólar por libra-peso em Chicago no dia 09/02.
A reação de Chicago, embora pequena, se deu em função da frustração parcial da safra sul-americana, particularmente na Argentina e no Rio Grande do Sul (Brasil). Igualmente, a continuidade no aumento dos juros básicos nos EUA tem estimulado os Fundos a venderem posições em commodities e comprarem títulos do Tesouro estadunidense, dentre outras aplicações financeiras mais rentáveis.
Neste meio-tempo, os relatórios de oferta e demanda do USDA, divulgados em janeiro e fevereiro consolidaram a última safra dos EUA e, por enquanto, reduzem a produção na Argentina e mantêm a produção brasileira.
O relatório de fevereiro, divulgado nesta quarta-feira (08), indicou uma produção final nos EUA, finalizada em novembro, em um total de 116,4 milhões de toneladas, reduzindo em dois milhões de toneladas o que vinha sedo indicado até dezembro. Isso igualmente ajudou a elevar a cotação do bushel no período. Já os estoques finais dos EUA, para 2022/23, somaram 6,1 milhões de toneladas, contra 5,7 milhões em janeiro. O preço médio ao produtor de soja dos EUA ficou em US$ 14,30/bushel para o corrente ano comercial, ou seja, quase um dólar abaixo do que Chicago vem cotando no momento. Já a produção mundial de soja soma 383 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais atingem a 102 milhões. Nos dois casos, com um pequeno recuo sobre janeiro. A produção brasileira está, por enquanto, mantida em 153 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina foi reduzida para 41 milhões de toneladas apenas (49,5 milhões em dezembro/22). Enfim, as importações por parte da China somam 96 milhões de toneladas, com recuo de dois milhões sobre dezembro passado.
Aqui no Brasil, com o câmbio trabalhando entre R$ 5,00 e R$ 5,15 por dólar em boa parte do período, mesmo com as quebras no Rio Grande do Sul, os preços recuaram até de forma importante. Lembrando que em meados de dezembro o câmbio médio estava ao redor de R$ 5,30.
Assim, o saco de soja ao produtor gaúcho, fechou esta segunda semana de fevereiro valendo R$ 164,91, havendo praças importantes pagando R$ 163,00. Em meados de dezembro passado o valor médio era de R$ 172,04. Ou seja, mesmo com as perdas importantes, devido a estiagem, por enquanto a soja, nos últimos dois meses, perdeu quase 10 reais por saco no Estado gaúcho. No Mato Grosso, onde a safra transcorre normalmente e a colheita, inclusive, já começou, o produto estava sendo negociado, nesta semana, a R$ 143,00/saco, contra R$ 158,00 em dezembro (base Campo Novo do Parecis). Uma perda de 15 reais por saco em dois meses. Ou seja, o mercado vai confirmando o recuo de preços projetado, enquanto os custos de produção recuaram em proporção bem menor.
Mais conjunturalmente, nesta semana de fevereiro o mercado sinalizava que a colheita da soja brasileira chegava a 9% da área semeada, contra 16% no mesmo período do ano passado. (Cf. AgRural) Por sua vez, enquanto a safra passada estava com cerca de 98% de seu volume comercializado, as vendas da atual safra atingiam, nesta semana, a 26,6% da safra estimada, contra 39,1% realizados no mesmo período do ano anterior; 60,4% em 2020/21; e 43,6% na média histórica para esta época. (Cf. Datagro) Ou seja, o produtor brasileiro vem segurando a soja, na esperança de preços melhores, o que, por enquanto, não encontra respaldo no mercado internacional. Inclusive, projeta-se uma nova valorização do Real para este primeiro semestre, com o mesmo podendo voltar aos níveis abaixo de R$ 5,00 por dólar. Isso só ainda não ocorreu porque seguidas declarações do presidente Lula vêm causando distúrbios no mercado financeiro e cambial brasileiro, principalmente quando contesta a autonomia do Banco Central.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).