Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja em Chicago não conseguiram romper o teto dos US$ 12,00/bushel nesta semana, sendo que o primeiro mês cotado alcançou US$ 11,91 em dois dias da mesma. Posteriormente, o fechamento da quarta-feira (25) recuou para US$ 11,84/bushel, contra US$ 11,77 uma semana antes. Lembrando que nesta quinta-feira (26) é feriado nos EUA (Dia de Ação de Graças), não havendo operação na Bolsa de Chicago.
Enquanto o clima continua preocupando na Argentina e no sul do Brasil, a comercialização antecipada da soja, particularmente entre os produtores brasileiros, continua avançando. O mercado estima que em janeiro, na chamada boca da colheita, o país tenha cerca de 70% da safra vendida.
Dito isso, vale destacar que as chuvas retornaram no sul do Brasil e parte da Argentina, devendo auxiliar na recuperação do plantio, que está bastante atrasado. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o mesmo chegava a apenas 35% da área esperada no dia 19/11.
À esta realidade climática soma-se a preocupação com os estoques mundiais de soja. O mercado questiona o que foi anunciado pelo USDA em seu último relatório, no dia 10/11, considerando que das 88 milhões de toneladas ali indicadas, efetivamente existam apenas 14 milhões realmente disponíveis em estoque. Esta seria uma das causas da forte reação das cotações em Chicago nos últimos três meses, associada a contínua demanda chinesa. Além disso, o consumo diário mundial de soja estaria superior a um milhão de toneladas por dia neste ano, enquanto a China vem triturando mais de dois milhões de toneladas por semana.
No caso da China, suas importações de soja em outubro chegaram a 8,69 milhões de toneladas, volume 41% superior ao comprado no mesmo mês do ano passado. Em todo o ano a China já teria comprado 83,2 milhões de toneladas, ou seja, 18% acima do adquirido no mesmo período de 2019, e 8% acima do recorde de 2017.
O principal motivo deste comportamento chinês estaria na recomposição dos planteis suinícolas locais, atingidos que foram pela peste suína africana entre 2017 e 2019. Projeta-se que em janeiro próximo os chineses já teriam recuperado 80% deste plantel.
Mas como alertamos aqui, a alta dos preços da soja no mercado mundial também encontra seus limites. Nesse momento, devido a forte dependência das compras chinesas, o limite é o preço que a China pode e quer pagar pela oleaginosa. E, diante de um abastecimento já recorde, os chineses teriam iniciado operações de devolução e/ou renegociação de carregamentos de soja previstos para janeiro, diante dos atuais preços mundiais, os quais vêm reduzindo as margens de esmagamento da indústria moageira chinesa.
Embora o mercado acredite que tal movimento chinês seja temporário, o mesmo é um sinal claro de que Chicago estaria chegando a um limite de preços aceitável para os asiáticos. Obviamente, tais preços dependem também da futura safra sul-americana e seus atuais problemas climáticos em algumas regiões.
Por enquanto, tanto estoques quanto o processamento de soja na China estão em crescimento, fruto das fortes importações feitas nos EUA. No entanto, para 2020/21 há preocupações quanto ao grande volume já vendido da futura produção. Cerca de 70% esperados no Brasil até janeiro, enquanto nos EUA mais de 83%, dos 59,9 milhões de toneladas que se espera exportar da atual safra, já estão comprometidos, enquanto o ano comercial por lá se encerra apenas em 31 de agosto de 2021.
Por outro lado, houve preocupação no mercado quanto a boatos sobre novas tarifas que seriam aplicadas pelo governo dos EUA sobre produtos chineses. A soma de todos estes fatores resultou no primeiro sinal de compras de soja em desaceleração por parte da China após cinco meses de aumento constante nas mesmas. Afinal, para muitos importadores chineses, trazer soja dos EUA nas atuais cotações de Chicago seria perder dinheiro.
Dito isso, por enquanto as exportações estadunidenses de soja avançam bem, com os embarques, na semana encerrada em 19/11, atingindo 2 milhões de toneladas o que elevou o total no ano comercial para 24,4 milhões de toneladas, contra pouco mais de 14 milhões em igual momento do ano anterior.
Já no Brasil, com a manutenção de um câmbio onde o Real se tornou mais valorizado nas duas últimas semanas (R$ 5,32 por dólar no dia 26/11) e a ausência de produto para exportação, somado ao fato de que as moageiras nacionais já estarem abastecidas até a nova safra, além de começarem a sua natural paralisação de final de ano para a manutenção das máquinas, os preços da soja recuam fortemente, confirmando a tendência que se desenhava. O balcão gaúcho fechou esta semana na média de R$ 153,41/saco, já perdendo 10 reais por saco em duas semanas. A média nas principais praças gaúchas de referência veio para R$ 145,00/saco, após o auge de R$ 163,00 obtidos na semana do 06 ao 12/11. Isso representa um recuo de 18 reais por saco em duas semanas. Nas demais praças nacionais igualmente se registra recuo de preços, com as médias fechando a atual semana nos seguintes valores: R$ 148,00 a R$ 149,00 no Paraná; R$ 164,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 155,0 no CIF Maracaju (MS); R$ 155,00 igualmente em Rio Verde (GO) e R$ 160,00/saco em Luís Eduardo Magalhães (BA).
A área semeada no Brasil teria chegado a 81% do esperado no dia 19/11, apesar do atraso no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina devido a seca. Nos demais Estados o mesmo estaria praticamente encerrado, tendo atingido a 97% da área, por exemplo, no Paraná. Porém, chuvas importantes a partir de quarta-feira (25/11) no sul do país deverão acelerar esse plantio na próxima semana. Mesmo assim, os diferentes analistas privados nacionais já estão revisando suas projeções para a futura safra, com recuo no volume final a ser colhido. A maioria já se aproximando de algo ao redor de 132 milhões de toneladas. Isto se a área semeada efetivamente chegar a 38,3 milhões de hectares. (cf. AgRural)
Enfim, quanto às exportações brasileiras de soja, as mesmas diminuíram muito de volume em novembro. No ano passado nesta época as mesmas estavam quase o triplo da média diária que atualmente vem ocorrendo.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ