A incidência de enfezamentos na cultura do milho (Zea mays), provocada pela transmissão da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), representa uma preocupação devido aos prejuízos que acarretam à cultura. Essas doenças, conhecidas como enfezamentos, são ocasionadas por microrganismos do tipo moliculites, sendo o espiroplasma (Spiroplasma kunkelii) responsável pelo enfezamento-pálido, enquanto o enfezamento-vermelho é ocasionado pelo fitoplasma (Maize bushy stun). Os molicutes invadem sistemicamente e proliferam nos tecidos do floema da planta de milho e são transmitidos de plantas doentes para plantas sadias, através da cigarrinha Dalbulus maidis. (Embrapa).

A cigarrinha-do-milho, de acordo com Ávila et al. (2022) é um inseto sugador da ordem Hemiptera e da família Cicadellidae. Os adultos possuem coloração amarelo-palha e asas transparentes, medindo entre 3,7 mm e 4,3 mm de comprimento, essas cigarrinhas possuem duas manchas circulares negras na parte dorsal da cabeça, entre os olhos compostos, uma característica que a difere de outras espécies de cigarrinhas associadas ao milho e facilita sua identificação no campo. Quando perturbados, esses insetos demonstram um comportamento de deslocamento lateral sobre a planta e são frequentemente encontrados no interior do cartucho das plantas de milho.

As fêmeas são geralmente maiores que os machos, elas depositam seus ovos perto da nervura central das folhas do milho e esses ovos são semelhantes a grãos de arroz, inicialmente transparentes e depois tornam-se leitosos. O período embrionário é de 8 dias, e os ovos desenvolvem tufos de microfilamentos brancos externamente após 48 a 72 horas. A espécie passa por cinco instares ninfais, durando cerca de 17 dias a temperatura de 26 ºC. O ciclo de ovo para adulto varia de 15 a 27 dias, dependendo das condições de temperatura e umidade, os adultos vivem de 51 a 77 dias e cada fêmea pode depositar de 400 a 600 ovos durante seu ciclo de vida. Em condições adequadas, a cigarrinha-do-milho pode ter mais de duas gerações durante o período de cultivo do milho (Ávila et al., 2022).

Figura 1. Dalbulus maidis DeLong & Wolcott (Hemiptera, Cicadellidae): A) detalhe do adulto em repouso; B) adultos presentes no cartucho da planta de milho (cada seta amarela indica a presença de um adulto); C) adultos em cópula – fêmea acima (maior) e acho abaixo (menor); D) ovo retirado da nervura central de planta de milho, E) microfilamentos que se formam 48 horas a 72 horas após a postura (seta amarela mostra a posição dos microfilamentos); e F) ninfa de D. maidis.

Fotos: Charles Martins de Oliveira (2022).

O enfezamento vermelho, causado pelo fitoplasma, pode atingir até 100% das plantas na lavoura e provocar perda total da produção. Os sintomas típicos do enfezamento vermelho incluem um avermelhamento intenso e generalizado das plantas. O avermelhamento começa nas margens e na ponta das folhas, podendo se estender por toda a área foliar, seguido pela seca das folhas. As plantas doentes morrem prematuramente, podendo secar rapidamente ou tombar, dependendo da cultivar. Geralmente, as plantas crescem aparentemente normais e os sintomas da doença manifestam-se apenas durante o estádio de enchimento de grãos (Oliveira et al., 2003).

Figura 2. Enfezamento vermelho do milho.

Fonte: Oliveira et al. (2014).

O enfezamento-pálido, causado pelo Spiroplasma kunkelii, tem como sintomas característicos, estrias cloróticas esbranquiçadas irregulares nas folhas, que se iniciam na base. No entanto, geralmente o enfezamento-pálido manifesta-se com folhas avermelhadas nas margens e na parte apical, acompanhadas de clorose. As espigas das plantas infectadas apresentam tamanho reduzido em comparação as espigas sadias, e a redução do no tamanho das espigas, bem como na produção de grãos varia de acordo com a resistência da cultivar e o estádio em que a planta foi infectada (Sabato et al., 2014).

Figura 3. Enfezamento-pálido (Spiroplasma kunkelii).

Fonte: Sabato et al. (2014).

Conforme destacam Sabato et al. (2016), os danos ocasionados pelos enfezamentos podem ser observados na redução do tamanho das espigas de plantas afetadas, que produzem grãos chochos ou poucos grãos. A redução na produtividade da planta infectada depende do nível de resistência da cultivar, podendo chegar a mais de 70%. Além disso, os danos à lavoura estão diretamente relacionados à frequência de plantas infectadas, sendo mais significativos em cultivares suscetíveis e em plantas que são infectadas em estádios iniciais de desenvolvimento.

Figura 4. Danos por enfezamentos.

Foto: Elizabeth de Oliveira Sabato (2016).

De acordo com a Embrapa, quando as cigarrinhas estão contaminadas, alguns fatores podem favorecer a incidência e os danos pelos enfezamentos, condições como temperaturas elevadas, superiores a 17° C durante o período da noite e de 27° C durante o dia, favorecem a multiplicação mais rápida dos moliculites, tanto nas cigarrinhas quanto nas plantas doentes.  Além disso, a safra atual traz uma preocupação adicional devido à presença da nova cigarrinha do milho, a cigarrinha-africana (Leptodelphax maculigera). Esta espécie apresenta o potencial de transmitir o complexo de moliculites, o que amplia a possibilidade de danos na cultura do milho (RTC, 2023).



A presença da cigarrinha-do-milho durante o período crítico justifica a necessidade de implementação de medidas de controle. A Embrapa recomenda realizar o tratamento de sementes para controlar as cigarrinhas nos estádios iniciais de desenvolvimento das lavouras, complementado pela aplicação de inseticidas também na fase inicial de desenvolvimento da cultura. O manejo da cigarrinha-do-milho, a fim de reduzir os danos ocasionados pelos patógenos por ela transmitidos, torna necessária a adoção de uma série de estratégias que devem ser realizadas em conjunto para um manejo eficiente. A seguir, podemos observar as práticas de manejo recomendadas.


Veja mais: Mancha Branca do Milho



Referências:

ÁVILA, C. F. et al. CIGARRINHA-DO-MILHO: DESAFIOS AO MANEJO DE ENFEZAMENTOS E VIROSES NA CULTURA DO MILHO. Embrapa Agropecuária Oeste, Documentos 149. Dourados – MS, 2022. Disponível em: < https://aprosojams.org.br/sites/default/files/boletins/MIOLO_DOC%20149_2022_IMPRESSO_0.pdf >, acesso em: 11/10/2023.

EMBRAPA. CONTROLE DA CIGARRINHA DO MILHO. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/controle-da-cigarrinha-do-milho >, acesso em: 11/10/2023.

EMBRAPA. MANEJO DA CIGARRINHA E ENFEZAMENTOS NA CULTURA DO MILHO. Embrapa Milho e Sorgo. Disponível em: < https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sanidade-animal-e-vegetal/sanidade-vegetal/arquivos/Cartilhacigarrinhaeenfezamentos_Embrapa.pdf >, acesso em: 11/10/2023.

OLIVEIRA, E. et al. ENFEZAMENTOS, VIROSES E INSETOS VETORES EM MILHO – IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE. Embrapa, Circular técnica 26. Sete Lagoas – MG, 2003. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPMS/16180/1/Circ_26.pdf >, acesso em: 11/10/2023.

RTC. PRIMEIRA OCORRÊNCIA DE CIGARRINHA-AFRICANA (Leptodelphax maculiger) NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Alerta RTC – CCGL, 2023. Disponível em: < https://www.instagram.com/p/CvfT9Hrt5VT/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=MzRlODBiNWFlZA%3D%3D&img_index=1 >, acesso em: 11/10/2023.

SABATO, E. O. et al. CENÁRIO E MANEJO DE DONEÇAS DISSEMINADAS PELA CIGARRINHA NO MILHO. Embrapa Milho e Sorgo, Cartilha. Sete Lagoas – MG, 2016. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/152185/1/Cenario-manejo-1.pdf >, acesso em: 11/10/2023.

SABATO, E. O. et al. RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO DE DOENÇAS DO MILHO DISSEMINADAS POR INSETOS-VETORES. Embrapa, Circular técnica 205. Sete Lagoas – MG, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/121416/1/circ-205.pdf >, acesso em: 11/10/2023.

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