O Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 1,8% em 2026, segundo projeção do relatório Economia Brasileira 2025-2026, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quarta-feira (10). O avanço deve ocorrer, sobretudo, a partir do setor de serviços, cuja expectativa é de alta de 1,9%. A indústria tende a perder ritmo em relação a 2025, crescendo 1,1%, enquanto a agropecuária deve se manter estável. A CNI aponta os juros altos e o enfraquecimento do mercado de trabalho como os principais fatores da desaceleração da economia.

“Caso as projeções se confirmem, este seria o menor crescimento do PIB em seis anos. Não há como fugir da realidade: com juros nesse patamar, a economia vai desacelerar ainda mais, prejudicando todos os setores produtivos, em especial a indústria. O impacto recai sobre a população, pois isso se reflete em menos emprego e renda. É necessário que o Banco Central não apenas inicie o ciclo de cortes na taxa Selic o quanto antes, mas que, ao final de 2026, tenhamos juros reais menores do que as projeções indicam no momento”, avalia o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Juros altos e queda de demanda seguirão penalizando a indústria

A CNI projeta que a taxa básica de juros da economia, a Selic, encerrará 2026 em 12%, e que a inflação fechará o ano em 4,1%. A CNI também estima que os juros reais devem ficar em torno de 7,9%, patamar que continuará inibindo o crescimento econômico e o investimento.

Além dos juros altos, a queda da demanda interna por bens industriais e o aumento das importações continuarão penalizando a indústria, em especial a indústria de transformação. A previsão é de alta de apenas 0,5% para 2026, pior resultado entre todos os segmentos industriais.

Construção com boas perspectivas

A construção deve ter um bom desempenho em 2026, apesar de ser impactada pelos efeitos dos juros. O novo modelo de crédito imobiliário, o aumento do valor máximo dos imóveis financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e a disponibilização de financiamentos para a reforma de moradias de famílias de baixa renda contribuirão para que o PIB do setor cresça 2,5%, estima a CNI.

A projeção para a indústria extrativa, por sua vez, é de um aumento de 1,6%, devido ao alto patamar de extração de petróleo e de minério de ferro.

Transformação digital impulsiona serviços, enquanto agro fica estável

A exemplo do que ocorre nos últimos meses de 2025, o mercado de trabalho deve continuar desacelerando em 2026. A projeção é que a taxa de desocupação encerre o ano que vem em 5,6% e que a massa de rendimento real dos trabalhadores aumente 3,4%. Mesmo com menor impulso do mercado de trabalho, os serviços devem crescer mais que os demais setores graças a alguns fatores, como os investimentos em transformação digital, que já impactaram positivamente o PIB do setor em 2025.

O aumento das despesas federais também deve estimular a demanda, impulsionando os serviços. A CNI projeta que os gastos públicos crescerão 4,6% acima da inflação em 2026.

“A isenção do Imposto de Renda para pessoas que ganham até R$ 5 mil e a desoneração do IR para aqueles que recebem entre R$ 5 mil e R$ 7,5 mil vão aumentar a renda disponível para parte da população, estimulando o consumo e a atividade econômica”, avalia o diretor de Economia da CNI, Mario Sergio Telles.

A agropecuária, por outro lado, deve andar de lado, uma vez que as primeiras previsões sugerem uma safra bem menos significativa do que em 2025.

Exportações sobem, importações encolhem

Os efeitos das tarifas norte-americanas, a possível desaceleração da economia argentina importante parceiro comercial do Brasil , uma safra de grãos mais modesta e a expectativa de menor demanda por petróleo devem diminuir o ímpeto das exportações brasileiras. A CNI projeta que as vendas externas totalizem US$ 355,5 bilhões, 1,6% a mais do que em 2025.

No caso das importações, espera-se menor demanda por insumos importados e aumento das compras de bens de consumo. Ainda assim, a expectativa é que as compras externas alcancem US$ 289,3 bilhões, 1,4% abaixo do total de 2025. Com isso, o Brasil deve fechar 2026 com um superávit comercial de US$ 66,2 bilhões, quase 17% a mais do que em 2025.

Previsão de crescimento do PIB de 2025 sobe para 2,5%, puxado pelo agro

A CNI estima que a economia brasileira fechará 2025 com um crescimento de 2,5%, uma alta discreta em relação aos 2,4% projetados pela instituição ao fim do ano passado. Ao contrário de 2024, em que a alta do PIB se deveu à indústria e ao setor de serviços, neste ano o crescimento vem a reboque do agronegócio. A safra recorde e a boa produção animal devem fazer com que o PIB do setor suba 9,6%.

Os serviços devem crescer 2%, ante a previsão inicial de 1,9%. O resultado reflete o desempenho do segmento de transportes e dos investimentos ligados à transformação digital. O PIB do setor seria ainda maior não fosse a política monetária contracionista, que prejudicou o varejo, principalmente.

Depois de crescer 3,3% no ano passado, o PIB industrial tende a aumentar 1,8% em 2025. A desaceleração será mais sentida pelos segmentos de transformação e de construção, que são mais sensíveis aos juros elevados. Para a indústria da transformação, a CNI previa uma alta de 2% ao fim do ano passado, percentual que despencou para 0,7%.

Segundo Telles, a perda de ritmo do segmento é preocupante, uma vez que a indústria de transformação está mais exposta à concorrência internacional e é onde ocorre a chamada desindustrialização. Além dos juros, ele aponta o alto volume de importações como um fator preponderante para o resultado.

“O volume importado de bens de consumo cresceu 15,3% de janeiro a novembro de 2025, em relação ao mesmo período do ano passado. As importações estão ocupando o pouco que cresce a demanda interna por bens industriais”, avalia.

Já a construção deve crescer 1,5%, ante a expectativa inicial de alta de 1,8%.

O desempenho da indústria geral será sustentado pela indústria extrativa, cuja expectativa de crescimento para 2025 dobrou desde o fim do ano passado, passando de 4% para 8%.

Embora se mostre resiliente, o mercado de trabalho deu sinais mais fortes de desaceleração no 3º trimestre de 2025. No entanto, os resultados positivos da primeira metade do ano farão com que o número de pessoas ocupadas cresça 1,3% em relação a 2024, estima a CNI. Com isso, a taxa de desocupação deve fechar o ano em 5,4%. Já a massa de rendimento real do trabalho deve subir 5,6%.

Inflação no teto da meta e Selic igual na última reunião do Copom

A CNI projeta que o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano em 4,5%, no limite do teto da meta de inflação. Mesmo assim, a CNI acredita que o Banco Central manterá a taxa Selic em 15% na última reunião do ano. O ciclo de cortes deve começar apenas em 2026. Ao longo de 2025, os juros elevados impactaram as concessões de crédito, que devem crescer 3,6%, bem abaixo dos 10,7% de 2024.

Segundo o relatório, o crescimento real das despesas federais estimulou a atividade econômica ao longo de 2025, especialmente no 2º semestre. A expectativa é que os gastos do governo subam 3,3% em relação a 2024. Chama a atenção, no entanto, que o cumprimento da meta de resultado primário dependa do aumento da arrecadação, sem iniciativas significativas para a redução das despesas. A CNI estima um déficit primário de R$ 11 bilhões, o equivalente a 0,1% do PIB e dentro do limite inferior da meta. A dívida bruta deve subir para 78,9% do PIB.

Ampliação de parcerias comerciais mitigou impactos do tarifaço

O crescimento expressivo das exportações da indústria de transformação para China, Reino Unido, Itália e Argentina entre agosto e novembro ajudou a neutralizar os impactos do tarifaço norte-americano sobre os produtos brasileiros. As vendas externas da agropecuária também tiveram efeitos positivos na balança comercial. Com isso, as exportações devem totalizar US$ 350 bilhões ao fim de 2025, uma alta de 3% em relação a 2024.

A diminuição dos preços internacionais, os desvios de comércio causados pela nova política comercial dos EUA, a valorização do real e o aumento da renda das famílias são fatores que contribuíram para a expansão das importações. As compras externas do Brasil devem alcançar US$ 293,4 bilhões, 7,1% a mais do que ano passado. A balança comercial deve registrar um saldo positivo de US$ 56,7 bilhões, 14% a menos que em 2024.

Fonte: Cynara Escobar – Safras News



 

FONTE

Autor:Cynara Escobar – Safras News

Site: Safras & Mercado

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