Autores: Gabriela Benini1; Antônio Augusto Pinto Rossatto1; Leonardo Seibel Sander1; João Paulo Hubner1; William Nathaniel Battu do Amaral1; Daniela Batista dos Santos2; Juliano Dalcin Martins3
Segundo dados da Conab (2020), a primeira safra de milho (Zea mays) na safra 2019/20 teve uma área semeada, de 4,23 milhões de hectares, e produção estimada em 25,6 milhões de toneladas. Na segunda safra da cultura são produzidas 100,1 milhões de toneladas, cujo principal destino é produção de etanol e a alimentação animal. Buscando fomentar o cultivo de milho no RS, aumentar sua produtividade e promover rotação de culturas tem-se como ferramenta a adubação verde com o nabo forrageiro (Raphanus sativus L.), que devido à característica bioquímica de baixa relação C/N de seus resíduos, a taxa de mineralização é alta. Contudo, os diferentes sistemas de manejo do nabo que antecedem à cultura subsequente, nesse caso o milho, podem alterar a disponibilidade de nitrogênio, o percentual de cobertura do solo e, consequentemente, a quantidade de plantas daninhas emergidas ao longo da cultura (Salton et al., 1995; Rizzardi et al., 2006).
Sendo assim, o presente trabalho objetiva avaliar a influência de diferentes sistemas e épocas de manejo do nabo forrageiro na taxa de cobertura/exposição do solo e no número de plantas daninhas emergidas ao longo da cultura do milho.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido sob sistema plantio direto no ano agrícola 2019/2020 na área
agrícola do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Ibirubá, a uma latitude de 28°39’2.72″S e longitude de 53° 6’26.70″O. Segundo Köppen e Geiger a classificação do clima é Cfa (subtropical úmido), com solo Latossolo Vermelho Distroférrico típico predominante (Embrapa 2018). O delineamento utilizado foi o de blocos casualizados em faixa, com 8 tratamentos e 3 repetições. Cada parcela experimental possuía as dimensões de 10 metros de comprimento x 3,5 metros de largura.
A semeadura do nabo forrageiro foi realizada no dia 07 de junho de 2019, com cerca de 22 kg de sementes.ha-1, sob restos culturais de aveia. Cerca de 80 a 120 dias após a semeadura do nabo forrageiro, foram realizados os manejos referentes a cada tratamento (sistemas e épocas), levando em consideração a data de semeadura do milho, ocorrida em 16 de setembro de 2019. Os manejos, que totalizam 8 tratamentos, foram: 1) T = Testemunha (ausência de plantas de nabo, ou seja, mantido em pousio desde 09 de junho de 2019, após dessecação); 2) RF-30DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo simulando equipamento rolo faca 30 dias antes da semeadura de milho; 3) H-30DAS = Manejo químico das plantas de nabo 30 dias antes da semeadura de milho; 4) RF-15DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo simulando equipamento rolo faca 15 dias antes da semeadura de milho; 5) H-15DAS = Manejo químico das plantas de nabo 15 dias antes da semeadura de milho; 6) S-00DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo com semeadora direta no dia da semeadura de milho; 7) T-00DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo com equipamento triturador no dia da semeadura de milho; e 8) RF-00DAS = Manejo mecânico das plantas de nabo simulando equipamento rolo faca, no dia da semeadura de milho. Para o manejo químico das plantas de nabo utilizou-se mistura dos herbicidas 2,4-D (2 L.ha-1) mais Glifosato (3L.ha-1). Na semeadura milho foi utilizado o híbrido Agroceres AG 9025, com espaçamento de 45
cm entre linhas, distribuídas 3,6 plantas/metro linear, numa velocidade de semeadura de 4 à 5 km.h1.
A taxa de cobertura do solo foi determinada em três momentos distintos: i) no dia do manejo do nabo forrageiro (após a realização do manejo); ii) no dia da semeadura do milho (antes da semeadura); e iii) imediatamente após a semeadura do milho, com uso de quadrado de madeira de 1,0 m de lado, com rede de barbantes espaçados a cada 0,10 m, em que a presença ou não de qualquer cobertura vegetal dentro dos espaços entre os barbantes foi empregada para determinar a cobertura do solo proporcionada (%). A taxa de exposição do solo seguiu a mesma metodologia citada acima, porém foi realizada apenas imediatamente após à semeadura do milho.
Realizou-se a contabilização das plantas daninhas na área de 1 m² de cada parcela aos 28 dias após a emergência da cultura do milho (DAE), ocorrido em 25 de outubro de 2019.
A análise estatística consistiu em submeter os dados à análise de variância (p < 0,05) e quando significativa, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, considerando 5% de probabilidade de erro. As análises foram realizadas com o auxílio do programa estatístico Sisvar® 5.6 (FERREIRA, 2006).
Na tabela 1, observa-se que maiores taxas de cobertura de solo após o manejo do nabo forrageiro, foram encontradas nos tratamentos RF-00DAS, T-00DAS, H-15DAS, RF-15DAS, pois, no momento da semeadura do milho a cultura do nabo já havia cessado seu crescimento recobrindo totalmente a área com matéria verde. De igual forma, quando os manejos H-15DAS e RF 15DAS foram realizados, as plantas já haviam atingido 102 dias de desenvolvimento de seu ciclo, fazendo com que houvesse parcial/total recobrimento do solo. Os dados corroboram com Calegari (1990), onde constata que nabo forrageiro se caracteriza por possuir um rápido crescimento inicial promovendo a cobertura de 70% do solo aos 60 dias após a emergência.
Maiores taxas de cobertura anteriormente à semeadura do milho foram encontradas nos tratamentos RF-00DAS eT-00DAS, não diferindo de S-00DAS, H-15DAS e RF-30DAS (Tabela 1). Era de se esperar que os tratamentos de manejo imediatamente anterior à semeadura apresentassem maior cobertura, porém a elevada taxa de cobertura observada em RF-30DAS é explicada pela elevada incidência de plantas daninhas nesse tratamento, pois como o nabo forrageiro se apresentava em total decomposição, ocorreu o surgimento de papuã (Brachiaria plantaginea) e azevém (Lolium multiflorum L.), que contribuíram para um recobrimento do solo (Tabela 1). Estes dados corroboram com os encontrados por Crusciol et al. (2005), onde revelou que a decomposição dos resíduos do nabo forrageiro aos 53 dias após a emergência da cultura do milho, restaram somente 27,5% da quantidade inicial de fitomassa, visto que a palhada de nabo apresenta baixa persistência em relação às gramíneas. Porém, todos os tratamentos citados acima, mantiveram a cobertura da superfície do solo superior a 80%, taxa de cobertura considerada como limite mínimo, para que as perdas por erosão sejam reduzidas a valores aceitáveis (SALTON, et al., 1995).
A maior taxa de cobertura após semeadura do milho foi constatada no tratamento S-00DAS sem diferir de RF-30DAS, pelas mesmas razões já apresentadas. A semeadura direta sobre os resíduos vegetais ainda verdes minimizou a mobilização do solo, restringindo-a apenas à linha de semeadura. Conforme pode ser observado na tabela 1, a pior média de taxa de exposição do solo, se constata na testemunha (T), não diferindo de RF-15DAS, H-30DAS e H-15DAS, nos quais podese justificar em razão do pousio (no primeiro caso) e do manejo em dias com grande antecedência à semeadura do milho, durante os quais o resíduo vegetal do nabo já havia iniciado sua decomposição e durante a semeadura do milho pode ter sido incorporado ao solo.
Conclusão
Maiores taxas de cobertura do solo e menor número de plantas daninhas aos 28 DAE do milho são obtidas quando o manejo do nabo é realizado mais próximo à semeadura de milho.
O manejo mecânico das plantas de nabo simulando equipamento rolo faca 30 dias antes da semeadura de milho (RF-30DAS) não se mostra eficiente, especialmente quanto ao controle de plantas daninhas.
Referências
CALEGARI, A. Plantas para adubação verde de inverno no sudoeste do Paraná. Londrina: Iapar, 1990. 37p. (Boletim Técnico, 35).
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/infoagro/safras/graos>. 2020.
CRUSCIOL, C.A.C.; COTTICA, R.L.; LIMA, E.V.; ANDREOTTI, M.; MORO, E. & MARCON, E. Persistência de palhada e liberação de nutrientes do nabo forrageiro no plantio direto. Pesq. Agropec. Bras., 40:161-168, 2005.
EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2018. 5ª ed.
FERREIRA, D.F. SISVAR. 2006. Disponível em: <http://www.dex.ufla.br/~danielff/programas/sisvaremjava.html>.
RIZZARDI, M.A. et al. Controle de plantas daninhas em milho em função de quantidades de palha de nabo forrageiro. Planta daninha vol.24 no.2 Viçosa Apr./June 2006. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-83582006000200008>.
SALTON, J.C. et al. NABO FORRAGEIRO Sistemas de Manejo. 1995. Disponível em:<https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/237485/1/DOC71995.pdf>.
Informações sobre os autores:
¹ Acadêmica (o) do Curso de Agronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Ibirubá/RS. E-mail: gaby_benini@hotmail.com; antonio_rossatto@hotmail.com; leonardo.sander@ibiruba.ifrs.edu.br; joaopaulo.hubner@hotmail.com; williamnathanielbattudoamaral@gmail.com
² Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Ibirubá/RS. E-mail: daniela.santos@ibiruba.ifrs.edu.br
³ Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria/RS. E-mail: julianodalcinmartins@gmail.com