Além de radiação solar e nutrientes, para expressar seu potencial produtivo, a soja necessita de condições adequadas de disponibilidade hídrica, podendo o déficit hídrico, ser considerado um dos principais, se não o principal fator limitante da produtividade da cultura. Em média, o requerimento hídrico da soja varia de 450 mm a 800 mm ao longo do seu ciclo, sendo que o consumo máximo de água é observado durante o período reprodutivo da cultura, mais especificamente nas fases de floração e enchimento de grãos, onde tem-se volumes de evapotranspiração variando de 7 mm a 8 mm dia-1 (PAS Campo, 2005).
Figura 1. Exemplo de evapotranspiração (ET) diária, nos diferentes estádios de desenvolvimento de cultivares de soja de tipo de crescimento determinado.
Em cultivos irrigados, o correto manejo da irrigação possibilita a não ocorrência de estresses hídricos na cultura da soja, contribuindo para a obtenção de boas produtividades, entretanto, em cultivos de sequeiro (sem irrigação), isso não é possível. Dessa forma, para essas áreas de produção, deve-se buscar manejos alternativos que possibilitem reduzir a perda de água do solo por evaporação, aumentando a disponibilidade hídrica para as plantas.
Uma das principais e mais utilizadas ferramentas para isso é a cobertura do solo. Embora a cobertura permanente do solo seja uma das premissas do sistema plantio direto, ainda há certa carência em relação a adoção de plantas de cobertura e/ou culturas visando a boa cobertura do solo. A cobertura do solo funciona como proteção, reduzindo a amplitude de temperatura e, por consequência, diminuindo a evaporação. Em períodos de estiagem, isso representa economia de até 20 % de água (Furlani et al., 2008).
A redução da temperatura máxima do solo, amplitude térmica dele e consequentemente evaporação de água no solo contribui significativamente para a manutenção da umidade do solo e disponibilidade hídrica para as plantas. Avaliando a evaporação e temperatura em solos mantidos com diferentes quantidades de resíduos em cobertura, Almeida (2011) observou que a presença de 4 t ha-1 de resíduos de aveia em cobertura do solo já é suficiente para reduzir significativamente a perda de água do solo por evaporação, contribuindo para a melhor disponibilidade hídrica.
Além de auxiliar na conservação da água no solo, a boa cobertura superficial do solo com resíduos vegetais possibilita ainda a redução dos fluxos de emergência de plantas daninhas fotoblásticas positivas, reduzindo a matocompetição por recursos como água, radiação solar e nutrientes do solo. De maneira geral, recomenda-se adotar a rotação de culturas, de modo a garantir produção abundante de massa seca vegetal, em torno de 6 a 8 t ha-1, para cobertura do solo (PAS Campo, 2005).
Veja mais: Relação de ocorrência de plantas daninhas com as características do solo
Referências:
ALMEIRA, R. E. EVAPORAÇÃO E TEMPERATURA EM SOLOS MANTIDOS COM DIFERENTES QUANTIDADES DE RESÍDUOS EM SUPERFÍCIE. UFSM, Tese de Doutorado, 2011. Disponível em: < https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/3595/ALMEIDA%2C%20RODRIGO%20ELESBAO.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 31/12/2021.
FURLANI, C. E. A. et al. TEMPERATURA DO SOLO EM FUNÇÃO DO PREPARO DO SOLO E DO MANEJO DA COBERTURA DE INVERNO. R. Bras. Ci. Solo, 32:375-380, 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbcs/a/JTCmCRcX47wBwqX4cdwGX6x/?lang=pt >, acesso em: 31/12/2021.
PAS CAMPO. MANUAL DE SEGURANÇA E QUALIDADE PARA A CULTURA DA SOJA. Embrapa Transferência de Tecnologia, 2005. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/25249/1/MANUALSEGURANCAQUALIDADEParaaculturadesoja.pdf >, acesso em: 31/12/2021.
SEIXAS, C. D. S. et al. TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA. Embrapa Soja, 2020. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1123928/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 31/12/2021.