A mosca-da-haste (Melanagromyza sojae) é uma espécie de ciclo rápido (média de 21 dias de ovo a adulto) e alta taxa reprodutiva (média de 85 ovos por fêmea, podendo chegar a 170), possibilitando a ocorrência de três ou mais ciclos do inseto em um ciclo da cultura da soja. Como consequência, as lavouras podem ser rapidamente colonizadas pela praga, sendo comum a ocorrência simultânea de várias larvas e pupas em uma mesma planta (POZEBON et al., 2020).
O ciclo inicia-se com a fêmea depositando seus ovos, preferencialmente em folíolos jovens, inclusive nos unifólios (Figura 1). Cada fenda perfurada pelo inseto no limbo foliar irá abrigar um ou dois ovos. Após dois a quatro dias, os ovos eclodem e as larvas iniciam a perfuração do mesófilo foliar em direção à nervura central, buscando atingir a haste principal da planta através do pecíolo (TALEKAR, 1989). Em média, cada larva é capaz de consumir 1,4 mm de tecido foliar por hora. Portanto, o intervalo entre a emergência da larva e sua entrada na haste principal é de cerca de dois dias. Após esse período, as possibilidades de controle reduzem drasticamente, já que o inseto torna-se praticamente inatingível por pulverizações de inseticida.
Figura 1. Adulto de M. sojae ovipositando (esquerda) e pupa no interior da galeria formada (direita)
Fonte: VITORIO et al. (2018). Confira a imagem original, Clicando aqui.
A região central da haste, ou medula, é o local de alimentação da larva. Como resultado desse processo, formam-se galerias ou túneis de coloração avermelhada, facilmente identificáveis. Tipicamente, a haste é broqueada no sentido descendente, (VAN DEN BERG et al.,1998). Caso a larva tenha emergido em um unifólio, a galeria formada pode ultrapassar a região do hipocótilo e chegar até a raiz principal. Se em seu caminho descendente a larva deparar-se com um segmento já broqueado por outra larva, ela irá inverter o sentido de alimentação e passará a mover-se de forma ascendente na planta, podendo atingir até mesmo o ponteiro e, consequentemente, ocasionar sua murcha.
O período total da fase larval dura de 7 a 12 dias. Pouco antes de tornar-se pupa, a larva perfura um orifício de saída na epiderme da planta (Figura 2) e cobre-o com detritos; este será o local de saída do adulto quando completar sua metamorfose. Ao final de mais um período de 7 a 12 dias, a pupa torna-se adulto e está livre para colonizar novas plantas e reiniciar o ciclo de infestação.
Figura 2. Representação do terço inferior de uma planta de soja atacada por M. sojae, detalhando as galerias de alimentação, locais de formação da pupa (P) e orifícios de saída (OS).
Fonte: VAN DEN BERG et al. (1998). Confira a imagem original clicando aqui.
É importante ressaltar que a larva é a única fase de vida da praga que efetivamente causa danos econômicos à cultura: embora o adulto faça puncturas nas folhas para alimentar-se e ovipositar, tais injúrias não se refletem em redução de produtividade. Por outro lado, as possibilidades de controle pós-emergência restringem-se basicamente aos adultos: ao sobrevoar a lavoura para colonizar novas plantas, tornam-se alvos em potencial para pulverização de inseticidas, ao passo que larvas e pupas permanecem enclausuradas e protegidas no interior das hastes.
Outras possibilidades de controle incluem tratamento de sementes, visando frear infestações no estabelecimento da cultura; e inseticidas com ação ovicida e efeito translaminar na folha, visando atingir os ovos depositados no mesófilo (CURIOLETTI et al., 2018). Independente da estratégia escolhida, a janela de controle restringe-se ao período anterior à entrada da larva na haste principal, e ao período posterior à emergência do adulto; no intervalo compreendido entre esses dois momentos críticos, as chances de controle são praticamente nulas.
Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
CURIOLETTI, L. E. et al. First insights of soybean stem fly (SSF) Melanagromyza sojae control in South America. Australian Journal of Crop Science, v. 12, p. 841-848, 2018.
POZEBON, H. et al. Arthropod invasions versus soybean production in Brazil: a review. Journal of Economic Entomology, v. 113, n. 4, p. 1591–1608, 2020.
TALEKAR, N. S. Characteristics of Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae) damage in soybean. Journal of Economic Entomology, v. 82, p. 584-588, 1989.
VAN DEN BERG, H.; SHEPARD, B.; NASIKIN, B. M. Response of soybean to attack by stemfly Melanagromyza sojae in farmer’s fields in Indonesia. Journal of Applied Ecology, v. 35, n. 4, p. 514-522, 1998.
VITORIO, L. et al. First record of the soybean stem fly Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae) in Bolivia. Genetics and Molecular Research, v. 18, gmr18222, 2019.