A temperatura desempenha um papel crucial no desempenho das lavouras de soja, influenciando diretamente processos fisiológicos e bioquímicos essenciais para o desenvolvimento das plantas, como fotossíntese, transpiração, respiração, germinação e floração. Entender como as variações térmicas impactam o crescimento, a produtividade e os desafios associados ao estresse térmico é fundamental para o manejo eficiente da cultura, especialmente diante de cenários de aquecimento global.
A temperatura influencia todos os estágios do ciclo de desenvolvimento. Entre a semeadura e a emergência, a cultura se desenvolve em uma faixa de temperaturas entre 5°C e 45°C, sendo a temperatura ótima para o desenvolvimento inicial de 31,5°C (Figura 1). Entretanto, temperaturas abaixo de 5°C ou acima de 45°C cessam completamente o desenvolvimento das plantas. Além disso, em condições de altas temperaturas, acima de 35°C, o solo desnudo pode atingir entre 50°C e 60°C, causando a morte de plântulas por “tombamento por calor”. Essa fase inicial é decisiva para o sucesso da lavoura, pois define o número de plantas por hectare e exige sementes de alto vigor para superar condições adversas.
Figura 1. Temperaturas cardinais para a cultura da soja: Tmin, Totm e Tmax significam temperatura mínima, ótimo e máxima, respectivamente.
Durante o desenvolvimento vegetativo, que compreende os estágios de crescimento V1 a Vn, as temperaturas cardinais da soja são de 7,6°C para a temperatura basal inferior, 31°C para a temperatura ótima e 40°C para a temperatura basal superior. Temperaturas acima de 40°C podem provocar danos significativos, como necrose foliar, devido à formação de espécies reativas de oxigênio e à peroxidação de lipídeos das membranas celulares, comprometendo a saúde e o crescimento das plantas.
Na fase reprodutiva, que engloba o florescimento e a formação de grãos, a soja se torna ainda mais sensível a extremos térmicos. Temperaturas acima de 40°C podem causar o abortamento de flores e legumes, reduzindo o número de vagens por planta e, consequentemente, o potencial produtivo. A temperatura ideal para essa fase é de 25°C, o que explica o maior rendimento obtido em regiões de maior altitude, como Vacaria e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, onde as noites mais frescas favorecem o desenvolvimento da cultura. Em contrapartida, regiões de menor altitude, como a Região das Missões, apresentam noites mais quentes, o que pode limitar a produtividade.
O estresse térmico causado por altas temperaturas é uma preocupação crescente na sojicultura, especialmente em cenários de aquecimento global. Durante o verão de 2021/22, ondas de calor intensas atingiram o Sul do Brasil, com temperaturas acima de 35°C durante vários dias consecutivos. Esse calor extremo causou danos irreversíveis às folhas de soja, comprometendo a interceptação de radiação solar e resultando em perdas significativas de potencial produtivo (Figura 2).
Figura 2. Danos causados em folhas de soja devido ao estresse térmico durante o mês de dezembro/2021 e janeiro/2022 em Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Danos foliares registrados no dia 03 e 04 de janeiro de 2022.
Compreender a relação entre temperatura e desenvolvimento da soja é essencial para que os produtores enfrentem os desafios climáticos e explorem o máximo potencial de suas lavouras. Estratégias de manejo, como o uso de sementes vigorosas, a escolha de cultivares mais adaptadas às condições de estresse térmico e a adoção de práticas agrícolas que reduzam o aquecimento do solo, são fundamentais para mitigar os efeitos das condições extremas. Assim, com planejamento e manejo adequado, é possível garantir maior estabilidade produtiva e adaptar a sojicultura às mudanças climáticas, preservando sua viabilidade e sustentabilidade.
Referências bibliográficas
Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades 2. ed. Santa Maria, 2022.