O controle da cigarrinha-do-milho vem se tornando mais importante nas últimas safras, em virtude das altas incidências do complexo de enfezamento e outras doenças ocasionadas pelo ataque dessa praga na cultura do milho.
Primeiramente é preciso entender que a cigarrinha (Dalbulus maidis) é capaz de sobreviver em diferentes regiões do país e consegue migrar a longas distancias. Além disso, ela pode sobreviver ao inverno da região sul do Brasil se abrigando em plantas guaxas de milho, ou migrando para regiões mais quentes. Somado a isso, quando infectada por molicutes, possui maior capacidade de resistir a condições adversas (Oliveira et. al., 2002; Ebbert & Nault, 1994).
O inseto em si não representa um grave problema à cultura do milho; porém, ao alimentar-se da seiva de plantas doentes, o mesmo adquire os molicutes (causadores dos enfezamentos pálido e vermelho) ou o vírus da risca, que se alojam e se desenvolvem nas glândulas salivares do inseto. Assim, quando a cigarrinha se alimenta de plantas sadias, acaba transmitindo as doenças, tornando-se um vetor para esses patógenos altamente infecciosos e danosos (Figura 1).
Figura 1. Plantas de milho com sintomas foliares associados ao complexo de enfezamentos, em Santa Maria-RS (2021).
Foto: Henrique Pozebon
A ocorrência desse inseto é ampla e se espalha por quase todas as regiões do país, migrando sempre para áreas novas de plantio através de vôos migratórios e encontrando “pontes verdes” durante praticamente o ano todo, seja de safra ou safrinha do milho. Para obter o controle desse inseto-vetor, é necessária uma abordagem integrada com diferentes estratégias. Além disso, o controle por parte dos vizinhos em cada local também é fundamental pois, como visto anteriormente, a cigarrinha possui capacidade de migrar entre lavouras e para outras regiões, preferindo sempre atacar plantas mais novas (Portal Syngenta, 2018).
O controle químico tem como objetivo principal evitar o acúmulo de populações de insetos dentro de uma área. Atualmente existem 30 produtos registrados na cultura do milho para essa praga, sendo em sua maioria do grupo químico dos neonicotinoides, piretroides e organofosforados (Agrofit, 2021).
De acordo com Silveira (2019), o tratamento de sementes é uma ferramenta que auxilia no controle da cigarrinha nos estágios iniciais da cultura, sendo que em seus estudos o tratamento com clotianidina (neonicotinoide) forneceu maior proteção às plantas de milho. Ainda, o trabalho mostrou que a aplicação de neonicotinoides via tratamento de sementes apresentou melhor desempenho do que via pulverização em parte aérea. Não obstante, o controle via pulverização foliar também fornece proteção às plantas, sendo que o tratamento foliar com o inseticida metomil (metilcarbamato de oxima) resultou em maior mortalidade de insetos quando comparado aos outros tratamentos (Figura 2).
Figura 2. Eficiência do tratamento de sementes (A) e pulverização aérea (B) com diferentes inseticidas e estágios fenológicos do milho, após 120 h de confinamento dos insetos sobre plantas de milho (10 adultos/planta).
Fonte: Silveira, 2019.
Somado a isso, a Fundação MS avaliou a eficácia de diferentes inseticidas no controle da cigarrinha em plantas de milho cultivadas na segunda safra em 2020. Os produtos mais eficientes no controle de D. maidis e que atingiram 80% de controle em pelo menos três avaliações foram acefato, nas formulações comerciais Perito (1000 ml/ha) e Orthene (1000 e 1200 ml/ha); bifentrina + carbossulfano, na formulação comercial Talisman (600 ml/ha); e etiprole, na formulação comercial Curbix em duas doses diferentes (750 e 1000 ml/ha). Ressalta-se que foram realizadas duas aplicações de cada inseticida, de forma que a primeira aplicação ocorreu no início da infestação e a segunda aos cinco dias após a primeira aplicação.
O controle biológico com o fungo Beauveria bassiana também tem sido utilizado e demonstrado eficiência satisfatória de controle de cigarrinha no campo. Esse produto deve ser aplicado assim que forem identificados os primeiros focos de infestação da praga e sempre no final do dia, nas horas frescas, ou em dias nublados. Esse fungo é endofítico, ou seja, coloniza os tecidos internos da planta para depois infectar os órgãos internos do inseto, causando a sua morte. De acordo com Silva et. al. (2009), observou-se que a melhor eficiência do fungo ocorre aos cinco dias após a aplicação.
Ademais, é recomendado sempre usar híbridos tolerantes ao complexo de enfezamentos, adaptados e recomendados para as épocas de plantio de cada região. No entanto, estudos de Virla et. al. (2010), demonstraram que plantas de milho Bt apresentam maior incidência de cigarrinha do que híbridos convencionais, sugerindo que os efeitos do mecanismo genético do milho Bt podem atrair adultos ou que a ausência de lagartas reduz a competição entre as pragas pelo cartucho da planta e favorece a proliferação de cigarrinhas.
Figura 3 – Híbridos de milho com baixa e alta suscetibilidade ao complexo de enfezamento, à esquerda e à direita, respectivamente.
Foto: Henrique Pozebon
Já o controle cultural passa por eliminar plantas tigueras que permitem a sobrevivência e multiplicação da cigarrinha durante a entressafra, além de servir como fonte de inóculo para doenças como os enfezamentos. Somado a isso, outras gramíneas como o sorgo e algumas plantas daninhas (por exemplo, braquiária) podem servir de abrigo para a praga, embora sua reprodução ocorra somente na presença da cultura do milho. Em alguns casos, estabelecer um intervalo de pousio antes da semeadura do milho torna-se uma alternativa interessante, buscando um vazio sanitário na área.
Ainda nesse contexto, é importante se atentar em concentrar a semeadura de diferentes áreas em datas próximas, se possível incluindo os vizinhos, evitando assim a ocorrência de “pontes verdes” e a migração do inseto entre as áreas. Recomenda-se também que não seja efetuada a semeadura ao lado de lavouras com plantas adultas já infectadas e passíveis de transmissão ocasionada pela cigarrinha.
Elaboração do texto: Rodrigo Krammes, estudante do Curso de Agronomia na UFSM e membro do grupo Manejo e Genética de Pragas – UFSM
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
Agrofit. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Disponível em http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso em: 23.05.2021.
Ebbert M.A., Nault L.R. Improved Overwintering Ability in Dalbulus maidis (Homoptera: Cicadellidae) Vectors Infected with Spiroplasma kunkelii (Mycoplasmatales: Spiroplasmataceae). Environmental Entomology. Volume 23. 1994. Disponível em https://academic.oup.com/ee/article-abstract/23/3/634/417953?redirectedFrom=fulltext
Grigolli J.F.J. Controle de Cigarrinha do Milho Dalbulus maidis em Plantas de Milho de Segunda Safra. Fundação MS. Maracaju – MS, 2020.
Oliveira C.M., Molina R., Albres R., Lopes J.R.S. Disseminação de molicutes do milho a longas distancias por Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae). Fitopatologia Brasileira. 2002. Disponível em https://www.scielo.br/pdf/fb/v27n1/8475.pdf
Portal Syngenta. Cigarrinha-do-milho: dicas para controlar a praga na lavoura. Syngenta Brasil. 2018. Disponível em https://portalsyngenta.com.br/noticias-do-campo/cigarrinha-do-milho-dicas-para-controlar-a-praga-na-lavoura
Silva A.H., Toscano L.C., Maruyama W.I., Pereira M.F.A., Cardoso S. de M. Bol. San. Veg. Plagas,35:657-664,2009Controle de Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae) Delong &Wolcott (1923) por Beauveria bassianana cultura do milho. Boletin de Sanidad Vegetal Plagas. 2009. Disponível em https://docplayer.com.br/56217850-Controle-de-dalbulus-maidis-hemiptera-cicadellidae-delong-wolcott-1923-por-beauveria-bassiana-na-cultura-do-milho.html
Silveira C.H. Eficácia de inseticidas no controle de Dalbulus maidis (DeLong & Wolcott) (Hemiptera: Cicadellidae) e da transmissão de espiroplasma do milho. Dissertaçao de Mestrado USP – Piracicaba. 2019. Disponível em https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11146/tde-20012020-162602/pt-br.php
Virla E.G., Casuso M., Frias E.A. A preliminary study on the effects of a transgenic corn event on the non-target pest Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae). Elsevier – Crop Protection. 2010. Disponível em https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0261219409003305