Para um controle eficiente dos tripes, é preciso que se realize uma combinação de táticas de monitoramento e controle específicas, pois são insetos que apresentam características bastante particulares.
Foto de capa: Folha de soja com infestação de tripes da espécie C. brasiliensis. (Fonte: Maurício Pasini em UFSM)
Você sabe como controlar estas pragas em soja?
Conheça as principais informações deste inseto-praga, no texto a seguir!
O que são tripes?
Os tripes são pequenos insetos sugadores, medem entre 0,5 a 15 mm, possuem uma coloração amarelada quando estão na fase jovem e no momento em que se tornam adultos, passam a apresentar uma cor escura. A fase jovem destes insetos não possui asas, diferente dos adultos, que possuem asas franjadas. O ciclo de vida dos tripes é, em média, de 15 dias.
Adulto (esquerda) e ninfa (direita) de tripes da espécie Caliothrips phaseoli. (Fonte: Universidade da Flórida)
As espécies desta praga agrícola são encontradas nas mais variadas culturas, onde se alimentam das plantas e causam lesões esbranquiçadas nas folhas, por conta da sucção do conteúdo celular que realizam. Nas lavouras que tem grande infestação de tripes, as folhas das plantas ficam com uma tonalidade prateada ou acinzetada e se tornam bronzeadas posteriormente.
Folhas de soja atacada por tripes. (Fonte: Revista Agrocampo)
Um dos danos é pelo fato de as ninfas de tripes removerem a camada de cera que protege a folha de soja de desidratação. Em decorrência disto e associado com as lesões causadas pela alimentação da praga, as plantas sofrem uma maior transpiração e perda de água na planta, o que as torna menos resistentes e em épocas de escassez hídrica, elas murcham rapidamente.
Além disso, estes danos fazem com que o cultivo se torne mais suscetível ao ataque de outros patógenos.
O vírus da queima-do-broto da soja
Os danos causados por tripes não são só provenientes da alimentação destes insetos, eles também são vetores de vírus para as plantas. Para o cultivo de soja, são transmissores do patógeno que causa o vírus da queima-do-broto.
Os sintomas causados pelo vírus nas folhas são de pequenas manchas amarelas e após o estabelecimento da infecção, o vírus se transloca na planta. Por conta da doença, a planta para de crescer e se desenvolver, se torna curvada e o broto apical necrosa e morre, dando o nome a doença: queima do broto.
Planta com sintoma de queima do broto apical e vagem de soja com danos causados pelo vírus. (Fonte: IPM Images e CropLife)
Há casos em que as plantas conseguem sobreviver, mas estas geralmente apresentam superbrotamento e nanismo, além de não produzirem vagens. Prejuízos que podem ser significativos para a lavoura.
Os tripes não nascem com este vírus, precisam adquiri-lo em uma planta infectada para que comece a transmitir para as plantas. O hospedeiro mais comum do vírus da queima-do-broto é associado a planta daninha conhecida popularmente como Cravorana (Ambrosia artemisiifolia). As inflorescências desta planta são um habitat onde os tripes costumam manter uma alta população.
Planta de Cravorana. (Fonte: Wild Flowers).
Condições que favorecem a infestação de tripes
As condições ambientais que contribuem para o estabelecimento da população nas lavouras de soja são quando há períodos de seca, solos com baixa fertilidade, solos compactados e o vento, que realiza a dispersão destas pragas.
As espécies nocivas encontradas mais frequentemente nos cultivos agrícolas são:
- Frankliniella schultzei
- Caliothrips brasiliensis
- Caliothrips phaseoli
Folha de soja com infestação de tripes da espécie C. brasiliensis. (Fonte: Maurício Pasini em UFSM)
A escassez de água é o principal agravante do ataque de tripes na lavoura. O estresse hídrico causado nas plantas devido à falta de água é uma condição que permite o estabelecimento dos tripes, bem como o desenvolvimento de altas populações, as quais após atingirem o estádio adulto, se dispersam e causam os danos em toda a lavoura.
O vento é um importante mecanismo de locomoção destes insetos pelo seguinte fato: apesar de possuírem asas, a capacidade de voo dos tripes é limitada. Por isso, estes pequenos insetos utilizam o vento para que sejam levados a longas distâncias.
Como controlar os tripes
Determinados hábitos que estas pragas possuem fazem com que o monitoramento e o controle sejam bastante específicos.
- Aplicar inseticidas com ação translaminar: algumas espécies de tripes têm o hábito de permanecerem na região abaxial das folhas. Por isso, o mais indicado é o uso de inseticidas que possuem o modo de ação translaminar, para que atinjam o local onde ninfas e adultos estão localizados.
- Monitorar a presença de ninfas e adultos na lavoura desde o período inicial do cultivo: A postura dos ovos dos tripes também é bastante característica, é uma postura endofitica. O que quer dizer que as fêmeas colocam os ovos dentro da folha da planta de soja. Este hábito dificulta o monitoramento, uma vez que não é possível identificar a olho nu os ovos desta praga. Portanto, é essencial monitorar a lavoura desde as fases iniciais de desenvolvimento, para que você possa entrar com uma medida de controle assim que constatar o ataque nas plantas.
Você pode realizar o monitoramento da lavoura com armadilhas que capturam os adultos assim que adentram no cultivo, assim como o tamanho da população de insetos que está presente na cultura.
- Liberar insetos benéficos que controlam tripes: existem insetos benéficos que são inimigos naturais dos tripes e podem ser adquiridos para liberar no campo e controlarem estas pragas. O predador Orius insidiosus é um inseto que está disponível para compra com este objetivo de uso. Ele possui um comportamento similar ao dos tripes: seu ciclo de vida é de aproximadamente 15 dias e eles buscam o polén das flores, local onde os tripes comumente se encontram. Desta maneira, desde os estádios jovens o predador já se alimenta e controla os tripes no campo, fazendo deste uma ótima tática de controle.
Armadilha adesiva para monitoramento de tripes (esquerda) e o inseto Orius insidiosus predando ninfa de tripes. (Fonte: PROMIP e Buglogical)
- Utilizar o controle cultural: como citamos anteriormente, as plantas de Cravorana servem como um habitat para as populações de tripes, nestas plantas elas mantém uma alta densidade populacional, e assim que a lavoura de soja é implantada, os insetos migram e passam a infestar a cultura. Além disso, esta espécie de planta é o local onde os tripes adquirem o vírus da queima-do-broto. Diante disto, é necessário impedir que este ciclo aconteça. Portanto, busque realizar um controle das plantas infestantes e restos culturais próximos ao cultivo.
Conclusão
Utilize as estratégias que mais se adequam a sua realidade, mas não deixe de monitorar esta praga para evitar perdas econômicas na lavoura.
Se utilizar o controle químico, lembre-se de aplicar produtos que sejam registrados para a praga na soja.