Os nematoides fitopatogênicos vêm crescendo em importância no sistema produtivo e ganhando espaço no cenário agrícola brasileiro, como um dos principais problemas fitossanitários da sojicultura, podendo inclusive inviabilizar algumas áreas de cultivo com esta cultura (Grigolli & Grigolli, 2018). Os danos variam em função da espécie de fitonematoide que acomete a soja, mas normalmente, são observados em reboleiras nas lavouras, podendo ocorrer desde redução do porte da planta, a lesões no seu sistema radicular.

Dentre as principais espécies de expressão econômica, Grigolli & Grigolli (2018) destacam o nematoide das galhas (Meloidogyne spp.), o nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines), o nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis) e o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus). Por ser consideradas pragas de solo, o manejo e controle dos nematoides em áreas agrícolas é extremamente complexo e limitado. Embora existam nematicidas para o controle de fitonematoides, para um controle eficiente é necessário que o defensivo alcance o alvo (praga), o que limita a performance da maioria dos produtos.

Com isso em vista, o controle químico dos fitonematoides com o emprego de nematicidas nem sempre é a alternativa mais eficiente, sendo necessário adotar distintas estratégias de manejo. Segundo Debiasi et al. (2013), para fitonematoides como o Pratylenchus brachyurus, sistemas de rotação e sucessão da soja com culturas não hospedeiras são os métodos mais promissores de manejo de nematoides.

Pensando na sustentabilidade do sistema plantio direto (SPD) e no manejo de nematoides na soja, algumas culturas apresentam aptidão para formar palhada e manejar nematoides no sistema de produção. Espécies como aveia preta, nabo-forrageiro, girassol e sorgo granífero, são interessantes alternativas para integrar o sistema de rotação de culturas e manejar nematoides (tabela 1).

Com o intuído de controlar os fitonematoides em soja, é essencial inserir culturas com baixo fator de reprodução da praga no sistema de produção. Da mesma forma, deve-se dar preferência por culturas que não sejam hospedeiras dos nematoides e/ou não apresentem sensibilidade a eles, tais como milho, sorgo, milheto e braquiária.

Tabela 1. Culturas para formação de palhada no SPD e efeitos sobre os fitonematoides*

* Verde escuro mostra que a cultura não é hospedeira, reduzindo, portanto, a população do nematoide; branco indica que a cultura é boa hospedeira e aumenta a população do nematoide; verde claro é utilizada para coberturas que são más hospedeiras ou que apresentam respostas variáveis (varia de cultivar para cultivar)
Fonte: Inomoto & Asmis (2009)

Vale resaltar que além das culturas agrícolas, uma diversidade de plantas daninhas pode atuar como hospedeiras dos fitonematoides, contribuindo para a manutenção e sobrevivência das populações deles nas áreas de cultivo (figura 1). Sendo assim, o manejo de plantas daninhas na área é uma medida extremamente importante para o controle dos fitonematoides. Segundo Kuhnem (2022), a grande maioria das plantas daninhas frequentes nas lavouras são suscetíveis a pelo menos uma espécie de nematoide (Tabela 2), possibilitando a sobrevivência e a reprodução dos nematoides para a próxima safra, principalmente no período de entressafra em áreas de pousio.

Tabela 2. Relação de algumas plantas daninhas ao nematoide das galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita) e nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus).

Mj = Meloidogyne javanica; Mi = Meloidogyne incognita; Pb = Pratylenchus brachyurus. S = suscetível; I = imune; R = resistente; S/I = sem informação Fonte: Kuhnem (2022)

Considerando que grande parte das plantas daninhas são capazes de hospedar espécies de nematoides fitopatogênicos, e que reduzir a taxa de reprodução desses nematoides é essencial para o bom manejo e controle da praga, o controle de plantas daninhas durante o período entressafra da soja é essencial para manejar os nematoides. Além disso, vale destacar que alguns solos estão mais propensos ao desenvolvimento dos nematoides.

Figura 1. Galhas de Meloidogyne incognita em raízes de Ipomoea triloba (corda-de-viola).

Fonte: Giraldeli (2015)

Conforme destacado por Inomoto & Asmis (2009), temperatura e textura do solo são os dois fatores ambientais com maior influência sobre o desenvolvimento dos nematoides. Solos com texturas mais arenosas (menos de 10% de argila), atrelados a condições de temperaturas na faixa de 29 a 31°C favorecem o desenvolvimento do fitonematoides M. javanica. De modo geral, solos de texturas mais leves (com menor teor de argila), tendem a apresentar condições melhores para o desenvolvimento dos fitonematoides, e por isso, devem receber atenção especial no manejo.

Sendo assim, medidas de manejo complementares ao controle químico dos fitonematoides, tais como a rotação de culturas, o uso de cultivares resistentes e o controle de plantas daninhas são essências para reduzir as populações dos fitonematoides nos solos agrícolas, e o impacto deles no crescimento, desenvolvimento e produtividade da soja.


Veja mais: Soja após Crotalária – aumento da produtividade e controle de nematoides



Referências:

DEBIASI, H. et al. MANEJO DO SOLO DURANTE A ENTRESSAFRA PARA REDUÇÃO DA POPULAÇÃO E DANOS DO NEMATOIDE DAS LESÕES RADICULARES EM SOJA. XXXIV Congresso Brasileiro De Ciência Do Solo, 2013. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/102408/1/Manejo-do-solo-durante-a-entressafra-para-reducao-da-populacao-e-danos-do-nematoide-das-lesoes-radiculares-em-soja.pdf >, acesso em: 02/02/2024.

GIRALDELI, A. L. HOSPEDABILIDADE DE PLANTAS DANINHAS A Meloidogyne spp. E INTERAÇÃO ENTRE HERBICIDAS E NEMATICIDAS PARA A CULTURA DE CANA-DE-AÇÚCAR. Universidade Federal de São Carlos, Dissertação de Mestrado, 2015. Disponível em: < https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/7907/DissALG.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 02/02/2024.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE NEMATOIDES NA CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2017/2018, 2018. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/httpswww.fundacaoms.org_.brpublicacoestecnologia-e-producao-safratecnologia-producao-soja-2017-2018.pdf >, acesso em: 02/02/2024.

INOMOTO, M. M.; ASMUS, G. L. CULTURAS DE COBERTURA E DE ROTAÇÃO DEVEM SER PLANTAS NÃO HOSPEDEIRAS DE NAMATOIDES. Visão Agrícola, n. 9, 2009. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Protecao04.pdf >, acesso em: 02/02/2024.

KUHNEM, P. TRIGO: UM ALIADO NO MANEJO INTEGRADO DE NEMATOIDES DA SOJA. Biotrigo Genética, 2022. Disponível em: < https://biotrigo.com.br/trigo-um-aliado-no-manejo-integrado-de-nematoides-da-soja/ >, acesso em: 02/02/2024.

 

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