De acordo com dados da CONAB (2023), a área cultivada com a soja na safra 2022/23 foi de 44.072,9 milhões de hectares, com aumento significativo de 6,2% em relação à safra anterior. A produção total de soja durante o mesmo período alcançou a marca de 154.603,4 milhões de toneladas, registrando um aumento importante de 23,1% em relação à safra anterior. Em relação a produtividade, a produtividade média foi de 3,508 kg por hectare, o que representa um aumento de 15,9% em comparação com a safra anterior.
Os números mencionados evidenciam o importante papel da soja na agricultura brasileira e sua contribuição significativa para a produção de alimentos, bem como para a economia do país. O aumento constante na área cultivada, na produção total e na produtividade reflete os esforços contínuos para aprimorar as técnicas de cultivo e proporcionar as melhores condições para o crescimento e desenvolvimento da cultura no campo, tendo isso em vista, compreender as condições favoráveis para o desenvolvimento da cultura é fundamental para garantir uma boa safra, produzindo com qualidade e garantindo a produtividade da soja.
Dentre os aspectos importantes para a produção de soja, destaca-se o manejo do solo, bem como a sua fertilidade, que são fundamentais para garantir que a planta se estabeleça e suas raízes alcancem maiores profundidades, pois é através das raízes que acontece processos importantes, como a absorção de água e nutrientes, além disso, se tratando da soja, a importância do desenvolvimento do sistema radicular está associada a nodulação e a fixação biológica de nutrientes (FBN).
O manejo do solo envolve uma série de práticas que visam proporcionar condições físicas, químicas e biológicas adequadas para que as plantas cresçam e se desenvolvam de maneira saudável, melhorar a estrutura do solo, evitando compactação, promover a aeração, estratégias para conservar a umidade do solo e evitar a erosão são importantes. Além disso, o manejo da fertilidade do solo é um aspecto essencial, proporcionar os nutrientes essenciais de acordo com as exigências nutricionais da cultura.
Assim, através da correção do solo com adubação é possível garantir para as plantas a disponibilidade dos nutriente necessários para o seu crescimento vigoroso e produção de grãos de qualidade, o manejo adequado do solo, melhorando a fertilidade que é a base para o sucesso de uma lavoura, ao garantir que as plantas se estabeleçam e aprofundem suas raízes, explorando o solo de maneira eficiente, é possível maximizar o potencial de produção da cultura com qualidade.
O sistema radicular da soja, conforme Zanon et al. (2018), é constituído por uma raiz pivotante principal e raízes secundárias. De acordo com Ferreira (2021), um sistema radicular adequadamente desenvolvido demonstra o efeito na descompactação do solo, um processo que é de extrema importância para a soja, pois promove o crescimento das raízes em volume e em profundidade, proporcionando no aumento da capacidade de absorção de água e nutrientes.
Figura 1. Sistema radicular da soja em estádio vegetativo V2.

Conforme a Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia, o sistema radicular da soja começa a se desenvolver a partir da emergência da raiz primária, que ocorre durante a germinação da semente. Havendo condições propícias, a raiz primária e suas raízes laterais podem crescer e atingir profundidades de até 1 metro no estádio vegetativo V6. Do estádio V6 ao estádio reprodutivo R2, é quando ocorre maior crescimento do sistema radicular, sendo que a maior parte desse crescimento se concentra nos primeiros 30 cm de profundidade, quando as condições são adequadas.
A Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia destaca ainda que, no estádio R2 e sob condições favoráveis, algumas raízes podem alcançar até 1,8 metro de profundidade, enquanto se estendem lateralmente de 25 a 50 centímetros. Nesse estádio, o crescimento das raízes ocorre de forma mais lenta, porém, algumas continuam a crescer até a maturidade fisiológica da soja no estádio R7.
De acordo com pesquisas realizadas por Cardoso et al. (2006), a presença de estruturas compactadas diminui a exploração do sistema radicular da soja, entretanto, observou-se que a presença de camadas compactadas no perfil do solo não afeta a produtividade da soja, quando não há restrição hídrica. As deficiências hídricas podem reduzir a disponibilidade dos nutrientes porque as raízes não podem absorvê-los e nem crescer nas camadas superficiais e mais secas do solo (Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia -NPCT).
Debiasi et al. (2022), afirmam que a profundidade do sistema radicular corresponde a extensão no perfil do solo a partir da qual as raízes das plantas conseguem efetivamente extrair água e nutrientes essenciais para o seu crescimento. O autor destaca ainda que aproximadamente 70% da umidade absorvida pelas raízes é proveniente da porção superior da zona radicular, outros 20% do terço intermediário enquanto 10% provêm do terço inferior.
Nesse contexto, o incremento da profundidade do sistema radicular está diretamente relacionado ao incremento da capacidade de água disponível (CAD), o que diminui o risco de déficit hídrico na cultura, reduzindo, consequentemente, perdas de produtividade ocasionadas por déficit hídrico.
Um estudo realizado nos Estados Unidos, em duas regiões da Pensilvânia envolvendo a determinação da profundidade de crescimento de raízes da soja em áreas com diferentes históricos de produtividade conduzido por Faé et al. (2020), observou que com o aumento da profundidade do sistema radicular da soja de 75 para 95 cm, houve um aumento de produtividade de 4.200 kg ha-1 para 6.500 kg ha-1, cerca de 55% superior. Além disso, a profundidade das raízes foi responsável por explicar 60% da variação na produtividade.
Figura 2. Relação entre a profundidade de raízes da soja e a produtividade da cultura em lavouras comerciais de soja de alta produtividade nos EUA.

Isso destaca a relevância da presença de raízes em camadas mais profundas, garantindo o fornecimento de nutrientes e, principalmente, água para as plantas, mesmo em densidades significativamente menores em comparação com a camada mais próxima à superfície do solo (Debiasi et al. 2022).
De acordo com NPCT, as raízes não se desenvolvem em solo seco, sendo necessário que o nível de umidade seja apropriado para que o sistema radicular possa absorver os nutrientes. Por outro lado, o excesso de umidade no solo prejudica a aeração das raízes, que dependem de oxigênio para seu crescimento.
Gitti et al. (2019), afirmam que sistemas radiculares mais desenvolvidos em profundidade são fundamentais para se atingir boas produtividades em áreas de cultivo em regiões suscetíveis a ocorrência de períodos de estiagem, o aprofundamento de raízes é um fator determinante na tolerância a déficits hídricos ao longo do ciclo da cultura. De acordo com pesquisas realizadas por Cardoso et al. (2006), a presença de estruturas compactadas diminui a exploração do sistema radicular da soja, entretanto, a presença de camadas compactadas no perfil do solo não afeta a produtividade da soja, quando não há restrição hídrica.
Pesquisas realizadas por Salton & Tomazi (2014), destacam que o sistema radicular de forrageiras, como as braquiárias, pode exercer um impacto positivo no crescimento das raízes das plantas subsequentes, como a soja, quando introduzidas sem o revolvimento do solo. Após a dessecação, as raízes se decompõem, deixando vários canais e galerias no solo, criando um ambiente propício para o crescimento das raízes, assim, as raízes conseguem explorar melhor o perfil do solo.
A figura 3, a seguir, apresenta os resultados dessa pesquisa, demonstrando que o comprimento das raízes de soja no perfil do solo foi maior quando a soja foi cultivada após milho safrinha em consorcio com braquiária, em comparação com o solo onde a braquiária não foi cultivada. As áreas onde a braquiária foi introduzida permitiram que as raízes da soja atingissem profundidades de até 70 cm, enquanto as áreas sem a presença da braquiária tiveram um alcance máximo de 40 cm.
Figura 3. Comprimento de raízes de soja cultivada em Latossolo Vermelho distroférrico argiloso, após três safras consecutivas com milho solteiro ou milho consorciado com braquiária, na entressafra as soja.

Vários fatores podem limitar a produtividade da soja, e a profundidade do sistema radicular pode ser um fator limitante à obtenção de maiores rendimentos na cultura da soja, principalmente sob condições de déficit hídrico. Nesse contexto, é importante adotar práticas de manejo que proporcionem boas condições físicas, químicas e biológicas para o crescimento e desenvolvimento da cultura.
Essas práticas, entretanto, não devem ser realizadas apenas durante a safra, pois a construção da estrutura do solo é feita ao longo dos cultivos, assim, adotar práticas como sistema de plantio direto, rotação de culturas, cobertura do solo com o consórcio de culturas, realizar a adubação conforme as necessidades da cultura cultivada, são práticas que além de proporcionar melhorias nas propriedades do solo, permitem melhor desenvolvimento das planta, permitindo-as explorar os recursos disponíveis, consequentemente, melhorando a produtividade da cultura.
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Referências:
CARDOSO, E. G. et al. SISTEMA RADICULAR DA SOJA EM FUNÇÃO DA COMPACTAÇÃO DO SOLO NO SISTEMA DE PLANTIO DIRETO. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 41, n. 3, p. 493-501, 2006. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pab/a/6GMrH3T4MWy77r8ZMwNbFxJ/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 11/08/2023.
CONAB. ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA DE GRÃOS 2022/23. 11° levantamento. Brasília – DF,2023. Disponível em: < https://www.conab.gov.br/component/k2/item/download/48638_05c752c731ffa8d773cdfde231c4071e >, acesso em: 11/08/2023.
DEBIASI, H. et al. NÍVEIS DE MNEJO DO SOLO PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS CLIMÁTICOS NA CULTURA DA SOJA. Documentos 447, Embrapa Soja, Londrina – PR, 2022. Disponível em: < https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/riscos-seguro/programa-nacional-de-zoneamento-agricola-de-risco-climatico/estudos_observatorio-do-zarc/estudos-2022/2022HenriqueDebiasiNveisdemanejodosoloparaavaliaoderiscosclimticosnaculturadasoja.pdf >, acesso em: 11/08/2023.
FAÉ, G. S.; KEMANIAN, A. R.; ROTH, G. W.; WHITE, C.; WATSON, J. E. SOYBEAN YIELD IN RELATION TO ENVIRONMENTAL AND SOIL PROPERTIES. European Journal of Agronomy, v. 118, 2020. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1161030120300770#:~:text=Saturated%20hydraulic%20conductivity%20(ksat,exceeding%207%20Mg%20ha%2D1. >, acesso em: 11/08/2023.
FERREIRA, D. A. DESENVOLVIMENTO RADICULAR DEPENDE DA FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO. Revista Rural, 2021. Disponível em: < https://www.revistarural.com.br/2021/03/04/desenvolvimento-radicular-depende-da-fixacao-biologica-do-nitrogenio/ >, acesso em: 11/08/2023.
GITTI, D. C.; ROSCOE, R.; RIZZATO, L. A. MANEJO E FERTILIDADE DO SOLO PARA A CULTURA DA SOJA. Tecnologia e Produção Safra 2018/2019, cap. 1. Fundação SM, Maracaju – MS, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 11/08/2023.
NUTRIÇÃO DE PLANTAS CIÊNCIA E TECNOLOGIA. COMO A PLANTA DE SOJA SE DESENVOLVE. NPCT. Disponível em: < https://www.npct.com.br/npctweb/npct.nsf/article/BRS-3140/$File/Como%20a%20Planta%20da%20Soja%20Desenvolve.pdf >, acesso em: 11/08/2023.
SALTON, J. C.; TOMAZI, M. SISTEMA RADICULAR DE PLANTAS E QUALIDADE DO SOLO. Comunicado Técnico 198. Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados – MS, 2014. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/1005326/1/COT198.pdf >, acesso em: 11/08/2023.
ZANON, A. J. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. 136 p. Santa Maria – RS, 2018.
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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.