A baixa qualidade química do solo é um dos principais fatores limitantes ao crescimento vegetal. Solos com pH inadequado e deficientes nutricionalmente tendem a limitar o crescimento das plantas, afetando não só a produtividade, como a qualidade dos grãos produzidos.
Há um consenso entre a relação do pH do solo com a disponibilidade dos nutrientes, sendo que, a maioria dos nutrientes essenciais para as plantas apresentam maior disponibilidade dentro de uma faixa de pH entre 5,5 a 6,5. Logo, solos com baixo pH, tendem a limitar a disponibilidade dos nutrientes da solução do solo para as plantas, mesmo que esses nutrientes apresentem altas concentrações no solo.
Figura 1. Disponibilidade de nutrientes no solo em função do pH do solo.
Além da disponibilidade dos nutrientes, sabe-se que solos ácidos (com pH baixo), tendem a apresentar elevada disponibilidade de alumínio tóxico na solução do solo. O alumínio disponível presente nos solos ácidos é tóxico para as plantas e inibe o crescimento das raízes, atuando como uma barreira química, afetando consequentemente a absorção de água e nutrientes da solução do solo.
Além disso, estudos mais recentes demonstram que o baixo pH do solo também exerce influência sobre a nodulação da soja, afetando negativamente o número de nódulos da fixação biológica de nitrogênio (FBN) e consequentemente a quantidade do nitrogênio fixado e a produtividade da cultura da soja (Alvez et al., 2021).
Nesse contexto, a baixa disponibilidade dos nutrientes, associada a restrição do crescimento radicular, a redução do número de nódulos da FBN e redução do nitrogênio fixado, podem resultar em significativas perdas de produtividade na cultura da soja. Esses fatores, limitam o crescimento e desenvolvimento da planta, impactando a formação dos componentes de produtividade, resultando em baixas produtividades.
Analisando 512 lavouras de soja durante as safras 2015/2016 a 2020/2021, a Equipe FieldCrops observou uma correlação entre o pH do solo e a produtividade da cultura. Demonstrando essa correlação, uma função limite com as produtividades superiores apresentou um platô de produtividade encontrado em áreas com pH entre 5,5 e 6,5. A cada 0,1 de pH abaixo de pH 5,5 a produtividade de grãos reduz em 151 kg ha-1, ou seja, aproximadamente 2,5 sc ha-1. Vale destacar que nessa correlação, não foram consideradas as lavouras da safra 2023/2024 (em vermelho), apenas utilizadas para visualização na figura 2.
Figura 2. Relação entre a produtividade de soja e o pH do solo. Os círculos amarelos representam as lavouras das safras 2005/2016 a 2020/2021 e os losangos vermelhos as lavouras participantes do Campeonato Soybean Money Maker 2023/2024.

O levantamento realizado pela Equipe FieldCrops corrobora a influência negativa da acidez do solo sobre a produtividade da soja, evidenciando a importância da correção química do solo para a obtenção de altas produtividades em soja. Dentre as principais e mais importantes ferramentas para corrigir a acidez do solo e elevar seu pH, podemos destacar a calagem. Além de sua ação corretiva, o calcário também é fonte de alguns nutrientes importantes para as plantas como o cálcio e magnésio.
Contudo, a ação do calcário no solo instantânea no solo. O tempo de reação do calcário e correção do solo pode variar de acordo com suas características físico-químicas. Além disso, o tipo de calcário e suas características como PRNT, podem interferir na quantidade necessária de calcário para elevar o pH do solo até o ponto desejado.
Conforme orientações de manejo, para que ocorram as correções necessárias da acidez e fertilidade do solo, recomenda-se que a calagem seja realizada ao menos 90 antes da semeadura. No sistema plantio direto, recomenda-se que pH do solo seja corrigido sempre que o pH for inferior a 5,5 ou quando a saturação de bases for menor que 65% (Sfredo, 2008).
Veja mais: Quando realizar a calagem da lavoura?
Referências:
ALVES, L. A. BIOLOGICAL N2 FIXATION BY SOYBEANS GROWN WITH OR WITHOUT LIMING ON ACID SOILS IN A NO-TILL INTEGRATED CROP-LIVESTOCK SYSTEM. Soil and Tillage Research, 2021. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0167198720307054 >, acesso em: 26/05/2025.
SFREDO, G. J. CALAGEM E ADUBAÇÃO DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica. n. 61, 2008. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/470943 >, acesso em: 26/05/2025.
TAGLIAPIETRA, E. L. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, ed. 2, 2022.