A preocupação com o abastecimento global de alimentos e o clima seco têm aumentado a atratividade pelos benefícios que a biotecnologia pode trazer para sanar esses problemas. Com isso, após vários estudos e discussões, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a liberação do trigo transgênico HB4 (tolerante à seca) para plantio, importação e comercialização em território nacional no dia 02 de março de 2023.
Embora essa liberação não signifique que o país necessariamente iniciará o cultivo do trigo transgênico em breve, essa atitude reflete a preocupação em tomar iniciativas à medida que as mudanças climáticas e a crise alimentar global tomam proporções mais significativas.
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Por ser uma das principais culturas alimentares do mundo, o trigo tem grande importância para a segurança alimentar e sua contribuição na dieta diária da população, fornecendo aproximadamente 20% das calorias e proteínas para a nutrição humana.
Continue lendo para compreender melhor como a biotecnologia pode favorecer o cultivo do trigo e quais outros benefícios que a tecnologia pode trazer para a cultura.
Aprovação do trigo transgênico para cultivo
O trigo HB4 já havia sido aprovado para cultivo e consumo na Argentina em 2020, sendo este o primeiro país com essa concessão. Em novembro de 2021, recebeu sua primeira aprovação pela CTNBio no Brasil, mas apenas sua comercialização com propósito de uso em alimentos, rações e produtos derivados ou processados, não sendo ainda permitido seu cultivo.
Somente agora, em 02 de março de 2023 o país aprovou, por meio da CTNBio, a liberação do trigo HB4 para plantio, importação e comercialização em território nacional.
Em nota oficial, em 03 de março de 2023, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) se manifestou a favor da nova aprovação.
A entidade alegou que, sobre o aspecto tecnológico, foi e continua sendo favorável aos desenvolvimentos de inovação que venham trazer benefícios à saúde e à segurança alimentar dos brasileiros. Destacou ainda que, passados mais de um ano da aprovação da importação de farinha do trigo HB4, não ocorreram manifestações contrárias, e pesquisas realizadas no período deram sinais de que os consumidores brasileiros não se opunham ao uso de transgênicos. Além disso, alguns países autorizaram o uso da tecnologia e vários outros passaram a reavaliar o tema.
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Conheça como e por que o trigo transgênico foi desenvolvido
O nome HB4 do novo trigo transgênico faz referência ao nome do gene HaHB4 (Helianthus annuus Homeobox 4) que foi inserido no genoma da planta, uma tecnologia desenvolvida pela empresa Bioceres.
Essa sequência específica de DNA foi encontrada no genoma do girassol (Helianthus annuus) e é responsável por conferir à planta tolerância a estresse ambiental, como falta de água ou seca. Além desse gene, também foi adicionado ao genoma do trigo o gene bar originário da bactéria Streptomyces hygroscopicus, que confere resistência ao herbicida glufosinato.
Contudo, o trigo HB4 apresenta duas novas características que não são encontradas em nenhuma outra variedade de trigo – tolerância à seca e resistência ao glufosinato. Assim, quando o produtor escolher plantar essa semente ele irá se beneficiar com economia de água e melhorias na produção, mesmo se houver períodos secos (falta de chuva).
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O trigo transgênico é seguro para consumo?
Ambos os genes utilizados para o desenvolvimento do trigo HB4 são conhecidos e muito estudados, inclusive com relação a sua segurança alimentar, nutricional e ambiental. Além disso, outras plantas transgênicas, como a de soja, possuem esses genes e já são cultivadas e comercializadas no Brasil.
Com relação à biossegurança do trigo transgênico, as pesquisas são realizadas desde 2000 e comprovaram a equivalência do evento transgênico às cultivares não transgênicas. Isso significa que todas as características da planta foram mantidas, com exceção daquelas adicionadas. Ou seja, os alimentos derivados do trigo HB4 tem a mesma digestibilidade que os do trigo convencional. A nova proteína no trigo HB4 é natural do girassol, de onde tem história de consumo. Esta nova proteína expressada no trigo não é alérgica e é de fácil digestão. Além disso, baseado em análises bioinformáticas de sequências e estruturas de alergênicos conhecidos, o trigo HB4 não difere do trigo convencional.
Para aprovação no país, a CTNBio também avalia segurança dele em relação ao meio ambiente, à saúde humana e à saúde animal. Assim, segundo a comissão, a decisão foi pautada pelo rigor científico, respeitando rigorosamente todas as exigências legais da Lei de Biossegurança (Lei no 11.105/2005). A CTNBio afirmou em seu parecer que o HB4 é tão seguro ao meio ambiente, à saúde humana e à saúde animal quanto seu equivalente convencional.
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Benefícios do trigo transgênico para a sustentabilidade da agricultura
O trigo HB4 apresenta alguns benefícios agronômicos, ambientais e econômicos. Os quais podemos destacar:
Melhoria da produtividade
Em razão da maior tolerância às condições de estresse hídrico e viabilização da utilização de um importante herbicida para a cultura, a tecnologia HB4 já tem demonstrado, em média, um aumento de 19,5% na produtividade do trigo.
Preservação ambiental
O melhoramento genético é uma importante ferramenta para sustentabilidade da agricultura e o trigo transgênico HB4 é a mais nova tecnologia para aumento de produtividade frente aos desafios da humanidade. Dessa forma, é possível atender à demanda de produção sem que haja a necessidade de grandes expansões em área de plantio, um ganho ambiental, em um país como o Brasil, onde a legislação é rigorosa quanto às questões de uso da terra e preservação de vegetação nativa, de acordo com o Código Florestal.
Geração de renda e valor de mercado
A Bioceres anunciou que o faturamento do trigo HB foi de US$ 12,4 milhões no quarto trimestre fiscal de 2022. Isso significou um aumento de 94% em relação ao ano anterior. Segundo o relatório financeiro apresentado, as vendas totais da empresa nesse período apresentaram forte crescimento em relação ao trimestre anterior, com expansão de 44%, totalizando US$ 104,1 milhões.
Perspectivas para autossuficiência da cultura no país
Outro benefício que o trigo transgênico tolerante ao estresse hídrico pode trazer para o Brasil, caso seja efetivamente cultivado, abre caminho para que, no futuro, regiões, hoje impróprias para o plantio dessa cultura, tornem-se viáveis e, consequentemente, contribuam para a autossuficiência da produção nacional do cereal.
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Fonte: CropLife Brasil
Principais fontes:
Argentina first to market with drought-resistant GM wheat. Nat Biotechnol 39, 652 (2021). https://doi.org/10.1038/s41587-021-00963-y . Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41587-021-00963-y Acesso em: 14 abr. de 2023.
Ayala F, Fedrigo GV, Burachik M, Miranda PV. Compositional equivalence of event IND-ØØ412-7 to non-transgenic wheat. Transgenic Res. 2019 Apr;28(2):165-176. doi: 10.1007/s11248-019-00111-y. Epub 2019 Jan 17. PMID: 30656492. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30656492/ Acesso em: 14 abr. de 2023.