A compactação do solo pode ser considerada um dos principais fatores limitantes da produtividade da soja no sistema plantio direto (SPD), especialmente sob condições inadequadas do solo, em que limitações físicas, químicas e biológicas são observadas. Embora a planta possa expressar características em consequência a compactação do solo, o método mais usual para se mensurar a compactação de um solo consiste na análise da resistência do solo à penetração, popularmente conhecida como (RP).
Conforme observado por Beulter & Centurion (2004), com o decrescimento da densidade radicular da soja, imposta pela compactação do solo, é possível observar reduções da produtividade da cultura, a partir de níveis de resistência à penetração de 0,85 Mpa.
Figura 1. Relação entre a resistência à penetração e a produtividade de soja.
Para avaliar a RP, Oliveira et. al (2019), assim como Beulter; Centurion; Silva (2007), destacam que o ideal é realizar as avaliações quando o solo atingir a capacidade de campo. A nível de lavoura para diminuir erros, recomenda-se a prática dois a três dias após eventos de chuva.
Figura 2. Uso de penetrômetro digital para avaliação da resistência a penetração do solo.
Levando em consideração que é essencial o aprofundamento das raízes para a boa absorção de água e nutrientes do solo, pode-se dizer que em sistema de plantio direto, a alteração na distribuição de raízes em profundidade, aumentando a concentração de raízes na camada superficial de 0,0 – 0,05 m é fator limitante na obtenção de produtividade adequada de soja, principalmente em condições de menor quantidade de água no solo (Beulter & Centurion, 2004).
Conforme demonstrado por Debiasi; Franchini; Gonçalves (2008), sob condições de boa disponibilidade hídrica (quando não ocorre deficiência hídrica), a produtividade da soja é pouco prejudicada em função do aumento da densidade do solo, entretanto, sob condições de deficiência hídrica moderada ou intensa, há uma significativa redução da produtividade com o aumento da densidade do solo (Figura 3), corroborando a necessidade de boas condições físicas e estruturais do solo para a obtenção de boas produtividades, especialmente se tratando de sistemas de produção não irrigados.
Figura 3. Produtividade da soja em resposta a diferentes densidades do solo na camada de 0,008 – 0,16 m, medida em diferentes safras.
Além da absorção de água, a absorção de nutrientes também pode ser afetada pela compactação do solo. Avaliando a absorção de nutrientes da soja sob diferentes níveis de compactação do solo, Matté et al. (2021) observaram que a compactação do solo induziu alterações na absorção e concentração de P, K e Mg nas plantas de soja no estádio R1.
Considerando que a compactação do solo reduz a porosidade do solo e afeta a dinâmica de água no solo, que é o meio pelo qual os nutrientes são absorvidos e disponibilizados para o metabolismo vegetal, o aumento da compactação/densidade do solo pode prejudicar não só a absorção de água, como também de nutrientes da solução do solo.
Tendo em vista os impactos da compactação do solo na produtividade da cultura da soja, estratégias de manejo necessitam ser adotadas em áreas propensas a compactação e/ou em áreas já compactadas. Indicadores de qualidade física e estrutural podem ser observados para orientar práticas de manejo. Em solos compactados, normalmente observa-se um pequeno crescimento das raízes das plantas, concentrando o volume radicular nas camadas superficiais do solo.
Figura 4. Influência da compactação do solo no sistema radicular da soja.
A formação de fendas e bioporos também deve ser observada, segundo Debiasi; Franchini; Gonçalves (2008), a presença de bioporos, fendas e fissuras contendo vestígios de atividades biológica, evidencia que o SPD está entrando em equilíbrio, visto que solos compactados normalmente não apresentam essas características.
A médio prazo, a adoção de plantas de cobertura com agressivo sistema radicular, especialmente quando em consórcio com outras espécies forrageiras, pode contribuir para a melhoria dos atributos do solo. Alternativas como tráfego controlado de máquinas e o cultivo de espécies com capacidade em descompactar o solo, se bem implementadas, podem contribuir efetivamente para a melhoria das condições do solo e manejo da compactação no sistema plantio direto.
Figura 5. Cultivo de nabo forrageiro em áreas de cultivo com adoção do tráfego controlado de máquinas agrícolas.
Vale destacar que o manejo da compactação do solo deve ser ainda mais criterioso em sistemas de produção onde há a integração lavoura-pecuária. Além da carga animal por área, o período de entrada dos animais na área pode exercer influência sobre a compactação do solo. No geral, em conjunto com a carga animal, deve-se analisar a umidade do solo e a cobertura vegetal.
Figura 6. Efeito do pisoteio animal (bovino) em solo úmido.
A curto prazo, uma das medidas mais utilizadas para mitigar os efeitos da compactação do solo baseia-se no uso de escarificadores e/ou subsoladores em casos mais severos. Embora a prática divida opiniões, especialmente se tratando do sistema plantio direto, efeitos benefícios têm sido observados em função do uso de escarificadores, especialmente se tratando de solos com maior densidade.
Conforme analisado por (Wagner, 2017), o efeito da escarificação do solo proporcionou aumento de produtividade de 3,2% em áreas de alta resistência à penetração (RP), já nas áreas de baixa RP, o autor observou incremento de produtividade superior a 12% (figura 6). Embora não seja considerada uma prática totalmente conservacionista, pode-se dizer que em termos gerais, a escarificação do solo pode contribuir para a melhoria das condições de solo para o crescimento e desenvolvimento da soja em solos compactados, além de possibilitar outros benefícios como o aumento da infiltração de água no solo.
Figura 7. Influência da RP do solo na produtividade de grãos em cada zona de manejo.
Vale destacar que a escarificação do solo deve ser utilizada como medida pontual no manejo da compactação do solo, sendo necessário, adotar medidas que proporcionem resultados e médio e longo prazo para garantir a sustentabilidade da lavoura. Sobretudo, não se deve subestimar a capacidade da compactação do solo em reduzir a produtividade da soja.
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Referências:
BERTOLLO, G. M. DESEMPENHO E EMISSÕES DE TRATOR EM SEMEADURA COM DIFERENTES CONFIGURAÇÕES DE SULCADORES EM ÁREAS DE TRÁFEGO CONTROLADO DE MÁQUINAS. Santa Maria, 139p. 2018. Disponível em: < https://repositorio.ufsm.br/handle/1/14206 >, acesso em: 05/05/2023.
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DEBIAIS, H.; FRANCHINI, J. C.; GONÇALVES, S. L. MANEJO DA COMPACTAÇÃO DO SOLO EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE SOJA SOB SEMEADURA DIRETA. Embrapa, Circular Técnica, n. 63, 2008. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/470946/manejo-da-compactacao-do-solo-em-sistemas-de-producao-de-soja-sob-semeadura-direta >, acesso em: 05/05/2023.
MATTÉ, M. F. et al. ABSORÇÃO DE NUTRIENTES DA SOJA SOB NÍVEIS DE COMPACTAÇÃO. Research, Society and Development, v. 10, n. 16, 2021. Disponível em: < https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/23515/20694/281599#:~:text=A%20consequ%C3%AAncia%20direta%20da%20compacta%C3%A7%C3%A3o,essa%20escoe%20superficialmente%20causando%20eros%C3%B5es. >, acesso em: 05/05/2023.
OLIVEIRA, A. B. et al. COLEÇÃO 500 PERGUNTAS, 500 RESPOSTAS. Embrapa, Brasília, 274 p. 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/208388/1/500-PERGUNTAS-Soja-ed-01-2019.pdf >, acesso em: 05/05/2023.
WAGNER, W. A. ESPACIALIZAÇÃO DA COMPACTAÇÃO DO SOLO E O EFEITO DA ESCARIFICAÇÃO MECÂNICA SOB A PRODUTIVIDADE DA CULTURA DA SOJA. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, 2017. Disponível em: < https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/13017/DIS_PPGAP_2017_WAGNER_WILLIAM.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 05/05/2023.