Foi realizado esse estudo, com o objetivo de relacionar os componentes de produtividade secundários com produtividade de cultivares de soja, com diferentes grupos de maturidade relativa em terras altas.
Autores: Josias Moreira Borges1, Nereu Augusto Streck1, Michel Rocha da Silva1, Isabela Bulegon Pilecco1, Vladison Fogliato Pereira1, Simone Puntel1, Darlan Scapini Balest1, Gilmara Peripolli Tonel1, Paulo Marcks1, Charles Patrick de Oliveira de Freitas1, Felipe Andrade Tardetti1 e Ary José Duarte Junior1
A produtividade na cultura da soja é resposta da interação genótipo versus ambiente, e manejo. Para facilitar a compreensão dos processos que constroem a produtividade, a produtividade de grãos é subdividida em componentes de produtividade, que são definidos desde antes da semeadura até após a colheita (ZANON et al., 2018). Os componentes de produtividade podem ser classificados como primários, que relacionam diretamente a produtividade, ou secundários, que afetam os componentes primários. Número de plantas por área, número de legumes por planta, número de grãos por legume e peso de mil grãos são os componentes primários, e estatura de planta e número de nós são componentes secundários (MUNDSTOCK; THOMAS, 2005).
Entre as práticas de manejo que afetam os componentes de produtividades secundários, destaca-se a duração do ciclo da cultura da soja, que depende do Grupo de Maturidade Relativa (GMR) e da época de semeadura. Um exemplo dessa interação é que, em geral, uma cultivar semeada após a primeira quinzena de novembro tende a reduzir o ciclo e, essa mesma cultivar, semeada antes primeira quinzena de novembro, tende a aumentar o ciclo (ZANON et al., 2015). Logo, a mesma cultivar pode apresentar valores de componentes de produtividade secundários diferentes entre épocas de semeadura.
Um exemplo é a estatura das plantas, que está relacionada com o controle de plantas daninhas e perdas durante a colheita mecanizada (ZANON et al., 2018). Já o número de nós (NN), ou número final de nós (NFN), está associado a evolução da área foliar e ao acúmulo de fitomassa, que afetam diretamente na evapotranspiração e, por consequência, na produtividade. Além disso, em soja, os legumes estão associados aos nós, ou seja, quanto maior o número de nós, maior a probabilidade de ter um número elevado de legumes por planta (STRECK et al., 2008). Devido a importância dos componentes de produtividade secundários e a escassez de informação sobre a influência de práticas de manejo sobre a definição dos componentes secundários, foi realizado esse estudo, com o objetivo de relacionar os componentes de produtividade secundários com produtividade de cultivares de soja, com diferentes grupos de maturidade relativa em terras altas.
O solo da área experimental desse trabalho é uma transição entre a Argissolo Vermelho Distrófico Arênico e Argissolo Bruno Acinzentado Alítico Úmbrico, típico solo de terras altas bem drenado. Contudo, estudos confirmam que o desenvolvimento da soja é similar quando cultivada em terras altas e em terras baixas (ZANON et al.,2015). O trabalho foi conduzido no Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Foram realizadas seis épocas de semeadura Épocas 1 (05/08/17), 2 (02/09/17), 3 (17/10/17), 4 (21/11/17), 5 (19/12/1017) e 6 (16/01/18), com espaçamento entrelinhas de 0,45 m. Cinco cultivares foram semeadas: NS 4823 RR, BMX Elite IPRO, TMG 7062, BMX Icone IPRO e TEC 7849 IPRO, com GMR 4.8, 5.5, 6.2, 6.8 e 7.8, respectivamente.
O delineamento foi de blocos ao acaso com quatro repetições. O manejo de pragas, doenças, plantas daninhas e adubação, foram realizados visando atingir 100 Sc ha-1 com irrigação suplementar. As avaliações de número de nós foram realizadas em 5 plantas marcadas em cada parcela e as avaliações de componentes de produtividades em 6 plantas por parcelas. A produtividade de grãos foi realizada através da colheita de uma área de 5,4 m².
As maiores produtividades do experimento foram expressas pelas plantas semeadas em outubro com 92 a 107 Sc ha-1, independente do GMR, e estatura de plantas variando de 90 cm a 190 cm. Porém deve se considerar perdas na colheita por conta do acamamento das plantas com estatura elevada. Nesse sentido, percebe-se uma instabilidade na produtividade a partir de 133 cm. Estudos mostram uma estatura ideal de 105 cm para atingir um potencial produtivo de 100 Sc ha-1 (WEBER, 2017). As plantas com estatura superior a 66 cm, semeadas a partir de setembro, demostram estabilidade produtiva superior a 67 Sc ha-1 independente de época de semeadura ou GMR. As cultivares semeadas em agosto, com GMR 4.8, 5.5 e 7.8, não expressaram produtividades superior a 45 Sc há-1 e apresentaram estatura inferior a 24 cm, no entanto, os GMR 6.2 e 6.8, que apresentou plantas de estatura de 48 cm, expressou produtividade superior a 83 Sc ha-1.
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O NFN maior a 12 nós, independente do GMR, é suficiente para produtividade superior a 67 Sc ha-1. A partir de 20 NFN não houve incremento de produtividade e, na faixa de 20 a 24 NFN, o potencial produtivo manteve-se alto. Estudos sugerem um valor médio de 19 nós por planta para o potencial produtivo de 100 Sc ha-1(WEBER, 2017). Além disso, conforme a figura 2, observa-se que, para um mesmo GRM, em diferentes épocas de semeadura, há uma tendência de aumentar a produtividade à medida que a planta apresenta um maior número de nós, principalmente nas cultivares de GMR 4.8 e 5.5.
Figura 1- Relação entre produtividade de grãos (Sc ha-1) e estatura de plantas. As cores dos quadrados representam as épocas de semeadura e os pontos internos representam os diferentes GMR. A linha horizontal separa a produtividade em mais ou menos de 67 Sc ha-1 e a linha vertical representa o limite das plantas maiores que 66 cm de estatura.
Figura 2 – Relação entre produtividade de grãos (Sc ha-1) e número final de nós. Os pontos representam os diferentes GMR. A linha horizontal separa a produtividade em mais ou menos de 67 Sc ha-1.
Logo, em terras altas verifica-se um incremento na produtividade à medida que a planta apresenta componentes de produtividade secundários (estatura e NFN) maiores, para um mesmo GRM. Os GMR que mais responderam ao NFN e estatura de planta foram os 4.8 e 5.5. Além disso, as plantas semeadas em outubro expressaram maior produtividade, estatura e NFN.
Referências
MUNDSTOCK, C. M.; THOMAS, A.L. Soja: Fatores que afetam o crescimento e o rendimento de grãos. Porto Alegre: Departamento de Plantas de Lavoura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Evangraf, 2005.
ROCHA, R. S. et al. Desempenho agronômico de variedades e linhagens de soja em condições de baixa latitude em Teresina-PI. Revista Ciência Agronômica, v. 43, n. 1, p. 154-162, 2012.
SCHAIDHAUER, W.S. Produtividade da soja em função da adubação nitrogenada após estresse hídrico por alagamento em terras baixas. SIC – XXVIII Salão de Iniciação Científica da UFRGS, 2016.
STRECK, N.A. et al. Estimating plastochron in soybean cultivars. Bragantia, v. 67, n. 1, p. 67-73, 2008.
WEBER, P.S. Componentes de rendimento e grupo de maturidade relativa que influenciam o potencial produtivo em soja. 2017. 34p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia). Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2017.
ZANON, A.J. et al. Desenvolvimento de cultivares de soja em função do grupo de maturação e tipo de crescimento em terras altas e terras baixas. Bragantia, Campinas, v.74, p.400-411, 2015.
ZANON, A.J. et al. Ecofisiologia da soja: Visando altas produtividades. Santa Maria, 2018.
Informações dos autores:
1Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria – RS, Brasil.
Disponível em: Anais da 42ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, Três de Maio – RS, Brasil, 2018.