Na última safra de trigo, encontrou-se a maior população de pulgões dos últimos 10 anos, com uma população 5x superior à média de 2011-2018. É uma praga com potencial de transmitir o vírus do nanismo amarelo (VNAC) no início do ciclo do trigo, podendo reduzir em números superiores a 60% do rendimento de grãos (EMBRAPA, 2019).

Em algumas lavouras gaúchas, a incidência chegou a 70% de infestação. Caso não ocorra controle, o rendimento pode reduzir em 1.426,4 kg/ha, quando comparado ao tratamento sem inseticidas (DOS ANJOS, et. al, 2019). Na Figura a seguir, conheça as principais espécies de pulgões no trigo.

Figura 1. Afídeos que atacam o trigo: a) pulgão-verde-dos-cereais, Schizaphis graminum; b) pulgão-do-colmo-do-trigo ou pulgão-da-aveia, Rhopalosiphum padi; c) pulgão-da-folha-do-trigo, Metopolophium dirhodum; d) pulgão-da-espiga-do-trigo, Sitobion avenae; e) pulgão-preto-dos-cereais, Sipha maydis; f) pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maidis

Fotos: Paulo Roberto Valle da Silva Pereira.

O período crítico é visualizado no início do desenvolvimento da cultura. Todavia, o ataque no espigamento, como ocorreu no Paraná na última safra, impacta no rendimento de grãos. Como visualizamos na Figura 2, estudos de RIFFEL et. al, (2019) constataram dois picos populacionais da praga, acarretando em maior número de plantas infestadas.

Figura 2. Flutuação populacional da praga.

Fonte: RIFFEL et. al, (2019).

Para disseminar a doença do nanismo, precisa-se ter a planta hospedeira e os afídeos. A praga se alimenta de uma planta infectada e transmite o vírus através de suas glândulas salivares para outra planta sadia. Pode ocorrer a disseminação dos afídeos das plantas de aveia para o trigo.

Condições ideais para seu desenvolvimento:

  • Temperaturas amenas;
  • Invernos secos;
  • Baixa precipitação;
  • Alta proliferação: reprodução sem a presença de machos;

Danos

Os danos destas pragas estão relacionados com danos diretos: sucção da seiva, menor rendimento, peso de grãos e redução do poder germinativo das sementes. Os danos indiretos estão relacionados com a transmissão de viroses, como o nanismo amarelo, possuindo dois agentes causais: Barley yellow dwarf vírus (BYDV) e Cereal yellow dwarf virus (CYDV).

Nanismo amarelo

Lesões:

  • Amarelecimento das folhas, ocorrendo do ápice para a base das folhas;
  • Limbo foliar amarelecido, rígido e com aspecto lanceolado;
  • Redução do crescimento (altura, n° de afilhos, massa foliar e sistema radicular);
  • Esterilidade apical e espigas pretas “espigas chocolates”;
  • Atraso no desenvolvimento;
  • Plantas mais suscetíveis aos estresses ambientais.

Figura 3. Espigas com sintoma de viroses.

Foto: Douglas Lau (2019).

As plantas infectadas são vistas em reboleiras. Quando mais cedo aparecerem os sintomas, mais severo tende a ser a expressão das lesões (EMBRAPA TRIGO).

Figura 4. Danos em trigo: amarelecimento em reboleiras.

Fotos: EMBRAPA TRIGO.

Além do trigo, a aveia-preta também pode ser infectada pelo vírus. Entretanto, os sintomas são característicos de avermelhamento do limbo foliar e enrolamento das folhas.

Figura 5. Danos em aveia-preta.

Foto: EMBRAPA TRIGO.

Monitoramento e nível de controle

O monitoramento deve ser iniciado 20-30 dias após a emergência da cultura. Como veremos a seguir, no vegetativo a tomada de decisão inicia com 10% de plantas infestadas com a praga. No reprodutivo, 10 pulgões.espiga-1

Figura 6. Níveis de ação para pulgões.

Fonte: DOS ANJOS et. al, (2019).

Controle químico

O principal manejo é o controle químico. Contudo, como na última safra as populações foram altamente elevadas, foram necessárias duas aplicações aéreas adicionais, o que reduziu em 82% a incidência de viroses (EMBRAPA, 2019).

Se o pico ocorrer nos estágios iniciais, o tratamento de sementes utilizado isoladamente pode oferecer proteção. Caso o pico ocorra mais tardiamente, aplicações aéreas apresentam maior contribuição de controle. Assim, as técnicas podem estar associadas de modo a preservar os inimigos naturais.

Para o manejo de cada espécie de pulgão, existem grupos químicos apropriados a fim de realizarmos o controle mais efetivo. Segundo AGROFIT (2020), há registrados dos grupos químicos para cada praga:

  • Pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum): apenas 6 sulfoxaminas;
  • Pulgão-do-colmo-do-trigo ou pulgão-da-aveia (Rhopalosiphum padi): apenas 2 organofosforados;
  • Pulgão-da-folha-do-trigo (Metopolophium dirhodum): 34 produtos registrados, entre grupos químicos: neonicotinoides, piretroides, organofosforados, metilcarbamato de oxima e butenolida;
  • Pulgão-da-espiga-do-trigo (Sitobion avenae): 43 produtos registrados, entre eles: neonicotinoides, organofosforados, piretroides, feniltioureia e éter difenílico;
  • Pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis): não há produtos registrados para o trigo.

Nota-se a importância de sabermos identificar as pragas corretamente, a fim de realizarmos o manejo mais eficiente possível. Em pesquisas realizadas por DOS ANJOS et. al, (2019) intitulada “MANEJO DE AFÍDEOS VETORES DE VIROSES NA CULTURA DO TRIGO NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS”, testou-se 4 cultivares: TBIO Sinuelo, Quartzo, TBIO Toruk e Supera. Como visualizamos no Quadro 1, as cultivares TBIO Sinuelo e Quartzo, mostraram-se menos suscetíveis à virose. Em relação à produtividade, TBIO Toruk apresentou a maior redução do rendimento.

Qaudro 1. Severidade da virose do nanismo amarelo e produtividade de grãos para diferentes cultivares e manejos na cultura do trigo.

Controle total: TS + pulverização semanal de inseticidas de parte aérea; Apenas TS: somente tratamento de sementes; Nível de ação: somente inseticidas de parte aérea ao atingir o nível de ação; TS + Nível de ação: tratamento de sementes + inseticidas da parte aérea ao atingir o nível de ação; Testemunha: sem inseticidas.
Fonte: DOS ANJOS et. al, (2019).

Viável economicamente?

As maiores receitas médias líquidas finais são vistas quando se utiliza apenas o tratamento de sementes (TS) (R$ 892,90.ha-1). No entanto, quando utilizado TS + inseticidas de parte aérea (ao atingir o nível de ação), a receita média fica próxima e é viável economicamente (R$ 884,93.ha-1).



A testemunha (sem controle) resultou em uma receita média líquida final de R$ 522,6.ha-1, uma redução de aproximadamente 40% quando comparado ao TS (DOS ANJOS et. al, 2019). Em trabalhos da Embrapa Trigo, denominado “Trigo com maior população de pulgões na década”, observou-se a maior incidência de nanismo-amarelo nas áreas sem uso de inseticidas. Como notamos na Figura 7, o controle de Tratamento com aplicação semanal de inseticidas ou tratamento de sementes + aplicação aérea, mantém a doença abaixo de 10%.

Figura 7. Incidência de nanismo-amarelo (%).

Fonte: EMBRAPA TRIGO (2019).

O parasitismo realizado por joaninhas é de grande importância. Em estudos realizados por SARTOR (2018), percebe-se que o nível de parasitismo é de 100% próximo à colheita do trigo, como visualizamos na Figura 8. Devido a ocorrência de danos indiretos, o controle químico se torna necessário mesmo com a ocorrência de parasitismo. Todavia, a necessidade de aplicações de inseticidas seletivos a fim de preservar os inimigos naturais é de suma importância.

Figura 8. Porcentagem de parasitismo em diversos momentos da cultura do trigo.

Fonte: SARTOR (2018).

Considerações finais

Os pulgões possuem maior ocorrência no início do desenvolvimento do trigo. Contudo, surtos mais tardios podem ocorrer de forma a reduzir a produtividade. Aliado a isso, os danos indiretos podem afetar drasticamente a cultura através da transmissão de viroses, como o nanismo-amarelo.

Para cada espécie de pulgões, existem inseticidas apropriados para seu controle. O reconhecimento correto de cada praga é de fundamental importância no Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Como vimos nos trabalhos citados, o controle de pulgões é viável economicamente. Se os surtos ocorreram no início do desenvolvimento da cultura, apenas o TS protege o trigo. Entretanto, surtos mais tardios, há necessidade de aplicações aéreas. O manejo sem controle pode reduzir em 40% da receita média líquida.ha-1.


Veja também: Quais são as principais pragas na cultura do trigo?



Referências

AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 2020

DOS ANJOS, Wílliam Iordi et al. Manejo de afídeos vetores de viroses na cultura do trigo na região dos Campos Gerais. In: Embrapa Trigo-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: REUNIÃO DA COMISSÃO BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO E TRITICALE, 12., 2018, Passo Fundo. Atas e resumos… Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2019. Entomologia, p. 247-251., 2019.

Embrapa Trigo. Viroses no trigo. 2018. Disponível em: < https://www.grupocultivar.com.br/artigos/viroses-no-trigo>. Acesso em: 08.06.2020

Embrapa Trigo. Trigo com maior população de pulgões na década. 2019. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/48324242/trigo-com-maior-populacao-de-pulgoes-na-decada>. Acesso em: 08.06.2020

RIFFEL, Cinei Teresinha et al. Considerações sobre o manejo do complexo afídeos/nanismo-amarelo em trigo, Independência/RS, 2017. In: Embrapa Trigo-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: REUNIÃO DA COMISSÃO BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO E TRITICALE, 12., 2018, Passo Fundo. Atas e resumos… Passo Fundo: Projeto Passo Fundo, 2019. Entomologia, p. 232-236., 2019.

SARTOR, Bruno César. Mapeamento do controle biológico e químico de pulgão em trigo no sudoeste do Paraná. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Redação: Equipe Mais Soja.

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