Com difícil controle por se tratar de pragas de solo, os fitonematoides que acometem a soja têm apresentado preocupante ocorrência em áreas agrícolas, de Sul a Norte no Brasil. De acordo com Castro; Meyer; Seixas (2024), a ocorrência de fitonematoides em lavouras de soja é um dos principais fatores limitantes da produtividade da cultura.
Segundo Dias et al. (2010), mais de 100 espécies de nematoides, envolvendo cerca de 50 gêneros, foram associados ao cultivo da soja em todo o mundo. No entanto, os nematoides considerados mais prejudiciais à cultura são os formadores de galhas (Meloidogyne spp.), o de cisto (Heterodera glycines), o das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o reniforme (Rotylenculus reniformis) (Costa, 2024).
Embora varie de acordo com a espécie do fitonematoide, os sintomas em soja normalmente, são observados nas raízes das plantas, em reboleiras na lavoura. Na parte aérea das plantas, normalmente se observa a redução do porte das plantas, podendo ocorrer clorose nas folhas, abortamento de legumes e amadurecimento prematuro da planta, dependendo da espécie do fitonematoide a acometer a cultura.
Figura 1. Sintomas típicos de nematoides em soja.
Temperatura e textura do solo são os dois fatores ambientais com maior influência sobre o desenvolvimento dos nematoides. Solos com texturas mais arenosas (menos de 10% de argila), atrelados a condições de temperaturas na faixa de 29 a 31°C favorecem o desenvolvimento do fitonematoides M. javanica. De modo geral, solos de texturas mais leves (com menor teor de argila), tendem a apresentar condições melhores para o desenvolvimento dos fitonematoides, e por isso, devem receber atenção especial no manejo (Inomoto & Asmus, 2009).
Considerando o impacto e a grande distribuição dos fitonematoides em áreas agrícolas, estratégias eficientes de manejo necessitam ser adotadas para reduzir as perdas de produtividade em decorrência dos nematoides fitopatogênicos. Dentre as principais alternativas de manejo, destacam-se o uso de cultivares resistentes, a rotação de culturas com plantas não hospedeiras, o controle de plantas daninhas hospedeiras, o controle químico com nematicidas e o controle biológico com microrganismos.
Ainda que os nematicidas químicos sejam amplamente utilizados para o controle dos fitonematoides em áreas agrícolas, por se tratar de pragas de solo, infelizmente a eficiência de controle desses produtos é limitada em função da dificultada em atingir o alvo. Como alternativa complementar ao controle químico, o controle biológico com microrganismos tem ganhado espaço nas lavouras brasileiras, principalmente pela boa eficácia no controle dos nematoides.
Dentre os fungos adotados para o controle de nematoides, estão aqueles classificados como quitinolíticos, que inclui as espécies Purpureocillium lilacinum (syn. Paecilomyces lilacinus) e Pochonia chlamydosporia, e os produtores de metabólitos tóxicos e indutores de resistência, como Trichoderma spp. (Dias-Arieira et al., 2022).
Conforme resultados analisados por Santos et al. (2019) o emprego de espécies de fungos para o controle de Pratylenchus brachyurus em soja, tem demonstrado efeito significativo na redução das populações de nematoides juvenis e ovos, no solo e raízes de soja (tabela 1).
De acordo com Dias-Arieira et al. (2022) estudos científicos demonstram, que em condições controladas, pode haver reduções na reprodução de Meloidogyne javanica em soja variando de 42% a 56% para o tratamento com P. lilacinum e de 45% a 72% para P. chlamydosporia.
Tabela 1. Número de nematoides juvenis na raiz e no solo e número de ovos na raiz de soja em função do uso de nematicida (nem) aplicado às sementes e de fungos nematopatogénicos em 4 formas de aplicação para controle de Pratylenchus brachyurus; testemunha = água.

Resultados similares, demonstrando a contribuição dos microrganismos no controle dos fitonematoides foram observados por Fidélis et al. (2024). Analisando o efeito de diferentes agentes biológicos, via semente, no controle de fitonematoides na cultura da soja, os autores observaram que os tratamentos contendo os microrganismos Paecilomyces spp. + Bacillus subtilis e Paecilomyces spp. + Trichoderma asperellum + Bacillus subtilis + Pochonia sp., demonstraram-se eficientes na promoção de menor densidade da população de nematoides avaliada (Meloidogyne sp., Pratylenchus brachyurus e Heterodera glycines).
Logo, pode-se dizer que o controle biológico dos fitonematoides em soja é uma importante estratégia de manejo para o combate a essas pragas, devendo ser integrada ao sistema de produção, em conjunto a outras estratégias de manejo como a resistência genética, a rotação de culturas, o controle de plantas daninhas e o controle químico dos fitonematoides.
Veja mais: Como o controle de plantas daninhas auxilia no manejo de fitonematoides?
Referências:
CASTRO, J. M. C.; MEYER, M. C.; SEIXAS, C. D. S. PRINCIPAIS NEMATOIDES EM ÁREAS PRODUTORAS DE SOJA NO BRASIL. Embrapa Soja, Circular Técnica. n. 202, 2024. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1164703/1/Circ-Tec-202.pdf >, acesso em: 26/11/2024.
COSTA, V. O. MANEJO DE NEMATOIDES EM ÁREAS DE SOJA. Mais Soja, 2024. Disponível em: < https://maissoja.com.br/manejo-de-nematoides-em-areas-de-soja/ >, acesso em: 26/11/2024.
DIAS, W. P. et al. NEMATOIDES EM SOJA: IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE. Embrapa, circular técnica, 76. Londrina – PR, 2010. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPSO-2010/30766/1/CT76-eletronica.pdf >, acesso em: 26/04/2023.
DIAS-ARIEIRA, C. R. et al. MANEJO BIOLÓGICO DE NEMATOIDES. Embrapa, Bioinsumos na cultura da soja, cap. 20, 2022. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/1143066 >, acesso em: 26/11/2024.
FIDÉLIS, R. R. et al. CONTROLE BIOLÓGICO DE FITONEMATOIDES VIA SEMENA NO CULTIVO DA SOJA. Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, 2024. Disponível em: < https://ojs.revistacontribuciones.com/ojs/index.php/clcs/article/view/6526/4309 >, acesso em: 26/11/2024.
INOMOTO, M. M.; ASMUS, G. L. CULTURAS DE COBERTURA E DE ROTAÇÃO DEVEM SER PLANTAS NÃO HOSPEDEIRAS DE NAMATOIDES. Visão Agrícola, n. 9, 2009. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Protecao04.pdf >, acesso em: 26/11/2024.
SANTOS, A. R. B. et al. BIOCONTROLE NO MANEJO DE Pratylenchus brachyurus NA SOJA. Revista de Ciências Agrárias, 2019. Disponível em: < https://revistas.rcaap.pt/rca/article/download/17201/14457/64117#:~:text=O%20nematoide%20das%20les%C3%B5es%20radiculares,fungos%20no%20manejo%20de%20P. >, acesso em: 19/06/2023.