O uso de defensivos químicos, no decorrer dos anos, tem sido adotado como padrão de controle de insetos-praga em diversas culturas de importância econômica no Brasil. O uso indiscriminado e sem orientação correta de produtos químicos em lavouras pode acarretar em diversas consequências como desequilíbrios ambientais, superpopulação de pragas, seleção de biótipos resistentes, poluição de solos e aquíferos, e prejuízos à saúde humana e animal (Scopel e Roza-Gomes, 2011).
Como alternativa, o controle biológico de pragas representa uma das possibilidades existentes para a redução do uso de agroquímicos. Entende-se como controle biológico a regulação da população de insetos em níveis economicamente não prejudiciais através do uso de inimigos naturais, sendo uma estratégia utilizada tanto em sistemas agroecológicos quanto na agricultura convencional que se vale do Manejo Integrado de Pragas (MIP) (Gallo et. al., 2002). Todavia, a utilização do controle biológico de pragas demanda conhecimento e conscientização por parte dos que o utilizam, pois se trata do emprego de organismos vivos (De Oliveira et al., 2006).
Existem três tipos de inimigos naturais de pragas que podem ser utilizados em sistemas de cultivos comerciais: predadores, parasitoides e entomopatógenos. Os predadores são insetos ou ácaros de vida livre, e durante a fase larval consomem um grande número de indivíduos (presas) para completar seu desenvolvimento, sendo representados pelas joaninhas, percevejos, lixeiros, carabeídeos, sirfídeos, tesourinhas, vespas e ácaros fitoseídeos.
Já o parasitoide é aquele que na sua fase larval se desenvolve dentro ou sobre o corpo de outro inseto, alimentando-se do mesmo e causando sua morte, e são capazes de atacar nas diversas fases de desenvolvimento da praga: ovo, larva ou ninfa, pupa e adulto. Os mais importantes pertencem à ordem Hymenoptera e, em menor grau, Diptera (Oliveira, 2008). Por fim, os entomopatógenos são microrganismos como fungos, bactérias, vírus, protozoários e nematóides, capazes de causar doenças nos insetos visando à manutenção da população das pragas em níveis não prejudiciais (Gallo et al., 2002).
No Brasil, existem programas de controle biológico de pragas bem sucedidos em várias culturas agrícolas. Na cana-de-açúcar, o controle da broca-da-cana (Diatraea saccharalis), principal praga da cultura no país, é realizado basicamente com agentes de controle biológico: o parasitoide larval Cotesia flavipes e o parasitoide de ovos Trichogramma galloi. Na cultura da soja, destaca-se o controle biológico de percevejos, especialmente da espécie Nezara viridula (percevejo-verde-da-soja) pelo parasitoide Trissolcus basalis. Pode-se citar também o controle biológico da cochonilha na mandioca, do minador-dos-citros, dos pulgões do trigo e da traça-do-tomateiro com parasitoides, e o uso de Bacillus thuringiensis para o controle de lagartas desfolhadoras em diferentes culturas (Simonato et al., 2014).
Figura 1. Trissolcus basalis parasitando ovos de percevejo.
Fonte: Simonato et al., 2014.
Adicionalmente, na cultura da soja são encontrados outros importantes predadores como aranhas, joaninhas, formigas, vespas e ácaros benéficos, que contribuem para o controle biológico natural das pragas. As joaninhas, por exemplo, são capazes de consumir ovos de diferentes espécies, pequenas lagartas, tripes, mosca-branca e pulgões.
Figura 2. Controle biológico de pulgões por ação de joaninha.
Fonte: https://diarioverde.com.br/
De forma geral, o controle biológico de pragas vem assumindo papel cada vez mais importante na agricultura brasileira, devido à necessidade de racionalização no uso de inseticidas químicos, redução dos custos de produção e preservação do meio-ambiente. Portanto, essa técnica ocupa uma posição importante no contexto do MIP, pois, além de atuar de forma harmoniosa com o ambiente, é um método eficiente quando associado a outras medidas de controle.
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
DE OLIVEIRA, Alan Martins et al. Controle biológico de pragas em cultivos comerciais como alternativa ao uso de agrotóxicos. 2006.
GALLO, DOMINGOS et al. Métodos de controle de pragas. D. Gallo et al. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ. 920p, p. 243-359, 2002.
OLIVEIRA, Alan Martins de et al. Aspectos técnicos e ambientais da produção de melão na Zona Homogênea Mossoroense, com ênfase ao controle da mosca-branca e da mosca-minadora. 2008.
PAES, A.; OLIVEIRA, P. INOVAÇÕES NO CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS E DOENÇAS NO CULTIVO PROTEGIDO E EM CAMPO DE TOMATEIROS.
PAULA, C. de S. et al. Flutuação populacional de Helicoverpa zea (Lepidoptera: Noctuidae) em milho solteiro e consorciado com feijão no sistema orgânico. In: Embrapa Milho e Sorgo-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, 6., CONGRESSO LATINO AMERICANO DE AGROECOLOGIA, 2., 2009, Curitiba. Agricultura familiar e camponesa experiências passadas e presentes construindo um futuro sustentável: anais. Curitiba: ABA: SOCLA, 2009., 2009.
SCOPEL, Wanessa; ROZA-GOMES, Margarida Flores. Programas de controle biológico no Brasil. Unoesc & Ciência-ACET, v. 2, n. 2, p. 215-223, 2011.
SIMONATO, Juliana; GRIGOLLI, José Fernando Jurca; DE OLIVEIRA, Harley Nonato. Controle biológico de insetos-praga na soja. Embrapa Agropecuária Oeste-Capítulo em livro científico (ALICE), 2014.