Existe um velho ditado popular que diz “Quando se faz mais do mesmo, se colhe o mesmo resultado”, em se tratando de agricultura, nem sempre podemos levá-lo ao pé da letra, isso pelo fato de que, a cada ano agrícola, os desafios e dificuldades enfrentados pelos produtores rurais podem aumentar significativamente, sejam eles relacionados aos preços das commodities, condições climáticas, surgimento de novas pragas ou aumento da pressão das que já se encontravam no agroecosistema. Entretanto, algumas dessas variáveis podem ser controladas pelos produtores, como exemplo, o controle de pragas e doenças em função das diferentes ferramentas de manejo disponíveis, dentre eles, os defensivos agrícolas.

No Brasil, a utilização de defensivos agrícolas tem aumentado ano após ano, fato esse que leva o país as primeiras colocações na utilização dessa ferramenta gerando um mercado anual de aproximadamente 10 bilhões de dólares. Entretanto, esse segmento tem passado por algumas modificações como, por exemplo, o surgimento e, principalmente, a aceitação de tecnologias microbianas para controle de pragas e doenças em plantas.



Segundo algumas instituições governamentais e privadas, o controle biológico vem se destacando como tecnologia que mais cresce no ramo dos defensivos agrícolas, alcançando crescimentos anuais que ultrapassam 20%. Esse fenômeno teve seu maior impulso durante os surtos de Helicoverpa armigera, ocorridos na safra 13/14, pelo fato do controle biológico com tecnologias a base de Bacillus thuringiensis e Baculovirus terem sido fundamentais para o sucesso no manejo da praga, dando ao segmento a credibilidade para a implantação de outras tecnologias no sistema, como por exemplo, os bionematicidas, biofungicidas e bioestimulantes, tecnologias estas que vem se tornando cada dia mais indispensáveis
na lavoura.

Outro fator que vem dando respaldo aos produtos microbiológicos no campo, nos últimos anos, é o elevado nível de profissionalização do segmento. Se avaliarmos a evolução dos defensivos formulados a base de microrganismos nos últimos dez anos, vamos perceber que o nível tecnológico desses defensivos tem melhorado de forma estrondosa. As conhecidas fábricas de “fundo de quintal” estão ficando obsoletas, bem como, vem entrando cada vez mais na descredibilidade do produtor rural. Já as indústrias que investem em tecnologia tem evoluído a passos largos melhorando a qualidade dos produtos, investindo em pesquisa para buscar novos microrganismos cada vez mais efi cientes, formulações que possibilitem a aplicação conjunta com os defensivos convencionais sem perder qualidade e eficiência, indústrias com alta capacidade de produção e que mantém a qualidade dos produtos e, ainda, o investimento em pesquisa para ajustar o melhor posicionamento das tecnologias no campo melhorando cada vez mais a performance do produtos.

Também podemos considerar positiva a aplicação de recursos financeiros em pesquisa e a dedicação dos pesquisadores brasileiros no desenvolvimento e busca por soluções microbiológicas para o segmento agrícola, como exemplo disso, podemos citar a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Universidades e demais instituições públicas que cada vez mais vem desenvolvendo tecnologias e firmando parcerias com empresas nacionais do segmento microbiológico.

Além disso, atualmente estamos vivendo no planeta a conhecida “Onda verde”, que tem como uma de suas premissas a redução dos defensivos convencionais e adesão a tecnologias microbiológicas, influenciando em alguns casos na qualidade e no valor de mercado do produto final, gerando assim maior lucratividade ao produtor.

Por fi m, outro fator que vem influenciando na adesão dos defensivos microbiológicos no campo está relacionado a seleção de pragas e doenças as moléculas químicas. Esse fato talvez seja um dos maiores influenciadores desse fenômeno agrícola. Todos os anos recebemos comunicados técnicos ou laudos de eficiência agronômica apresentando resultados  de redução de performance a campo de produtos que até poucos anos eram inquestionáveis quanto a sua eficiência. Dessa forma, o controle biológico vem ocupando um nicho que cresce a cada safra pela perda de eficiência dos defensivos convencionais.

Atualmente, existem diferentes tecnologias microbiológicas para as mais diferentes pragas e doenças presentes na grande maioria das espécies de plantas cultivadas. Algumas dessas tecnologias vem se destacando e já são consideradas de senso comum para a maioria dos produtores, sendo um exemplo disso o controle de fungos fitopatogênicos presentes no solo com a utilização do agente de controle Trichoderma harzianum.

O Trichoderma harzianum é um dos agentes de controle mais utilizados nos sistemas agrícolas para o controle das mais diferentes espécies de fungos fitopatogênicos, como por exemplo, Rhizoctonia, Fusarium, Pythium, Phytophthora e Sclerotinia (Mofo branco). Além de seus mecanismos de ação estarem relacionados à competição direta por espaço e parasitismo de fungos fitopatogênicos, alguns isolados também podem induzir a resistência das plantas ou estimular o crescimento e desenvolvimento das mesmas por possuírem a capacidade de sintetizar  moléculas com efeito hormonal para as plantas (auxina, citocinina e giberelina).

Um problema que cada vez mais vem sendo identificado por produtores rurais, em todo o Brasil, são os nematoides. Esses vermes de plantas que vivem no solo são responsáveis por perdas médias de dez por cento na cultura da soja. Até pouco tempo, o controle químico era tido como basicamente a única medida de controle adotada no combate desses agentes fitopatogênicos. Porém, a quimioterapia no manejo de nematoides é de uso limitado, considerando-se o alto custo, a baixa eficiência na aplicação e forte impacto ambiental dos nematicidas em extensas áreas de solo.

Nesse cenário, a utilização de nematicidas microbiológicos contendo como princípio ativo bactérias da espécie Bacillus amyloliquefaciens vem ganhando credibilidade no combate a esses vermes de solo. Essa bactéria possui diferentes mecanismos de ação que vão desde a inibição do reconhecimento da raiz pelo patógeno até o parasitismo de ovos e juvenis presentes no solo, podendo reduzir em até 90% a presença dos vermes nas raízes.

Além do controle de patógenos de solo, o controle biológico destaca-se também como uma excelente ferramenta de manejo de insetos pragas, como é o exemplo de alguns sugadores presentes em culturas de cereais, pastagens e cana de açúcar. Nesse sentido, um exemplo de sucesso é o controle de moscas brancas e cigarrinhas pelos fungos entomopatogênicos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, respectivamente. Os mecanismo de ação desses agentes é iniciado com a adesão dos conídios (estruturas de reprodução) ao exoesqueleto do inseto, após isso é iniciado o processo de germinação e colonização dos mesmo causando paralisação e posterior morte da praga.

Como já destacado, o controle biológico de larvas de lepidópteros já é muito conhecido no cenário agrícola brasileiro. No início da utilização dessa tecnologia, os inseticidas formulados a base de Baculovirus e Bacillus thuringiensis eram importados da Austrália e Estados Unidos, entretanto, desde o ano de 2013 foram iniciados os trabalhos de produção desses inseticidas por empresas nacionais. As mesmas vêm se destacando pelo fato de estarem desenvolvendo produtos com elevada tecnologia conseguindo superar os importados em qualidade e performance no campo.

Em uma análise geral sobre a situação do controle biológico no Brasil, baseando-se nas tecnologias microbiológicas disponíveis no mercado, bem como, a adesão das mesmas em área de produção extensivas, pode-se concluir que o controle biológico no país já não é mais o futuro, mas sim uma realidade que ganha mais adeptos a cada safra, bem como, as empresas brasileiras desenvolvedoras dessas tecnologias vem se tornando referência mundial nesse novo segmento de controle fitossanitário.

Fonte: Associação Brasileira de Sementes e Mudas – ANUÁRIO 2018-.

O Material completo está disponível para download no portal da Abrasem. Quer baixar, clique aqui.

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