O controle de plantas voluntárias de soja (tiguera) e de planta daninhas no período entressafra é indispensável para a redução do inóculo de doenças causadas por fungos biotróficos na safra da soja. Segundo Seixas et al. (2022), em soja, as principais doenças causadas por patógenos biotróficos são a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) e o oídio (Erysiphe diffusa).

O fungo causador do oídio sobrevive em plantas voluntárias de soja e em hospedeiros alternativos, como feijão, tremoço-branco, feijão-de-porco e mucuna-branca (Seixas et al., 2022). Sob condições adequadas de temperatura e umidade, esses fungos sobrevivem nas plantas hospedeiras/daninhas durante os períodos entressafra, infectando a cultura da soja cultivada na sucessão, no entanto, apresentam diferentes exigentes ambientais.

A ferrugem-asiática necessita de molhamento foliar para se desenvolver (água livre na folha) e temperaturas amenas 18°C a 26,5°C. Já o oídio, é favorecido por condições de baixa umidade relativa do ar e temperaturas amenas (18°C a 24°C) (Soares et al., 2023).

Figura 1. A – Sintomas iniciais de ferrugem-asiática em soja; B – Sintomas iniciais de oídio em soja.

Ambas as doenças podem ocorrer em qualquer estádio do desenvolvimento da soja, entretanto, por ocasião, a ocorrência do oídio é mais comum no início da floração da soja (figura 2). Em função das condições ambientais requeridas pelos patógenos para o desenvolvimento e infecção, alguns fenômenos climáticos podem promover melhores condições para o desenvolvimento dessas doenças, aumentando a pressão de patógenos sobre a soja.

Figura 2. Curva de progresso do oídio em soja.
Fonte: Prestes; Kochinski; Ortiz (2022)

Dentre esses fenômenos, destacam-se o El Niño e o La Niña (fenômenos ENSO). Em anos de La Níña, há  uma redução do volume de chuvas no Sul do Brasil e aumento do volume de chuvas no Norte e Nordeste, no Centro-Oeste e Sudeste, o impacto desse fenômeno pode variar. Essas condições favorecem o desenvolvimento o oídio no Sul e da ferrugem-asiática no Norte e Nordeste.


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O contrário é valido para anos de El Niño, em que maiores volume de chuva são observados no Sul favorecendo o desenvolvimento da ferrugem-asiática. Embora os modelos climatológicos indiquem a ocorrência de uma La Niña de baixa intensidade e de curta duração para a presente safra (figura 3), vale destacar a necessidade de intensificar o monitoramento e controle do oídio no Sul do Brasil e da ferrugem nas regiões com maior frequência de chuvas.

Figura 3. Probabilidade de ocorrência dos Fenômenos ENSO, para diferentes trimestres.
Fonte: IRI (2024)

Antecedendo o monitoramento e controle químico, por se tratar de fungos biotróficos, o controle de plantas voluntárias de soja e de plantas daninhas hospedeiras é determinante para reduzir a pressão dessas doenças na safra de verão. Além disso, vale destacar que plantas voluntárias também servem de hospedeiras para pragas que acometem a soja.

Com isso, fica evidente a necessidade do controle antecipado de plantas daninhas e da soja tiguera. Em conjunto a isso, o adequado posicionamento de fungicidas, é fundamental para reduzir as perdas de produtividade, que no caso do oídio podem chegar a 35% (Godoy et al. , 2021), e no caso da ferrugem-asiática, pode chegar á 90% nos casos mais severos (Godoy et al., 2023).


Veja mais: Fungicidas multissítios podem atrasar a evolução da ferrugem?


Referências:

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA, Phakopsora pachyrhizi, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 195, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154837/1/Circ-Tec-195.pdf >, acesso em: 22/10/2024.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DO OÍDIO, NA SAFRA 2020/2021: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 178, 2021. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1135749/1/Circ-Tec-178.pdf >, acesso em: 22/10/2024.

IRI. ENSO FORECAST: CPC OFFICIAL PROBABILISTIC ENSO FORECAST. Columbia Climate School International Research Institute For Climate And Society, 2024. Disponível em: < https://iri.columbia.edu/our-expertise/climate/forecasts/enso/current/?enso_tab=enso-cpc_plume >, acesso em: 22/10/2024.

PRESTES, S.; KOCHINSKI, G.; ORTIZ, R. OÍDIO E MOFO-BRANCO EM SOJA: LA NIÑA FAVORECE O DESENVOLVIMENTO DESSAS DOENÇAS. Revista FABC, 2022. Disponível em: < https://fundacaoabc.org/wp-content/uploads/2022/11/202211revista-pdf.pdf >, acesso em: 22/10/2024.

SEIXAS, C. D. S. et al. BIOINSUMOS PARA O MANEJO DE DOENÇAS FOLIARES NA CULTURA DA SOJA. Embrapa, Bioinsumos na Cultura da Soja, cap. 19, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1147056/1/cap-19-Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 22/10/2024.

SOARES, R. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa Soja, Documentos, n. 256, ed. 6, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1158639 >, acesso em: 22/10/2024.

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