A competição entre plantas daninhas e plantas cultivadas por água, nutrientes do solo e radiação solar faz com que plantas daninhas exerçam papel negativo na produtividade de cultivos agrícolas. Ainda que a interferência das daninhas na produtividade de culturas como a soja dependa da espécie, densidade populacional e estádio da infestação no cultivo, é comum observar significativas perdas de produtividade em decorrência da presença de plantas daninhas na lavoura.
Causando reduções de produtividade de até 21% na cultura da soja, sob densidades populacionais de uma planta por metro quadrado, o capim-amargoso (Digitaria insularis) é um clássico exemplo de planta daninha com elevado impacto econômico na cultura da soja. Além disso, a daninha forma touceiras, o que aliado aos casos de resistência a herbicidas, torna cada vez mais difícil seu controle.
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Figura 1. Interferência de diferentes densidades populacionais de capim-amargoso (Digitaria insularis) sobre a produtividade da soja.
Além das características fisiológicas da daninha, aliado a sua resistência a herbicidas, o banimento do Paraquate em solo brasileiro agravou a problemática do controle do capim-amargoso, fazendo com que novas alternativas de manejo e controle venham a ser adotadas visando o controle eficiente da planta daninha. Contudo, tais práticas podem em algum momento elevar os custos de produção, aumentando o impacto negativo causado pelo capim-amargoso.
Dessa forma, o emprego de herbicidas eficientes no controle do capim-amargoso é cada vez mais importante para um adequado manejo da planta, sendo necessário para isso, conhecer a porcentagem de controle e eficiência dos produtos disponíveis para o controle da daninha. Avaliando a eficiência de controle do capim-amargoso com o uso de diferentes herbicidas, Cassol et al. (2019) observaram que o melhor controle dentre os avaliados pelos autores ocorreu com o uso de glyphosate + clethodim (controle próximo de 90%), porém após 35 dias após aplicação (DAA) as plantas de capim-amargoso começaram a mostrar rebrotas significativas, diminuindo o controle, destacando assim a capacidade da daninha em se recuperar da aplicação de herbicidas.
O estudo conduzido por Cassol et al. (2019) contou com três experimentos, onde no experimento 1, os herbicidas foram aplicados em plantas de capim-amargoso com 6 a 8 perfilhos; e nos experimentos 2 e 3, quando as plantas estavam em pleno florescimento, com até 18 perfilhos (Cassol et al., 2019).
Com base nos resultados obtidos pelos autores, o melhor controle do capim amargoso ocorreu no estádio de 6-8 perfilhos (experimento 1), destacando a importância do controle do capim-amargoso ainda nos estádios iniciais do desenvolvimento da daninha. Os tratamentos avaliados por Cassol et al. (2019) no experimento 1 podem ser observados na tabela 1, já os resultados de porcentagem de controle podem ser observados na tabela 2.
Tabela 1. Herbicidas aplicados para controle do capim-amargoso nos estádios de desenvolvimento de 6-8 perfilhos, no período de entressafra.
Tabela 2. Porcentagem (%) de controle de capim-amargoso submetido a aplicação de diferentes herbicidas no estádio de 6 – 8 perfilhos.
Cabe destacar que quando realizado o estudo apresentado por Cassol et al. (2019) ainda não havia sido definido o banimento do paraquate, entretanto, a partir desse deve-se desconsiderar o uso do produto em território nacional. Nos experimentos 2 e 3, os tratamentos não apresentaram controle acima de 90%, e os herbicidas clethodim e haloxyfop obtiveram controle final similar nas associações com glyphosate, entretanto os autores concluem que a aplicação única dos herbicidas utilizados, nas doses testadas, não foi suficiente para um controle eficiente de capim-amargoso em estádios de desenvolvimento mais avançados (Cassol et al., 2019).
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Além do estudo conduzido por Cassol et al. (2019), a eficiência de diferentes herbicidas no controle do capim-amargoso com e sem a roçada das plantas entouceiradas foi avaliada por Grigolli (2017), onde o autor observou que dentre os herbicidas avaliados, os mais eficazes para a condição de aplicação sem roçada do capim-amargoso foram Select (400 mL.ha-1); Select One Pack (1600 mL.ha-1); Targa (2000 mL.ha-1); Select + Verdict; Select + Targa; Select + Panther e Select + Liberty. Os tratamentos avaliados por Grigolli (2017) podem ser visualizados na Tabela 3, já os resultados de eficiência de controle para a aplicação de herbicidas sem a roçada das plantas daninhas podem ser observados na figura 2.
Tabela 3. Herbicidas, estádio de aplicação do capim-amargoso, dosagem (mL ha-1) e ingrediente ativo utilizados no experimento.
Figura 2. Eficiência de controle de capim-amargoso sem roçada mecânica aos 28 dias após a aplicação dos tratamentos. Maracaju, MS, 2017.
Conforme observado por Grigolli (2017), a prática da roçada de plantas entouceiradas e aplicação de herbicidas no momento de brotação do capim-amargoso proporcionou melhores resultados de eficiência de controle, demonstrando que a prática é uma interessante ferramenta para o controle de plantas em estádios mais avançados de desenvolvimento. Na modalidade de aplicação de herbicidas após rocada, os tratamentos mais eficazes foram Select (800 mL.ha-1); Select One Pack (1600 mL.ha-1); Targa (2000 mL.ha-1), Select + Verdict; Select + Targa e Select + Panther (Grigolli, 2017).
Figura 3. Eficiência de controle de capim-amargoso com roçada mecânica aos 28 dias após a aplicação dos tratamentos. Maracaju, MS, 2017.
Tendo em vista os aspectos observados, pode-se concluir que o ideal do pondo de vista de manejo é o controle do capim amargoso ainda nos estádios iniciais do desenvolvimento da planta daninha, entretanto, quando esse manejo não é possível, para melhor controle de plantas já desenvolvidas (entouceiradas), recomenda-se a roçada e aplicação de herbicidas no momento do rebrote da daninha, além disso, com base nos resultados apresentados aqui, a associação de produtos pode ser uma interessante ferramenta no controle do capim-amargoso.
Referências:
CASSOL, M. et al. EFICIÊNCIA DE HERBICIDAS ISOLADOS E ASSOCIADOS NO CONTROLE DE CAPIM-AMARGOSO RESISTENTE AO GLYPHOSATE. Planta Daninha, V.37, 2019. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/pd/v37/0100-8358-PD-37-e019190671.pdf >, acesso em: 07/05/2021.
GRIGOLLI, J. F. J. MANEJO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2016/2017, 2017. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/269/269/5ae0947f6d6c239c33990fa9c4cbf2b40e9a4fa66a99d_capitulo-04-plantas-daninhas-somente-leitura-.pdf >, acesso em: 07/05/2021.