Uma das pragas da atualidade com crescente participação em lavoura de soja é Bemisia tabaci, popularmente conhecida como mosca-branca, mas que na verdade é uma cigarrinha sugadora (figura 1). Os danos ocorrem principalmente em decorrência da sucção de seiva, transmissão de vírus e favorecimento da fumagina, que afetam o desenvolvimento e a produtividade da cultura (Suekane et al., 2013).

As ninfas, principalmente as do biótipo B da mosca-branca, ao se alimentarem, liberam grande quantidade de substância açucarada. Essa substância favorece a formação do fungo fumagina (Capnodium sp.), tornando as folhas pretas, que, ao receberem radiação solar, se desidratam e caem (Sosa-Gómez et al., 2023).

Figura 1. Mosca-branca  (Bemisia tabaci).

Além disso, a mosca-branca pode atuar como agente transmissor de viroses, tais como o vírus da “necrose-da-haste”, do grupo dos carlavírus, que com a evolução dos sintomas, pode levar a planta à morte, comprometendo a viabilidade da lavoura em casos mais severos.

Em termos produtivos, dependendo da cultivar, condições ambientais, período em que acomete a soja e densidade populacional da praga, perdas de produtividade variando entre 30% a 80% podem ser observadas caso as devidas medidas de controle não sejam adotadas (Tomquelski et al., 2020).

Figura 2. Planta de soja infectada pelo vírus da necrose-da-haste.
Fonte: Adeney de Freitas Bueno – Embrapa.

A mosca-branca apresenta distribuição global (figura 3) e tem apresentado crescente participação nas lavouras brasileira, integrando atualmente o grupo das principais pragas da soja. Com ciclo relativamente curto (de 16 a 25 dias), ampla distribuição e elevada prolificidade (até 300 ovos por fêmea), é difícil controlar efetivamente a mosca-branca. No entanto, dada a capacidade em causar danos e reduzir a produtividade da soja, monitorar e controlar a mosca-branca é indispensável para a manutenção do potencial produtivo da lavoura.

Figura 3. Distribuição global de mosca-branca (Bemisia tabaci).
Fonte: EPPO Global Database (2025)

Embora haja estudos focados em determinar a influencia da densidade populacional e nível de controle da mosca-branca em soja, até então não há nível de ação pré-estabelecido para a praga. O controle da mosca-branca é realizado, quase que exclusivamente, pelo uso de inseticidas químicos e devido às características biológicas do inseto, há a preocupação sobre possíveis problemas de resistência aos inseticidas (Tomquelski et al., 2020).

De acordo com Tomquelski et al. (2020) Visando reduzir o risco de problemas com resistência do inseto a inseticidas, é fundamental realizar o monitoramento das áreas de cultivo e a alternância de produtos com mecanismos de ação distintos, associado ao uso racional destes produtos, com o objetivo de reduzir a pressão de seleção de indivíduos resistentes.

Para tanto, é preciso conhecer o comportamento do inseto e a eficiência dos inseticidas. A mosca-branca coloniza a parte inferior da folha (abaxial), e conforme observado por Pozebon et al. (2019), a maioria das ninfas tende a se concentrar nos terços médio e inferior da planta, enquanto a maioria dos adultos se concentra no terço superior da planta.

Figura 4. Distribuição típica de ninfas e adultos de Bemisia tabaci em folíolos de soja.
Crédito da figura: Tiago Colpo, adaptado de Pozebon et al (2019).

Ainda que o nível de ação para o controle da mosca-branca não tenha sido definido, sugere-se realizar o controle químico da praga ao observa a presença de 5 a 10 ninfas por folíolo para prevenir danos mais severos. Em função do curto ciclo de vida, a praga costuma-se reestabelecer rapidamente, contudo, conforme observado por Arneman et al. (2019), pulverizações sequenciais, iniciadas no começo da infestação, aumentam significativamente a eficiência do controle da mosca-branca.

Atualmente, 35 inseticidas químicos estão registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para o controle da mosca-branca (Bemisia tabaci) na cultura da soja (Agrofit, 2025). Além disso, o Brasil conta com 43 inseticidas biológicos registrados para o controle dessa praga, sendo a maioria formulada à base dos fungos Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae e Paecilomyces fumosoroseus (Pozebon, 2024).

Diante da limitada diversidade de inseticidas químicos disponíveis para essa finalidade, torna-se essencial adotar estratégias que preservem a eficácia dos produtos atualmente registrados e contribuam para o manejo da resistência da praga. Nesse contexto, o uso criterioso das moléculas disponíveis, com adequada rotação de ingredientes ativos e mecanismo de ação ao longo do ciclo da cultura, é uma medida indispensável para o sucesso do manejo da mosca-branca.

Entre as alternativas para compor um programa de manejo eficaz e promover a rotação de modos de ação, destacam-se os inseticidas fisiológicos, como o novo Fiera® (Buprofezina). Trata-se de um inseticida seletivo, classificado como regulador de crescimento, com registro junto ao MAPA para o controle da mosca-branca, que atua principalmente sobre as fases jovens (ninfas) do inseto. Resultados recentes têm evidenciado sua efetividade no campo, especialmente quando utilizado de forma estratégica dentro do programa de manejo integrado.

Além do Fiera®, outros inseticidas registrados também podem ser integrados ao programa de controle, inclusive em associação com produtos biológicos, o que pode potencializar os resultados e contribuir para a sustentabilidade do sistema de manejo. No entanto, é fundamental que qualquer decisão quanto ao uso de inseticidas, especialmente em aplicações sequenciais, considere rigorosamente a rotação de princípios ativos e modos de ação, conforme as diretrizes do IRAC-BR.

É importante lembrar que, além dos danos diretos causados pela sucção de seiva e injeção de toxinas, o ataque da mosca-branca pode interferir negativamente no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta (IRAC, 2013). Como já discutido, a ausência de controle adequado pode resultar em perdas significativas de produtividade.

Referências:

AGROFIT. CONSULTA ABERTA. Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários, 2025. Disponível em: < https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >, acesso em: 09/07/2025.

ARNEMANN, J. A. et al. MANAGING WHITEFLY ON SOYBEAN. Journal of Agricultural Science, v. 11, n. 9, 2019. Disponível em:  < https://www.researchgate.net/publication/334123812_Managing_Whitefly_on_Soybean >, acesso em:  08/07/2025.

EPPO GLOBAL DATABASE. Bamisia tabaci (BEMITA): Distribution. EPPO Global Database, 2025. Disponível em: < https://gd.eppo.int/taxon/BEMITA/distribution >, acesso em: 01/06/2025.

IRAC-BR. RESISTÊNCIA DE MOSCA-BRANCA A INSETICIDAS. Comitê de Ação a Resistencia aos Inseticidas, IRAC-BR, 2013. Disponível em: < https://www.irac-br.org/_files/ugd/6c1e70_e9a5d8f60a584e02aa5c5152b5a41e78.pdf >, acesso em: 09/07/2025.

POZEBON, H. MOSCA BRANCA: PRAGA EM ASCENSÃO. Mais Soja, 2024. Disponível em: < https://maissoja.com.br/mosca-branca-praga-em-ascensao/ >, acesso em: 09/07/2025.

POZENON, H.  DISTRIBUTION OF Bemisia tabaci WITHIN SOYBEAN PLANTS AND ON INDIVIDUAL LEAFLETS. The Netherlands Entomological SocietyEntomologia Experimentalis et Applicata, 2019. Disponível em: < https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/eea.12798 >, acesso em: 09/07/2025.

SOSA-GÓMEZ, D. R. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE INSETOS E OUTROS INVERTEBRADOS DA CULTURA DA SOJA. Embrapa, Documentos, n. 269, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1152855 >, acesso em: 08/07/2025.

SUEKANE, R. et al. DANOS DA MOSCA-BRANCA Bemisia Tabaci (GENN.) E DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DAS NINFAS EM CULTIVARES DE SOJA EM CASA DE VEGETAÇÃO. Arq. Inst. Biol., 2013. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/aib/a/6tLzjL6L58DpztMgP5R6Gyf/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 08/07/2025.

TOMQUELSKI, G. V. et al. EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS PARA O CONTROLE DA MOSCA-BRANCA Bemisia tabaci BIÓTIPO B (Hemiptera: Aleyrodidae) EM SOJA NAS SAFRAS 2017/2018 E 2018/2019: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 158, 2020. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1121519/eficiencia-de-inseticidas-para-o-controle-da-mosca-branca-bemisia-tabaci-biotipo-b-hemiptera-aleyrodidae-em-soja-nas-safras-20172018-e-20182019-resultados-sumarizados-dos-ensaios-cooperativos>, acesso em: 09/07/2025.

Foto de capa: Prof. Jonas Arnemann – UFSM

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