Durante muito tempo os ácaros foram considerados pragas secundárias em soja no Brasil. No entanto, sua ocorrência tem ganhado cada vez mais importância, tanto pelos danos ocasionados à cultura quanto pela necessidade do manejo químico. Surtos populacionais de ácaros são particularmente comuns em anos de secas ou com estiagens prolongadas.

O ataque por ácaros fitófagos afeta diretamente a produção de grãos em plantas de soja, uma vez que esses aracnídeos se alimentam do parênquima e extraem o conteúdo celular nas folhas. Como resultado, ocorre uma redução da capacidade fotossintética das plantas e, por consequência, perdas na produtividade de grãos (MORAES E FLECHTMANN, 2008).

Somado a isso, há evidências que de que o manejo fitossanitário e cultural da soja esteja favorecendo a ocorrência dessa praga. Como exemplo, destaca-se o uso excessivo de inseticidas de amplo espectro, principalmente os piretróides, que diminuem a população de inimigos naturais. Além disso, certos fungicidas aplicados de forma antecipada afetam as populações de fungos ácaro-patogênicos, que naturalmente controlam a praga (ROGGIA, 2010).

Atualmente, existem 33 produtos registrados no Brasil para o controle químico de ácaro-rajado (espécie mais agressiva), 7 para o ácaro-branco, 5 para o ácaro-vermelho e 3 acaricidas registrados para o ácaro-verde (espécie mais frequente). Na grande parte dos registros, o grupo químico utilizado é a avermectina, seguido de feniltiouréia, avermectina + antranilamida, fenilpiridinilamina e outros (AGROFIT, 2020).

Figura 1. Identificação de ácaros-praga em soja. Da esquerda para direita: ácaro-branco (P. latus), ácaro-vermelho (T. desertorum, T. gigas e T. ludeni), ácaro-verde (M. planki) e ácaro-rajado (T. urticae).

Fonte: Adaptado de Embrapa. Confira a imagem original clicando aqui 

Assim, embora exista uma quantidade relativamente pequena de produtos registrados para o controle de ácaros em soja, encontram-se entre eles diferentes mecanismos de ação que podem ser rotacionados a fim de evitar-se a seleção de populações resistentes. Para Gray (2005), medidas de controle devem ser adotadas ao constatar-se a presença de 20 – 25 % das folhas de soja com sintomas de ataque no período vegetativo e 10 – 15 % no reprodutivo.

Já segundo a Embrapa (2006), o intervalo de nível de dano econômico para ácaros em soja varia entre 13 a 15,8% das folhas com sintomas de descoloração. No caso específico do ácaro-rajado, Padilha et al. (2020) recomendam a adoção de medidas de controle a partir da densidade populacional de um ácaro-rajado por cm² de área foliar, quando as folhas de soja começam a apresentar leve descoloração e algumas pontuações amarelas.

Em experimento conduzido por Fiorin (2014) em Santa Maria e São Sepé (RS) na safra 2011/12, comparando o uso de acaricida em diferentes genótipos de soja, obteve-se ganhos significativos em produtividade de ao realizar-se o controle de ácaros (Tabela 1).

Tabela 1. Produtividade de grãos (kg.ha-1) de diferentes genótipos de soja em relação à ocorrência e controle de ácaros em Santa Maria e São Sepé, 2012.

Fonte: Fiorin (2014).

O tratamento utilizado no experimento foi de três aplicações preventivas do acaricida abamectina, nos estágios fenológicos R1, R4 e R5.4. O ganho médio de produtividade em relação aos tratamentos sem controle de ácaros foi de 493,15 kg.ha-1, no experimento em Santa Maria, e de 426,74 kg.ha-1, no experimento em São Sepé. Na média de todos os genótipos, o ganho de produtividade foi de 33,39%.

Ademais, segundo Guedes et al (2008), os produtos mais utilizados no controle de ácaros em soja são formulados à base de abamectina por apresentarem um custo mais baixo. Nesses casos, a adição de óleo mineral eleva em 15% a eficiência de controle. Já os produtos formulados com espiromesifeno possuem maior custo, porém apresentam maior eficiência e residual de controle em relação aos demais.

Portanto, a necessidade de controle químico de ácaros em soja varia conforme as condições climáticas e o manejo utilizado na safra. Em anos de seca ou com estiagens prolongadas, as populações de ácaros tendem a aumentar, ao passo que os inimigos naturais diminuem devido ao uso de inseticidas de amplo espetro. Nesses casos, torna-se essencial o monitoramento da lavoura e, se necessário, o emprego de controle químico para reduzir a pressão da praga sobre a cultura. Por fim, é importante atuar com estratégias de preservação de inimigos naturais e uso racional de agroquímicos, minimizando os impactos ambientais e evitando a seleção de ácaros resistentes.



Elaboração:Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

REFERÊNCIAS: 

AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Acesso: 19 de Novembro de 2020. Disponível em http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons

ARNEMANN, J.A.; FIORIN, R.A.; GUEDES, J.V.C.; POZEBON, H.; MARQUES, R.P.; PERINI, C.R.; STORCK, L. Assessment of damage caused by the spider mite Mononychellus planki (McGregor) on soybean cultivars in South America. Australian Journal of Crop Science. 12 de Dezembro de 2018. Disponível em https://www.cropj.com/arnemann_12_12_2018_1989_1996.pdf

EMBRAPA. Tecnologias de Produçao de Soja. Londrina: Embrapa-soja. Ano de publicação 2006. Disponível em https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/469686/tecnologias-de-producao-de-soja—regiao-central-do-brasil-2007

FIORIN, R.A. Ácaros na cultura da soja: genótipos, danos e tamanho de amostra.Tese de Doutorado em Agronomia UFSM. 29 de Agosto de 2014. Disponível em https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/3239/FIORIN%2C%20RUBENS%20ALEX.pdf?sequence=1&isAllowed=y

GRAY, M. Two spotted Sniper mite infestations in Soybean intensify as drought conditions persist. The bullet. 4 de Julho de 2005. Disponível em http://bulletin.ipm.illinois.edu/print.php?id=354

GUEDES, J.V.C et al. Ácaros em soja: ocorrência, reconhecimento e manejo. Revista Plantio Direto, Passo Fundo. Setembro/Outubro de 2008. Disponível em Revista Plantio Direto ed.107, p. 32-37.

MORAES, G.J.; FLECHTMANN, C.H.W. Manual de Acarologia: acarologia básica e ácaros de plantas cultivadas no Brasil. Ribeirão Preto: Holos Editora. 2008. 308p.

PADILHA, G. et al. Damage assessment and economic injury level of the two-spotted
spider mite Tetranychus urticae in soybean. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.55, e01836, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/S1678-3921.pab2020.v55.01836

ROGGIA, S. Caracterizaçao de fatores determinantes dos aumentos populacionais de ácaros tetraniquídeos em soja. 2010. Tese de Doutorado – Escola de Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. 3 de Dezembro de 2010. Disponível em https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11146/tde-29112010-090801/publico/Samuel_Roggia.pdf

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