Com casos de resistência a herbicidas relatados desde 2003 no Brasil (figura 1), o azevém (Lolium multiflorum) pode ser considerada uma preocupante planta daninha dos sistemas de produção agrícola, especialmente quando infesta lavouras de inverno, cultivadas com espécies pertencentes a família Poaceae, a exemplo do trigo. Considerada uma planta anual ou bianual, o azevém apresenta rápido crescimento e desenvolvimento, se destacando durante os períodos mais frios, florescendo normalmente durante os meses de setembro e outubro na região Sul do Brasil, com maturação normalmente no final do ano. O azevém apresenta elevada produção de sementes, podendo chegar a 3.500 sementes por planta (Up. Herb, 2023).

Figura 1. Evolução dos casos de relato da resistência do azevém a herbicidas no Brasil.

Adaptado: Rizzardi, M. A.

Embora seja considerada uma tradicional e persistente planta daninha em lavoura de inverno, especialmente em culturas como trigo e aveia, o azevém também pode causar perdas de produção em lavouras de verão. Apenas 4 plantas m-2 podem reduzir o rendimento de grãos da cultura do milho em até 60% (Nandula, 2014; apud. Pagnoncelli Junior. & Trezzi, 2020).

Mas é em meio as culturas de inverno que o azevém se destaca. Conforme destacado por Pagnoncelli Junior. & Trezzi (2020), populações de apenas 10 plantas m-2 podem reduzir em até 4,2% a produtividade do trigo, sendo que dependendo do período de matocompetição e da densidade populacional da planta daninha, perdas de produtividade de até 90% podem ser observadas em casos mais severos.

Visando o controle eficiente do azevém, além do adequado posicionamento de herbicidas, é essencial atentar para o momento de aplicação, especialmente se tratando do uso de herbicidas pós-emergentes. Os herbicidas pós-emergentes devem ser aplicados quando o azevém estiver com 2 a 4 folhasno máximo emitindo o primeiro afilho.



O adequado posicionamento dos herbicidas possibilita maximizar a ação do herbicida, refletindo em maior eficiente de controle do ezevém. Sobretudo, o manejo e controle dessa planta daninha não deve ser embasado apenas na aplicação de herbicidas pós-emergentes.

Uma importante estratégia consiste no emprego de herbicidas pré-emergentes. Embora poucas opções estejam disponíveis para uso na cultura do trigo, restringindo-se aos herbicidas pendimetalina, piroxasulfona, flumioxazina; trifluralina e s-metolacloro; ou em fase de pesquisa como: bixlozona (isoflex) e cinmetilina (Rizzardi, 2021), os herbicidas pré-emergentes tem demonstrado importante contribuição no manejo do azevém em lavouras de inverno, ao ponto de ser possível observar visualmente suas contribuições ao comparar com áreas sem o uso dos pré-emergentes (figura 2).

Figura 2. Testemunha (a esquerda), tratamento com herbicidas pré-emergente (a direita) visando o controle do azevém em trigo.

Fonte: Rede Técnica Cooperativa – RTC (2021)

Os herbicidas pré-emergentes atuam diretamente no banco de sementes do solo, reduzindo e/ou inibindo a germinação das sementes presentes no solo, reduzindo por consequência os fluxos de emergência de plantas daninhas, possibilitando o melhor estabelecimento inicial da cultura no campo. Levando em consideração que em muitas lavouras do Sul do Brasil, a soja será sucedida pelo trigo, e que uma grande proporção do azevém presente nas áreas de cultivo apresenta resistência ao glifosato, o adequado posicionamento dos herbicidas na dessecação pré-semeadura, seguido pelo emprego de herbicidas pré-emergentes, constitui uma importante estratégia de manejo e controle dessa planta daninha.

Herbicidas inibidores da ACCase também podem ser uma opção para o controle pré-semeadura do trigo, sobretudo, conforme destacado por Rizzardi (2023), alguns cuidados necessitam ser adotados ao utilizar esses herbicidas. Tanto os herbicidas do grupo das ciclohexanodionas (Dim) ou ariloxifenoxipropionatos (Fop) são indicados para o controle do azevém, porém deve-se respeitar algumas recomendações.

Rizzardi (2023), destaca ser necessário observar o intervalo entre a aplicação e a semeadura do trigo. No caso, 7 a 10 dias para os Dim e de 14 a 21 dias para os Fop; além disso, deve-se evitar a associação com herbicidas auxinicos, principalmente 2,4-D, visto que a associação é antagônica diminuindo a ação de controle proporcionada pelo graminicida; também deve-se verificar, se nos anos anteriores houve falhas no controle de Azevém com om uso de graminicidas. Essas falhas podem ser indicativos da presença de biótipos resistentes (Rizzardi, 2023), devendo-se adotar outras estratégias de manejo.



Referências:

PAGNONCELLI JR. F. B.; TREZZI, M. M. Lolium multiflorum: BIOLOGIA, RESISTÊNCIA E MANEJO. HRAC-BR: Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2020. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/116tXRfLpsveezKZ0XT57DI3T_Iv6U11S/view >, acesso em: 17/04/2023.

RIZZARDI, M. A. HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES EM TRIGO: UMA TENDÊNCIA QUE VEIO PARA FICAR. Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas, 2021. Disponível em: < https://upherb.com.br/int/herbicidas-pre-emergentes-em-trigo-uma-tendencia-que-veio-para-ficar#:~:text=O%20uso%20de%20herbicidas%20pr%C3%A9,na%20p%C3%B3s%2Demerg%C3%AAncia%20da%20cultura. >, acesso em: 17/04/2023.

RIZZARDI, M. A. MANEJO QUÍMICO: COMO CONTROLAR O AZEVÉM NO TRIGO? Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas, 2023. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/como-controlar-o-azevem-no-trigo >, acesso em: 17/04/2023.

UP. HERB. PLANTAS DANINHAS: AZEVÉM. Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas, 2023. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/azevem >, acesso em: 17/04/2023.

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