O percevejo-marrom (Euschistus heros) é uma praga-chave da cultura da soja, se destacando pelos danos causados e necessidade de atenção redobrada no manejo. O controle químico é a ferramenta que possui maior nível de eficácia no controle de percevejos em soja (EMBRAPA, 2019). Porém, embora o percevejo-marrom esteja presente nas lavouras desde o período vegetativo da cultura, é no período reprodutivo que acontecem os prejuízos econômicos.
Antes do início do estágio R3 (“canivete”) a praga não possui potencial de causar danos significativos à cultura (DETOMASI, 2015). O período crítico de ataque estende-se de R3 até R7 (ponto de maturidade fisiológica). Atualmente existem 59 inseticidas registrados para controle do percevejo-marrom da soja no Brasil (AGROFIT, 2020). No entanto, encontram-se em sua maioria apenas três grupos químicos com modo de ação distintos: neonicotinóides, piretróides e organosforados. Isso dificulta na rotação dos mecanismos de ação, buscando evitar a seleção de uma possível resistência aos inseticidas.
Nesse contexto, é possível relatar que dentro do grupo dos organosforados, o acefato é o principal produto trabalhado no controle químico, seguido pela malationa, clorpirifós e fenitrotiona. Somado a isso, os neonicotinóides tem como os principais ingredientes ativos utilizados o acetamiprido, imidicloprido, tiametoxam e dinotefuran. Destaca-se ainda que o inseticida sulfoxaflor, do mesmo grupo, vem sendo recomendado na maioria dos casos em mistura com os inseticidas do grupo dos piretróides. Estes, por sua vez, incluem os ingredientes ativos alfa-cipermetrina, bifentrina, beta-ciflutrina, cipermetrina, esfenvalerato, fenpropatrina, lambda-cialotrina e zeta-cipermetrina (PROMIP, 2019).
Pré-misturas de neonicotinóides com piretróides permitem maior espectro de ação e atuação em diferentes sítios toxicológicos da praga. De acordo com ROGGIA et al. (2019) nos ensaios em rede de cooperados geridos pela Embrapa, onde avaliou-se a eficiência de inseticidas no controle do percevejo-marrom em soja na safra 2018/2019, os melhores resultados foram observados quando controlado-se em estádio de ninfa grande, em comparação ao estádio de adulto. Os produtos utilizados encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1 – Produtos e doses avaliados pela rede de ensaios cooperativos de inseticidas para controle de percevejo-marrom em soja. Safra 2018/19.

Segundo os resultados apresentados nessa Circular Técnica, produtos que contém acefato apresentam maior eficiência de controle sobre adultos do que sobre ninfas grandes. Por outro lado, os produtos contendo bifentrina + carbosulfano, bifentrina + acetamiprido e PNR1 (lambda-cialotrina + imadacloprido) possuem melhor eficiência de controle sobre ninfas do que sobre adultos.
Ademais, um estudo publicado pela Fundação Rio Verde de Lucas do Rio Verde – MT em 2017 também demonstrou a eficiência de diferentes ingredientes ativos no controle de percevejo-marrom em soja. Tiametoxam + lambda-cialotrina apresentou eficiência de 100% de controle sobre ninfas e adultos aos três dias após a primeira aplicação. Além desse produto, imidacloprido + bifentrina e acefato + sal também se destacaram no controle de ninfas, apresentando maior eficiência em todas as avaliações (Figura 1).
Figura 1 – População de E. heros (adultos + ninfas) nas avaliações aos 03, 07, 10 e 14 dias após primeira aplicação (DAA) e aos 03 e 07 dias após segunda aplicação (DAB) em diferentes tratamentos na cultura da soja.

Somado a isso, de acordo com VICENSI (2017) e CAMPOY & DURIGAN, entre os produtos inseticidas testados a mistura dos grupos químicos neonicotinóides + piretróides é a que vem apresentando o melhor custo-benefício e desempenho no controle dos insetos-praga da cultura da soja.
Veja também: Quantos dias vive um percevejo?
Considerações finais
Recomenda-se realizar controle químico apenas a partir do aparecimento dos legumes (vagens) na cultura da soja, pois os danos causados anteriormente a esse estágio não resultam em prejuízo econômico.
Pré-misturas de neonicotinóides + piretróides permitem maior espectro de ação, atuando em diferentes sítios toxicológicos das pragas.
A rotação dos mecanismos de ação é essencial para evitar a seleção de populações resistentes aos inseticidas.
Redação: Grupo Manejo e genética de Pragas UFSM
Elaboração do texto: Rodrigo Krammes
Revisão: Henrique Pozebon e Jonas Arnemann
Referências:
AGROFIT. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: < http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons >. Acesso em: 03.11.2020
CAMPOY, H., DURIGAN. M. Percevejo-marrom, Euschistus heros. Disponível em: <http://www.irac-br.org/euschistus-heros >. Acesso em: 05.11.2020
DETOMASI, M. A. Manejo de percevejo na soja: importância da praga. BioGenese. São Paulo, SP, 2015.
DI BELLO, M. M.; BELUFI, L. M. R.; PITTELKOW, F. K; PASQUALLI, R. M. Avaliação de eficiência de inseticidas para o controle de percevejo marrom (Euschistus heros) na cultura da soja em Lucas do Rio Verde – MT. Boletim Técnico Safra 2016/17 e Segunda Safra 2017. Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Rio Verde, 2017.
PROMIP. Percevejos da soja. Disponível em: < https://promip.agr.br/percevejos-da-soja/ >. Data de acesso: 03.11.2020
ROGGIA, S. et al. Eficiência de inseticidas no controle do percevejo-marrom (Euschistus heros) em soja, na safra 2018/2019: resultados sumarizados de ensaios cooperativos. Embrapa, Circular Técnica, n. 154, 2019. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/205139/1/CT1543.pdf >, acesso em: 09/11/2020.
VICENSI, T. R. Aplicação de inseticidas piretroides + neonicotinoides para o controle de Euschistus heros para cultura soja. Universidade Federal do Paraná – setor Palotina, 2017. Disponível em: < https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/62239/tcc%20pronto%202112.pdf?sequence=1&isAllowed=y >. Acesso em: 05.11.2020