A presença de plantas invasoras em áreas de cultivo representa um desafio para os produtores. Essas plantas têm a capacidade de competir por recursos essenciais para o desenvolvimento das culturas, como água, luz e nutrientes. Além disso, elas podem liberar substâncias alelopáticas, que interferem no crescimento das outras plantas, também podem atuar como hospedeiras de pragas e doenças e ainda interferir na colheita, resultando em perdas qualitativas e quantitativas.

As plantas invasoras do gênero Ipomoea, pertencentes à família Convolvulaceae, são popularmente conhecidas como corda-de-viola, campainha ou corriola, apresentam alta capacidade competitiva, sendo prejudiciais ao desenvolvimento das culturas. Estas plantas são de ocorrência comum em todas as regiões do Brasil, apresentando mais de 140 espécies distribuídas por todo país (Constantini et al. (2011).

De acordo com Lorenzi (2014), a corda-de-viola possui ciclo de vida anual, caracterizando-se pelo seu hábito de crescimento trepador e sua reprodução ocorre predominantemente por meio de sementes. Gazziero et al. (2015), afirma que a corda-de-viola apresenta melhor desenvolvimento em solos revolvidos, com boa fertilidade e com adequada disponibilidade de umidade.

 Figura 1. Ipomoea purpúrea.

Foto: Ferreira (2009).

A dormência das sementes é responsável por diferentes fluxos de emergência, especialmente ao longo do período de primavera e verão (Azania et al. (2011). Conforme observado por Orzari et al. (2013), as espécies pertencentes ao gênero Ipomoea atingem a máxima germinação quando em intervalos de temperaturas entre 20 e 25 °C. Além desse aspecto, a distribuição das sementes ao longo do perfil do solo também exerce efeito sobre o processo de germinação. A espécie I. grandifolia apresenta um comportamento fotoblástico negativo, ou seja, sua germinação se desencadeia na ausência de luz.

Figura 2. Sementes de Ipomoea spp.

Fonte: Up. Herb (Academia das Plantas Daninhas).

Carvalho (2013), destaca que a cobertura do solo com palhada atua como impedimento ao desenvolvimento de algumas espécies de plantas daninhas, no entanto, a corda-de-viola (Ipomoea spp.), é uma exceção, pois consegue emergir mesmo quando há palhada presente no solo. De acordo com Oliveira Jr et al. (2011), infestações severas de Ipomoea podem dificultar e até mesmo impedir a operação de colheita mecanizada, provocando o embuchamento na colheitadeira, além de afetar a qualidade dos grãos colhidos, com aumento da umidade.

De acordo pesquisas realizadas por Pagnoncelli et al. (2017), a presença de uma planta de Ipomoea m2 pode reduzir o rendimento da soja em aproximadamente 26%, além disso, observou-se que o impacto negativo de I. purpúrea é maior que de I. grandifolia no crescimento e rendimento da soja. Além disso, o acréscimo nas densidades de corda-de-viola das espécies I. triloba e I,purpúrea interferem de forma negativa nos componentes de produtividade da soja (Piccinini, 2015).

Ao avaliar a relação competitiva e os efeitos prejudiciais das cordas-de-viola no cultivo de soja, Piccinini (2015) constatou que a presença dessas plantas daninhas resultou em diminuições significativas na produção, chegando a alcançar uma redução de até 45% devido à competição entre as plantas invasoras e a cultura da soja.

Figura 3. Efeito da interação entre soja e diferentes densidades de corda-de-viola (DP, pl m2) na produtividade de grãos de soja (PG).

Fonte: Piccinini (2015).

Carvalho et al. (2013), afirmam que plantas de I. hederifolia mantidas em convivência com a cultura do milho, podem ocasionar redução no crescimento e acúmulo de macronutrientes nas plantas de milho, reduzindo, consequentemente sua produtividade. Além disso, também causam problemas na operação da colheita, pois nessa fase, as plantas daninhas estão em pleno desenvolvimento.



O controle de plantas daninhas com uso de herbicidas, é a forma mais utilizada de controle das daninhas, no entanto, Oliveira Jr et al. (2011), destacam que mesmo o glifosato sendo um herbicida que controla muitas espécies de plantas daninhas, a corda-de-viola apresenta alto grau de tolerância a esse herbicida. Os autores destacam ainda, que no caso da Ipomoea grandifolia, a sua tolerância ao glifosato está associada à menor translocação do herbicida, não sendo identificada evidências de metabolismo diferenciado do herbicida por parte dessa planta daninha.

Devido essa característica de tolerância, uma alternativa recomendada para o manejo dessa planta daninha, é a associação de herbicidas para maior eficiência de controle. A presença da corda-de-viola pode interferir negativamente nos cultivos, ocasionando perdas de produtividade devido à competição, interferência na colheita e aumento da umidade dos grãos colhidos, por isso, é fundamental realizar o manejo preventivo e integrado para evitar a sua presença nas lavouras. Adotar práticas como a limpeza de máquinas a fim de evitar a dispersão de sementes, a utilização de sementes certificadas, a prática de rotação de culturas, o manejo adequado do solo durante os períodos entressafra e a aplicação controlada de herbicidas são ações que podem contribuir para reduzir a incidência dessa planta daninha nas áreas de cultivo.


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Referências:

AZANIA, C. A. M. et al. BIOLOGIA E MANEJO QUÍMICO DE CORDA-DE-VIOLA EM CANA-DE-AÇÚCAR. Boletim Técnico IAC, 209. Campinas – SP, 2011. Disponível em: < https://www.iac.sp.gov.br/publicacoes/arquivos/iacbt209.pdf >, acesso em: 16/08/2023.

CARVALHO, L. B. HERBICIDAS. Editado pelo autor, Lages – SC, 2013.

CONSTANTINI, J. et al. CONTROLE DE CORDA-DE-VIOLA COM AS OPÇÕES DE TRATAMENTOS HERBICIDAS DISPONÍVEIS PARA A CULTURA DO ALGODÃO. Congresso Brasileiro do Algodão, p.797-802, Campina Grande – PB, 2011. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/51313/1/FIT-032Poster.133.pdf >, acesso em: 16/08/2023.

GAZZIERO, D. L. P. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS DA CULTURA DA SOJA. Documentos 274, 2° ed. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126196/1/manual-de-identificacao-de-plantas-daninhas.pdf >, acesso em: 16/08/2023.

LORENZI, HARRI. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS: PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL. Instituto Plantarum de Estudos da Flora LTDA, ed. 7, Nova Odessa – SP, 2014.

OLIVEIRA JR., R. S. et al. BIOLOGIA E MANEJO DE PLANTAS DANINHAS. Omnipax, 348 p., Curitiba – PR, 2011. Disponível em: < http://www2.ufpel.edu.br/prg/sisbi/bibct/acervo/biologia_e_manejo_de_plantas_daninhas.pdf >, acesso em: 16/08/2023.

ORZARI, I. et al. GERMINAÇÃO DE ESPÉCIES DA FAMÍLIA CONVOLVULACEAE SOB DIFERENTES CONDIÇÕES DE LUZ, TEMPERATURA E PROFUNDIDADE DE SEMEADURA. Planta Daninha v. 31. N. 1, p. 53-61. Viçosa – MG, 2013. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/xPBQJj5Mq6tq7gwrY4crLcF/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 16/08/2023.

PAGNONCELLI, F. B. et al. INTERFERÊNCIA DE ESPÉCIES DE Ipomoea NO DESENVOLVIMENTO E PRODUTIVIDADE DA SOJA. Bragantia, v. 76, n. 4, p. 470-479, Campinas – SP, 2017. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/brag/a/6jdjJYPCmFmVC3T4FZPVCMQ/?lang=en# >, acesso em: 16/08/2023.

PICCININI, F. COMPETITIVIDADE E DANOS DE CORDA-DE-VIOLA EM SOJA. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria – RS, 2015. Disponível em: < https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/5131/PICCININI%2C%20FERNANDO.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 16/08/2023.

Foto de capa: Manual de Identificação de Plantas Infestantes.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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