Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja e derivados em Chicago voltaram a subir nestes primeiros dias de setembro. O grão ultrapassou a marca dos US$ 9,60/bushel, fechando a quinta-feira (03) em US$ 9,68/bushel, contra US$ 9,37 uma semana antes. A atual cotação não era vista desde o início de junho de 2018, portanto, há mais de dois anos. Já o farelo de soja voltou a ultrapassar a marca dos US$ 300,00/tonelada curta, fechando a semana com o primeiro mês cotado em US$ 305,20, algo que não era visto desde o início de abril passado. Por sua vez, o óleo voltou a se aproximar dos 34 centavos de dólar por libra-peso, fechando o dia 03/09 em 33,47 centavos, após atingir 33,67 centavos de dólar por libra-peso na véspera, algo que não ocorria desde o dia 10 de janeiro do corrente ano.
Dois são os principais motivos para este comportamento altista da soja, iniciado ainda em julho: as fortes especulações em relação ao clima nos EUA, na medida em que o momento da colheita se aproxima; e a crescente demanda chinesa por grãos em geral e soja em particular, a partir da recomposição de seus rebanhos suinícolas após a peste suína africana que por lá se abateu há dois anos.
No caso do clima, a taxa de lavouras entre boas a excelentes nos EUA voltou a recuar. Assim, até o dia 30/08 as mesmas atingiam a 66% do total, com recuo de três pontos percentuais em relação a semana anterior. Outras 24% estavam regulares e 10% ficavam entre ruins a muito ruins. Lembrando que a colheita estadunidense inicia no final deste mês de setembro de forma mais significativa.
Neste contexto, aumenta o interesse pelos números que virão no próximo relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para o dia 11 de setembro. Antecipando a este relatório, a consultoria privada StoneX, antiga INTL FCStone, reduziu a produtividade média esperada para esta safra, passando a mesma para 3.557 quilos/hectare (59,3 sacos/hectare), o que representa cerca de 1,5 saco a menos por hectare em relação ao indicado em agosto. Com isso, sua projeção para o total da safra estadunidense de soja recua para 119,4 milhões de toneladas, contra 122,3 milhões estimados em agosto.
Quanto às exportações, na semana encerrada em 27/08 os EUA embarcaram 804.591 toneladas de soja, ficando dentro do esperado pelo mercado. Em todo o ano comercial, 2019/20, que se encerrou em 31 de agosto, o volume atingia a 43,1 milhões de toneladas, sendo que uma parte importante havia sido para a China.
Já no Brasil, apesar de o câmbio ter recuado, com o Real atingindo valores ao redor de R$ 5,35 por dólar em alguns momentos da semana, a alta em Chicago compensou boa parte deste movimento. Além disso, os prêmios se mantêm firmes nos portos brasileiros, puxados pela demanda chinesa, ao mesmo tempo em que a demanda interna continua presente. Com isso, os preços médios da soja nas diferentes praças nacionais voltaram a subir nestes primeiros dias de setembro. A média gaúcha no balcão ficou em R$ 126,63/saco, enquanto no Paraná o produto se estabeleceu entre R$ 116,00 e R$ 117,00/saco. Já em Campo Novo do Parecis (MT), o mesmo chegou a R$ 119,00, enquanto em Maracaju (MS) o valor CIF ficou em R$ 132,00. Em Rio Verde (GO) a média fechou a semana em R$ 114,00, enquanto em Luís Eduarto Magalhães (BA), o saco de soja ficou em R$ 125,00.
Neste contexto, continua avançando a venda antecipada da nova safra, que apenas começa a ser semeada. Cerca de 55% da mesma já estaria vendida neste momento. Em regiões como o Mato Grosso, Goiás e Matopiba, o índice chega a 60%. Esta situação implica em alertar para o fato de que, ao chegar a colheita em 2021, o mercado estará com pouca disponibilidade para vendas pós-colheita. Aqueles produtores que colherem mais cedo encontrarão um mercado com preços firmes, mesmo que provavelmente mais baixos do que os atuais, onde os prêmios estarão ainda relativamente elevados. Nestas condições, o segundo semestre de 2021 poderá novamente repetir o quadro atualmente encontrado, desde que a demanda mundial mantenha o ritmo atual; que a demanda interna continue aquecida em biodiesel e em rações animais; e que o câmbio fique nos atuais níveis. Por enquanto, tudo isso ainda está longe de ser uma garantia, já que a volatilidade deste mercado tem sido muito grande nos últimos tempos.
Enfim, para 2020/21 espera-se que a produção brasileira atinja a 131 milhões de toneladas, sendo que 63% será exportado (83 milhões de toneladas), enquanto 45 milhões de toneladas sejam destinadas ao esmagamento interno (aumento de 1,6%). O consumo interno de farelo de soja poderá alcançar 18,5 milhões de toneladas, subindo 2,7% sobre o atual ano comercial, graças a grande demanda do setor das carnes. Já em óleo de soja o Brasil deverá produzir 8,64 milhões de toneladas, sendo que 88% será consumido no mercado interno, via alimento humano, setor químico e biodiesel.
Quer saber mais sobre a Ceema/Unijui? Clique na imagem e confira.
Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ