Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja em Chicago continuaram subindo, buscando o teto dos US$ 12,00/bushel, algo que não é visto há mais de seis anos. Assim, o fechamento para o primeiro mês cotado, neste dia 19/11, ficou em US$ 11,77/bushel, contra US$ 11,37 uma semana antes. Apesar de alguns fundamentos importantes, o movimento é muito especulativo e, na medida em que as condições de mercado se acomodarem, a tendência é de as cotações voltarem abaixo dos US$ 10,00. Especialmente porque as altas do momento levam as projeções para o plantio da futura safra de soja nos EUA a ter um aumento de 7% em sua área. A mesmo tempo, o retorno da chuva em boa parte das áreas produtoras do Brasil e da Argentina acalmou momentaneamente o mercado
Nos EUA a colheita está quase concluída, tendo atingido a 96% da área até o dia 15/11, enquanto a média histórica é de 93% para esta época do ano.
Enquanto isso, as exportações estadunidenses de soja avançam fortemente, especialmente para a China. Na semana encerrada em 05/11 o volume vendido foi de 1,5 milhão de toneladas, ficando dentro das expectativas do mercado. Até aquela data o total exportado pelos EUA atingia a 49,9 milhões de toneladas em um ano, contra pouco mais de 22 milhões na mesma época do ano passado. Este comportamento exportador, visto igualmente no Brasil, é um dos elementos principais das fortes altas recentes em Chicago.
Já na semana encerrada em 12/11 os EUA exportaram mais 2,2 milhões de toneladas, somando no ano comercial atual um total de 22,2 milhões de toneladas, ou seja, 78% acima do que um ano antes.
Por sua vez, a Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA informa que o esmagamento de soja naquele país atingiu a 5,04 milhões de toneladas em outubro, ficando acima das expectativas do mercado. Em setembro o volume esmagado ficou em 4,4 milhões de toneladas.
Pelo sim ou pelo não, o fato é que o movimento altista em Chicago está levando os produtores estadunidenses a obterem lucros importantes após as perdas durante o auge da guerra comercial com a China, entre 2018 e 2019. Hoje, a forte exportação para o país asiático, assim como no caso do Brasil e da Argentina, tem sustentado os preços da oleaginosa.
Além disso, os produtores estadunidenses estão aproveitando o fato de o Brasil ter exportado mais do que devia e, agora, igualmente importa soja, inclusive dos EUA, para manter suas indústrias moageiras funcionando. Mas todos praticamente concordam que a disparada de preços é atípica e pode se reverter logo adiante confirmando o velho ditado de que “quanto mais alta a árvore mais forte é o tombo”.
No Brasil, parte dos operadores de mercado começam a se preocupar com possibilidade de muitos produtores da nova safra não poderem cumprir os contratos futuros estabelecidos, seja por perdas climáticas seja por alteração nos preços do mercado, já que muitos dos contratos não teriam garantia de que o grão será entregue, pois não houve pré-pagamento por parte dos compradores. Isso poderia ocorrer com maior intensidade se os preços da oleaginosa subirem ainda mais no momento de entregar o produto. Mas para que estes preços subam, será preciso que o Real continue se desvalorizando e Chicago se mantenha nos atuais níveis de preço, duas situações possíveis, porém, improváveis se a safra sul-americana for normal e o Brasil avançar, finalmente, com seu ajuste fiscal após o segundo turno das eleições municipais.
Na Argentina, o plantio da soja atingiu a 20% da área, que é estimada em 17,2 milhões de hectares, contra 19 milhões inicialmente projetados. Em função do clima ruim em muitas regiões do vizinho país, a projeção local para a futura safra caiu, assim, para 46,5 milhões de toneladas, contra 55 milhões inicialmente esperados.
Atualmente a Argentina teria vendido 69% da sua última safra, contra 72% um ano antes nesta época. Com o imposto de exportação pesando sobre os preços da soja, os produtores locais têm poucas vantagens com o aumento dos preços internacionais da oleaginosa. O câmbio para exportação, chamado de “dólar soja”, tem uma enorme diferença em relação ao “dólar oficial”. Tanto é verdade que em relação a futura safra, que ora está sendo plantada, enquanto o Brasil já vendeu antecipadamente mais de 53% da mesma, os argentinos venderam apenas 7%.
Este quadro coloca as indústrias argentinas em alerta, pois as poucas vendas por parte dos produtores locais compromete o fornecimento de farelo e óleo de soja ao mercado mundial. Lembrando que a Argentina responde por quase 50% das exportações mundiais destes dois subprodutos. Isto ajuda a explicar o forte aumento de suas cotações em Chicago nestes últimos dois meses.
Aqui no Brasil, com o recuo do dólar para níveis próximos de R$ 5,30, e com pouca soja disponível para exportar, os preços da oleaginosa, pela primeira vez em semanas, recuou em sua média. O balcão gaúcho fechou a semana em R$ 162,38/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços assim ficaram: R$ 148,00 a R$ 148,50 no Paraná; R$ 164,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 168,00 no CIF em Maracaju (MS); R$ 156,00 em Rio Verde (GO); e R$ 163,00/saco em Luís Eduardo Magalhães (BA).
Enquanto a futura safra já está comercializada em mais de 53% do total esperado, o plantio caminha para a finalização no Brasil, com grandes dificuldades em algumas regiões devido a falta de chuvas. É o caso do Rio Grande do Sul em particular, mas também há problemas em outros Estados. No Mato Grosso, por exemplo, o problema climático já leva analistas a projetarem que a safra local não atingirá mais o recorde entre 35,8 e 36,8 milhões de toneladas, mesmo que a semeadura alcance 10,3 milhões de hectares. O plantio, atrasado, teria chegado a 94% da área até o início da presente semana naquele Estado. Esse problema também atinge em parte o Paraná, onde o norte do Estado está muito atrasado, comprometendo a produtividade final. Os paranaenses esperam colher 19 a 20 milhões de toneladas de soja. A qualidade das lavouras paranaenses está menor do que a do ano passado, sendo que as lavouras em condições boas a excelentes registram 70% do total, ou seja, 10 pontos percentuais a menos do que no mesmo período do ano passado. No caso gaúcho, embora a janela de plantio seja mais ampla, igualmente há muitas regiões com atraso em relação a média histórica.
Nesta situação, a nova safra deverá entrar no mercado apenas em fevereiro, atrasando um pouco mais a oferta em um momento em que praticamente já não existe soja disponível.
Neste contexto, a exportação brasileira de soja igualmente diminui, com a média diária na segunda semana de novembro caindo pela metade em relação a semana anterior. O volume é menos da metade da exportação diária realizada em novembro de 2019.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ