Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja em Chicago, para o primeiro mês cotado, após recuarem um pouco no início da semana, dispararam e romperam o teto dos US$ 11,00/bushel no final da mesma diante da possibilidade concreta de vitória do candidato democrata Joe Biden nas eleições presidenciais dos EUA. O fechamento desta quinta-feira (05) ficou em US$ 11,01/bushel, contra US$ 10,51 uma semana antes. A atual cotação não era vista desde o final de 2014, ou seja, há quase seis anos. A média de outubro foi de US$ 10,54/bushel, com 5,6% de avanço sobre a média de setembro. Vale lembrar que a média de outubro de 2019 foi de US$ 9,25/bushel. Ou seja, a cotação média atual está US$ 1,29/bushel, ou 13,9%, acima da registrada um ano atrás.
Soma-se a esta situação política as dificuldades de plantio na Argentina e parte do Brasil, devido a falta de chuvas; o aumento nos preços internacionais do petróleo nesta semana; a continuidade das compras chinesas; e a forte ação dos Fundos especulativos na ponta compradora de contratos de soja.
No caso político, a possível vitória de Baiden deverá melhorar as relações com a China, devendo favorecer as exportações de soja e outros produtos estadunidenses para o país asiático, fato que está sendo precificado pelo mercado.
Assim, a proximidade do final da colheita nos EUA, com uma safra ao redor de 117 milhões de toneladas da oleaginosa (atenção ao relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para o dia 10/11), não é suficiente para reduzir as cotações.
Neste sentido, a colheita de soja nos EUA atingia a 87% da área total no dia 1º de novembro, contra a média histórica de 83% para esta data.
Já as exportações de soja por parte dos EUA, na semana encerrada em 29/10, atingiram a 2,08 milhões de toneladas, ficando dentro do esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial 2020/21 os EUA já embarcaram 16,6 milhões de toneladas, contra pouco mais de 9 milhões um ano antes.
Aqui no Brasil os preços da soja continuaram seu processo de alta, porém, os mesmos são praticamente nominais já que não há quase soja disponível para comercializar. O balcão gaúcho fechou a primeira semana de novembro com a média de R$ 160,12/saco (um ano antes esta média estava em R$ 76,96/saco, ou seja, em 12 meses o preço da soja, ao produtor gaúcho no balcão, subiu 108%). Por outro lado, nas demais praças nacionais as médias atuais ficaram em R$ 148,00 no Paraná; R$ 159,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 172,00 no CIF Maracaju (MS); R$ 156,00 em Rio Verde (GO); e R$ 150,00/saco em Luís Eduardo Magalhães (BA).
Além das altas em Chicago, o preço foi novamente auxiliado pelo câmbio no país, que permaneceu entre R$ 5,65 e R$ 5,75 por dólar em grande parte da semana. Soma-se a isso os prêmios nos portos nacionais e a falta de disponibilidade de soja para o mercado interno, o que continua forçando as empresas moageiras a elevar o preço local em busca de produto.
Além disso, apesar de o plantio ter avançado no Centro-Oeste e parte do Paraná, graças ao retorno das chuvas, no Rio Grande do Sul a seca continua atrasando o mesmo, preocupando o mercado. Especialmente porque este problema climático também se faz presente na Argentina.
Desta forma, no Rio Grande do Sul, até o dia 29/10, o plantio atingia a 7% da área, contra 12% na média histórica para esta data. (cf. Emater) Como não houve chuvas nos dias que se seguiram, o atraso neste momento deve estar maior.
Por sua vez, no Mato Grosso o plantio mais que dobrou em uma semana, atingindo a 54% da área esperada durante a corrente semana. Mesmo assim, o atraso continua, já que a média histórica para esta época é de 68% semeado.
De forma geral, o Brasil avançou no plantio nestes primeiros dias de novembro, atingindo a um milhão de hectares adicionais por dia, chegando a mais de 50% da área total esperada, após atingir a 42% no dia 29/10. Com isso, em termos do país, o plantio já está conseguindo chegar à média histórica, após importantes atrasos iniciais. (cf. AgRural)
Vale ainda destacar que, diante dos extraordinários preços da oleaginosa, a relação de troca “soja x insumos” está apresentando resultado favorável em muitas regiões. No Paraná, por exemplo, a relação fertilizante NPK 04-30-10 passou de 20,73 sacos de soja por tonelada do insumo em setembro de 2019, para 13,34 sacos em outubro de 2020. (cf. Deral) Já no Mato Grosso, a relação da tonelada de fertilizante 00-18-18 passou de 19,43 sacos de soja, na média dos últimos cinco anos, para 13,12 sacos neste ano.
Em paralelo, a ANP brasileira informou que o país deverá fechar 2020 com uma produção de 6,4 milhões de litros de biodiesel, ou seja, 8,5% acima do registrado no ano anterior. Isso significa que o país moeu mais soja com este objetivo.
Enfim, as exportações brasileiras de soja somaram 2,5 milhões de toneladas em outubro, com um recuo de 51% sobre igual período do ano passado, pois a oferta do produto está cada vez menor no mercado nacional. Em setembro os embarques haviam alcançado 4,5 milhões de toneladas. Assim, no acumulado do ano de 2020 as do mesmo período de 2019. Esse volume teria gerado uma receita, nos primeiros 10 meses do ano, de US$ 28,07 bilhões, quase 22% acima de igual período do ano passado.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ