Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações da soja em Chicago se consolidaram acima dos US$ 11,00/bushel nesta semana, com o primeiro mês cotado fechando o dia 12/11 em US$ 11,37, contra US$ 11,01/bushel uma semana antes. Além de problemas climáticos na América do Sul, que vêm atrapalhando o plantio da oleaginosa na região, e da forte demanda chinesa, o mercado reagiu à redução da safra atual dos EUA e, igualmente, dos estoques finais daquele país, anunciadas no relatório de oferta e demanda no dia 10/11.

O relatório, de uma certa maneira, pegou o mercado de surpresa pois não se esperava uma revisão para baixo desta envergadura na safra de soja estadunidense. Assim, os principais números anunciados pelo relatório, para 2020/21, foram:

  1. Safra dos EUA em recuo, ficando agora em 113,5 milhões de toneladas, contra 116,2 em outubro e 96,7 milhões no ano anterior;
  2. Estoques finais nos EUA ficando agora em 5,2 milhões de toneladas, contra 7,9 milhões em outubro e 14,2 milhões no ano anterior;
  3. Preço médio aos produtores estadunidenses saltando para US$ 10,40/bushel no corrente ano comercial, contra US$ 9,80 em outubro e US$ 8,57/bushel no ano anterior;
  4. Produção mundial de soja em 362,6 milhões de toneladas, com um recuo de quase 6 milhões de toneladas em relação a outubro;
  5. Estoques finais mundiais em 86,5 milhões de toneladas, com recuo de 2,2 milhões sobre outubro, lembrando que no ano anterior tais estoques haviam sido de 95,3 milhões de toneladas;
  6. Importações da China mantidas em 100 milhões de toneladas, enquanto a produção do Brasil se manteve em 133 milhões de toneladas e a da Argentina foi reduzida para 51 milhões de toneladas (2,5 milhões a menos do que o projetado em outubro).

Estes números, associados aos do milho (que veremos logo adiante), colocam os produtores dos EUA diante de uma decisão complexa para a futura safra 2021/22. Com os estoques finais estadunidenses anunciados sendo o segundo menor da história daquele país, e os do milho (43,2 milhões de toneladas) apresentando a menor relação “estoque x consumo” em oito anos, a tendência é de as cotações, para as duas commodities, se manterem firmes em 2021. O quadro é bastante semelhante ao que ocorreu em 2012, quando a safra local foi atingida por uma seca importante.

Soma-se a isso as incertezas climáticas na América do Sul, as quais podem reduzir a safra regional deste ano, como já se começa a perceber nas projeções para a Argentina, embora nós as julguemos muito pessimistas no momento.

As primeiras projeções de safra futura nos EUA surgem no final de fevereiro, com o conhecido Fórum Outlook do governo estadunidense e, principalmente, com a intenção de plantio dos produtores locais a ser anunciada pelo USDA no final de março.



Neste contexto, se os produtores estadunidenses optarem por aumentar a área com milho, em detrimento da soja, as cotações da oleaginosa subirão em Chicago. Muito disso irá depender do volume que a China irá importar de milho estadunidense a partir de agora. Se esse volume for elevado, a tendência será estimular o plantio do cereal, fato que elevaria o preço futuro da soja. O aumento nas importações chinesas de milho igualmente está inserido na recuperação da suinocultura do país asiático, após a peste suína africana que por lá ocorreu em 2018. Com isso, a tonelada de milho na China, em outubro, atingiu o seu mais alto preço desde 2015 ao bater em US$ 362,00.

Dito isso, as dificuldades climáticas na Argentina, comprometendo o início do plantio de milho e soja, já colocaram em alerta o mercado dos derivados de soja, elevando o óleo de soja em Chicago para 37,13 centavos de dólar por libra-peso, algo que não se via há muitos anos. Em relação a média de abril de 2020 a libra-peso de óleo subiu 41,7%. Já o farelo se aproximou dos US$ 400,00/tonelada curta, batendo em US$ 394,80 nesta semana, algo igualmente só visto há muitos anos. Em relação a média de maio passado o ganho é de 38,6%. Esta situação ajuda a manter os preços do grão em níveis elevados e vice-versa.

Por outro lado, os EUA já comprometeram 48,5 milhões de toneladas de soja até o início de novembro, de um total esperado para 2020/21 em 59,9 milhões. O efetivamente embarcado neste ano comercial chega a 16,6 milhões de toneladas de soja, contra pouco mais de 9 milhões em igual momento do ano anterior.

Por sua vez, a China informa que aumentou em 41% suas importações de soja em outubro, em relação ao mesmo mês de 2019. Foram 8,7 milhões de toneladas importadas no mês passado. Mesmo assim, foi um volume menor do que o registrado em setembro, o qual atingiu a 9,8 milhões de toneladas. De outubro em diante as compras de soja dos EUA aumentaram na medida em que o Brasil e a Argentina praticamente não possuem mais o produto para exportar. Os chineses reconhecem que estão comprando soja brasileira muito barata, graças a forte desvalorização do Real.

Diante do excesso exportado pelo Brasil, as moageiras locais estão importando um nível recorde de soja neste ano, sendo o maior volume dos últimos 17 anos considerando o período janeiro a outubro.

Dito isso, os preços da soja no Brasil, em termos médios, voltaram a subir na maioria das regiões, porém, em um ritmo menor do que o das semanas anteriores. O balcão gaúcho fechou a semana em R$ 161,83/saco, enquanto nas demais praças nacionais o produto ficou assim cotado: R$ 147,00 no Paraná; R$ 163,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 172,00 no CIF Maracaju (MS); R$ 156,00 em Rio Verde (GO) e R$ 160,00/saco em Luís Eduardo Magalhães (BA).

A eleição de Joe Biden para presidente dos EUA, no dia 03/11, efetivamente enfraqueceu o dólar, revalorizando o Real, o qual passou a trabalhar na faixa de R$ 5,30 a R$ 5,40 por dólar após aquela data, segurando um pouco a formação dos preços internos da soja. O que compensou este movimento foram as novas altas em Chicago, assim como a manutenção de prêmios elevados nos portos brasileiros.



Neste contexto, as projeções para a futura safra brasileira de soja não param de aumentar, mesmo diante da seca que se abate sobre o sul do país. Segundo a Abiove, a mesma poderá chegar a 132,6 milhões de toneladas, com exportações em 2021 batendo em 83,5 milhões. Mas outros analistas adiantam a possibilidade de uma safra em 134,4 milhões de toneladas (cf. Datagro). Neste sentido, também crescem as expectativas pela continuidade na demanda nacional de farelo e óleo de soja, fato que leva a se esperar um esmagamento de 45,8 milhões de toneladas no próximo ano. Assim, a produção total de farelo chegaria a 34,9 milhões de toneladas e a de óleo em 9,2 milhões.

Todavia, não se pode negligenciar os efeitos negativos do clima, que atingem parte do Brasil, a Argentina e parte do Paraguai. Neste sentido, surgem projeções de que a safra sul-americana possa perder entre 5 e 10 milhões de toneladas em relação ao total esperado em condições normais de clima.

Na Argentina, a expectativa inicial é de uma safra entre 50 e 55 milhões de toneladas, porém, se a chuva não chegar logo, não se descarta uma produção ao redor de 45 milhões de toneladas. No Paraguai, onde as expectativas chegavam a 12 milhões de toneladas, a projeção agora ficaria abaixo de 11 milhões. No Paraguai o plantio já atingia a 95% da área nesta semana.

Aqui no Brasil, diante destes preços, a comercialização antecipada da futura safra continua crescendo. Até este momento a mesma atingia a 55% do total esperado, contra a média histórica de 30% nesta época (cf. Safras & Mercado). Já em relação a safra passada, as vendas atingiram a 98,7%, contra 93,7% na média para o período.

Quanto ao plantio da nova safra no Brasil, a área semeada atingia a 56% até o dia 06/11, contra a média histórica de 62% para esta época do ano (cf. AgRural). Enquanto o Sul do país enfrenta dificuldades para a semeadura, o retorno das chuvas no CentroOeste melhoraram o ritmo do mesmo, chegando a um total de 83% da área no Mato Grosso, por exemplo, Estado que estava bastante atrasado um mês atrás.

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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ

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