A soja subiu fortemente em Chicago, nesta semana, puxada pelo clima ruim junto às lavouras estadunidenses. Com isso, o primeiro mês cotato fechou a quinta-feira (22) em US$ 15,00/bushel, contra US$ 15,14 na véspera (valor que não era visto desde o dia 18 de abril passado) e contra US$ 14,28 uma semana antes, ganhando quase um dólar na semana. Destaque para o farelo, que subiu 12,7% entre os dias 14 e 21 de junho, enquanto o óleo, depois de altas seguidas, recuou fortemente, perdendo 6,6% entre os dias 16 e 22 de junho.

Como já sabido, estamos em pleno mercado do clima nos EUA, e as especulações em torno do mesmo ganham força. Neste contexto, a situação altista, mesmo havendo chuvas nas regiões produtoras daquele país, no final da semana anterior, foi alimentada pelo relatório das condições das lavouras.

Este relatório, na soja, indicou que as lavouras entre boas a excelentes condições recuaram de 59% para 54% na semana encerrada no dia 18/06, ficando abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, que foi de 58%. Outros 34% estavam regulares e 11% entre ruins a muito ruins. O índice de boas a excelentes caiu mais do que a média esperada pelo mercado, que era de 57%. Em Illinois, maior Estado produtor da oleaginosa, apenas 33% das lavouras estavam entre boas a excelentes condições, e em Iowa, 56%

Ainda sobre a oleaginosa, o USDA informou também que, até o dia 18/06, 92% das lavouras já haviam germinado, contra 86% da semana anterior e 81% na média histórica e no mesmo período do ano passado.

Dito isso, vale destacar também que os meses futuros, em Chicago, têm subido menos, enquanto a projeção para a produção mundial, mesmo com a preocupação climática nos EUA, é de crescimento, salvo uma concretização de quebra importante na safra estadunidense, o que é muito cedo para se definir.

Enfim, mais dois elementos centrais no cenário internacional da oleaginosa nesta semana:

1) houve mudanças na política de biocombustíveis dos EUA, fato que derrubou as cotações do óleo de soja, em Chicago, como vimos. As mudanças vão na direção de uma redução no uso de biodiesel e etanol de milho naquele país. No caso do biodiesel, até houve um aumento, porém, muito abaixo do esperado pelo mercado local, frustrando as expectativas;

2) As cargas atrasadas de soja, compradas no Brasil, chegaram à China, aumentando consideravelmente a oferta local da oleaginosa. Isso freia as futuras compras de farelo de soja e pode diminuir as compras do grão até o final do ano. Lembrando que entre janeiro e maio as compras chinesas de soja aumentaram em 11% sobre o mesmo período do ano passado, havendo tendência de novo aumento em junho. Na prática, os chineses aproveitaram os baixos preços em Chicago para fazer estoques. Agora, diante de uma demanda interna que não aumenta, o escoamento de farelo de soja fica difícil, já que os suinocultores chineses continuam com problemas. Com isso, os fabricantes de ração animal estão mantendo os estoques de farelo de soja no mínimo, à medida que as baixas margens dos suínos se arrastam, reduzindo as vendas futuras dos esmagadores e impactando suas compras de soja. E se a demanda continuar muito fraca, os produtores de rações podem cancelar os contratos de farelo de soja. Ao mesmo tempo, as margens dos esmagadores de soja, na China, continuam muito apertadas, especialmente agora que as cotações em Chicago voltaram a subir. “Os esmagadores obtiveram lucros por um curto período, entre meados de abril e o final de maio, e estão novamente perdendo dinheiro.” Este conjunto de fatos pode levar as importações chinesas de soja a recuarem no segundo semestre do corrente ano. (cf. Shanghai JC Intelligence Co Ltd – JCI)

E no Brasil, por enquanto, mesmo com o câmbio batendo em R$ 4,76 por dólar, em alguns momentos da semana, e prêmios ainda negativos, os preços da soja no Brasil melhoraram um pouco. A média gaúcha subiu para R$ 127,00/saco, enquanto as principais praças locais negociaram a soja a R$ 126,00. Já nas demais regiões brasileiras, os preços da soja oscilaram entre R$ 108,00 e R$ 121,00/saco. Assim, vai se confirmando, pelo menos neste curto prazo, que os baixos valores de poucas semanas atrás seriam o limite de recuo da soja, e que no segundo semestre haveria a possibilidade de uma melhoria de preços, mesmo que pequena. Neste último caso, não só a melhoria dos prêmios vai se consolidando, mesmo que ainda longe do esperado, mas também os problemas climáticos, que surgiram nos EUA, começam a ajudar os produtores brasileiros. Porém, a safra estadunidense apenas está começando e, até o final de setembro, quando se inicia a colheita, muita coisa ainda pode ocorrer nesta área climática.

Dito isso, as exportações de soja brasileira, nas três primeiras semanas de junho registram uma média diária de 795.300 toneladas, o que significa um aumento de 67,2% sobre a média do mesmo mês do ano passado. Considerando os 11 primeiros dias úteis de junho, o volume embarcado de soja somou 8,75 milhões de toneladas, contra 9,99 milhões de toneladas em todo o mês de junho do ano passado. (cf. Secex) Por sua vez, a iniciativa privada estima que o Brasil exportará 14,3 milhões de toneladas em junho. Com isso, teríamos o quarto mês seguido de exportações acima de 14 milhões de toneladas mensais. (cf. Cargonave)

E neste contexto exportador, a Argentina, diante de sua enorme quebra na safra passada, se tornou o segundo principal destino da soja brasileira, considerando o período de janeiro a maio. A indústria argentina busca importar soja para manter as atividades diante de uma seca histórica que reduziu a safra do país em mais da metade do esperado (20,5 milhões de toneladas segundo os argentinos). A exportação de soja, do Brasil para a Argentina, somou 978.500 toneladas somente em maio, aumentando o volume exportado no acumulado do ano, para o país vizinho, a 1,92 milhão de toneladas, enquanto analistas ainda veem potencial para a Argentina comprar mais 2 a 3 milhões de toneladas de soja brasileira no corrente ano. Assim, país vizinho deverá importar, no total, cerca de 9 milhões de toneladas de soja neste ano, em função de possuir uma grande indústria exportadora de óleo e farelo da oleaginosa. Por outro lado, com as margens de esmagamento, através da soja importada do Brasil, agora deixando de ficar acima da soja comprada internamente, a tendência é de diminuírem as importações originadas do Brasil nos próximos meses. Afinal, o volume já importado e o programa do governo, chamado “dólar soja”, incentivando vendas de produtores argentinos, houve maior disponibilidade para a indústria local. (cf. S&P Global Commodity Insights)

Enfim, ainda em termos de exportação, nos primeiros cinco meses do ano o Brasil exportou, para a China, 34,4 milhões de toneladas de soja, contra 28,7 milhões de toneladas no mesmo período do ano passado. O volume agora exportado corresponde a 70,2% do total vendido ao exterior, pelo Brasil, em soja, no período (49 milhões de toneladas). (cf. Secex e AgRural).

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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).



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