Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja em Chicago voltaram a melhorar nesta semana. O primeiro mês cotado se consolidou acima dos US$ 9,00/bushel, trabalhando grande parte da semana em US$ 9,12, a melhor cotação desde a terceira semana de janeiro do corrente ano. Todavia, na quinta-feira (20) o mercado voltou a recuar, fechando em US$ 9,03/bushel, contra US$ 9,07 uma semana antes.
O motivo principal da firmeza está no fato de que as condições das lavouras nos EUA pioraram após a passagem de uma tempestade no Meio-Oeste local, especialmente no Estado de Iowa. Assim, no conjunto das lavouras, tais condições ficaram em 72% entre boas a excelentes em 16/08, perdendo dois pontos percentuais. Em Iowa as mesmas caíram para 62% apenas. Cerca de 84% das lavouras estadunidenses estavam com formação de vagens até a data indicada.
Vale também destacar que, diante da relativa recuperação da economia mundial após o auge da pandemia do Covid-19, a demanda por combustíveis aumentou. Isso eleva o preço do óleo de soja, principal componente do biodiesel. Em Chicago, o mesmo está sendo cotado acima de 30 centavos de dólar por libra-peso desde o final de julho, sendo que no dia 12/08 sua cotação bateu no mais alto nível desde o dia 24 de janeiro passado (32 centavos de dólar por libra-peso).
Por outro lado, apesar dos atritos políticos dos EUA para com a China, o país asiático continua comprando soja norte-americana. Isso sustenta as vendas externas estadunidenses, sendo que na semana encerrada em 13/08 o total embarcado, para diferentes destinos, chegou a 785.075 toneladas, elevando o volume total do ano comercial para 40,95 milhões de toneladas. Mesmo assim, ainda abaixo do pouco mais de 43 milhões que foram exportados no mesmo período do ano anterior.
Por sua vez, a Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA indicou que o esmagamento de soja naquele país, no mês de julho, somou 4,85 milhões de toneladas, ficando dentro das expectativas do mercado, porém, acima do esmagado em junho (4,55 milhões de toneladas) e também acima do volume triturado em julho do ano passado (4,57 milhões de toneladas).
E aqui no Brasil, os preços da soja voltaram a subir, agora puxados também pelo câmbio, o qual voltou a ultrapassar os R$ 5,50 por dólar em alguns momentos da semana. Assim, nem mesmo o leve recuo no valor dos prêmios (US$ 1,65/bushel em Paranaguá no dia 19/08) segurou os preços internos.
Desta forma, a semana fechou com a média no balcão gaúcho batendo em R$ 117,39/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços assim ficaram: R$ 110,00 a R$ 111,00 no Paraná; R$ 115,00 em Campo Novo do Parecis (MT); R$ 130,00 no CIF Maracaju (MS); R$ 103,00 em Rio Verde (GO); e R$ 114,00/saco em Luís Eduardo Magalhães (BA).
Os preços nacionais da soja vêm subindo semanalmente, diante de uma demanda externa e interna expressiva, após uma frustração parcial na última safra, registrada no sul do país. O Brasil já teria exportado 77,7 milhões de toneladas até o momento, superando o volume esperado para todo o ano, devendo atingir no final cerca de 82 milhões de toneladas.
A forte demanda externa faz com que as indústrias brasileiras aumentem os preços para tentar segurar algum produto localmente, assim como aumentam as importações de soja do Paraguai e da Argentina.
Neste contexto, os derivados da soja também sobem de preço. No Mato Grosso, por exemplo, o óleo de soja atingiu a R$ 4.300,00 por tonelada na última semana, batendo um recorde histórico. Este valor seria 79,2% superior ao registrado no mesmo período de 2019. As próprias exportações de óleo de soja, que estavam previstas para apenas 300.000 toneladas neste ano, pelo Brasil, já atingiram a 979.000 toneladas, enquanto as de farelo acumulam 11,3 milhões de toneladas, superando os volumes do ano passado nesta mesma época.
Desta forma, o chamado “complexo soja” (grão, farelo e óleo) está com 90 milhões de toneladas exportadas até o momento, contra 65,3 milhões no mesmo período do ano passado. Ou seja, 75% da última safra já foi embarcada, contra 56% no mesmo momento do ano passado. Com isso, o quadro de aperto na oferta interna da oleaginosa continuará grande até o início de fevereiro, quando entra a nova safra. Portanto, os preços dificilmente irão recuar no curto prazo, salvo uma mudança de rumo no câmbio.
A situação é tão positiva para os preços que, fato raro, em muitas regiões do país os mesmos estão acima dos praticados em Chicago neste momento. Desta forma, o plantio da nova safra da oleaginosa, que logo se inicia, se dará com mais de 50% desta futura safra já vendida, superando o recorde de 2015, quando nesta época 26% da safra estava vendida.
Aliás, os produtores já estão vendendo a safra de 2021/22, que será semeada a partir de setembro de 2021, sendo que no interior do Paraná houve ofertas futuras de R$ 104,00/saco para aquela safra. Isso paga largamente os custos de produção estimados, levando os produtores, com razão, a anteciparem vendas. Afinal, todo mundo sabe que este momento é excepcional para os preços da soja e que não tende a durar para sempre.
Como já frisamos no comentário passado, segundo os indicadores da Esalq/BM&FBovespa, os preços da soja neste momento, tomando o Paraná como referência, já estão nos melhores níveis reais da história, superando o pico atingido em novembro de 2012. Ou seja, retirando a inflação do período, a soja está oferecendo uma remuneração positiva superior àquela. Ao mesmo tempo, os indicadores de soja de Paranaguá e do interior do Paraná estão com a menor diferença desde 2016.
Ainda em termos de exportações, na semana entre o 9 e o 15 de agosto o Brasil exportou 1,48 milhão de toneladas de soja e 512.564 toneladas de farelo.
Quanto a nova safra, espera-se uma área total semeada de 38 milhões de hectares no Brasil e uma produção final que pode chegar a 131 milhões de toneladas em clima normal. No geral, a área nacional poderá crescer até 3% em relação ao ano anterior.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ