Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações da soja em Chicago voltaram a subir nesta semana que antecede ao Natal, tendo o primeiro mês cotado atingido a US$ 9,28/bushel nos dias 17 e 18 de dezembro, e fechando a quinta-feira (19) em US$ 9,24/bushel, contra US$ 8,98 uma semana antes. Vale destacar que o óleo de soja disparou de preço em Chicago na última semana, chegando a ser cotado a 33,82 centavos de dólar por libra-peso, algo que não era visto desde o final de novembro de 2017.

Já o farelo voltou a ultrapassar o teto dos US$ 300,00/tonelada curta, chegando a ser cotado em US$ 302,90/tonelada curta durante a semana, porém, não se sustentou nestes níveis, fechando a quintafeira (19) em US$ 298,40.

O motivo principal desta recuperação, que trouxe o bushel novamente acima dos US$ 9,00, foi o anúncio do acordo comercial parcial entre EUA e China no final da última  semana, mais precisamente no dia 15/12. Assim, a Fase Um do acordo, que atinge 60% dos produtos chineses negociados nos EUA, estaria concluída, distensionando o mercado.

A partir deste acordo, a China se compromete a aumentar em volume as compras de produtos primários estadunidenses, dentre eles a soja, além de outros aspectos econômico-comerciais. Agora, os dois países iniciam as negociações da chamada Fase Dois, a qual deve atingir os demais produtos que ficaram de fora do primeiro acordo.

A respeito do acordo, o governo dos EUA anunciou igualmente que no segundo ano do mesmo as exportações de mercadorias para a China serão duplicadas, caso não haja retrocesso no mesmo. Apenas na agricultura a soma das compras chinesas poderá alcançar entre US$ 80 bilhões e US$ 100 bilhões ao longo dos próximos dois anos. Obviamente uma notícia ruim para os produtores e exportadores brasileiros, pois a tendência será a redução de nossas exportações de soja e carnes para a China para o próximo ano.

Outro fator favorável ao aumento das cotações em Chicago, e que auxilia, neste caso, aos produtores brasileiros, é que o novo governo argentino, dias após a sua posse em 10/12/2019, voltou a aumentar as retenciones sobre produtos agrícolas, ou seja, aumentou as taxas de exportação sobre os produtos locais. Com isso, a soja sofrerá uma taxa de 30% a partir de agora, desestimulando, em parte, as exportações locais do grão e do farelo. Igualmente, sob outros percentuais, o milho, o trigo e as carnes, além dos derivados lácteos, também são atingidos pela medida.

Por sua vez, as inspeções de exportação estadunidense de soja atingiram a 1,26 milhão de toneladas na semana encerrada em 12/12, superando a expectativa do mercado. No acumulado do ano comercial 2019/20, iniciado em 1º de setembro, as inspeções somam 18,6 milhões de toneladas, contra 15,7 milhões um ano antes.

Por outro lado, as exportações líquidas de soja por parte dos EUA, na semana encerrada em 05/12, somaram 1,05 milhão de toneladas para o mesmo ano comercial. Este volume representa um recuo de 17% frente a média das quatro semanas anteriores. O volume total ficou dentro das expectativas do mercado.



Já a Associação Norte-Americana dos Processadores de Óleos Vegetais (NOPA) informou que o esmagamento de soja nos EUA atingiu a 4,78 milhões de toneladas em novembro, superando levemente o volume esmagado em outubro. Este volume ficou acima do esperado pelo mercado e bem acima do registrado em novembro do ano passado.

Enfim, o aumento importante nos preços do óleo de soja se deve, além da firmeza dos preços mundiais do petróleo e da melhoria na demanda do produto em si, ao fato de que o Congresso dos EUA alterou a lei de gastos do governo, estendendo um crédito tributário para a indústria de biodiesel até 2022, além da lei ser retroativa ao início de 2018, quando a mesma havia expirado.

Para temperar um pouco este conjunto de fatos positivos às cotações, o mercado sente a pressão do clima favorável, neste momento, sobre as regiões produtoras de soja da América do Sul, apesar de problemas pontuais já ocorridos tanto no Brasil quanto na Argentina. Aliás, no vizinho país a situação se encontra ainda difícil em muitas regiões.

Aqui no Brasil, diante de um câmbio que recuou sensivelmente durante a semana (o Real veio a R$ 4,06 por dólar), os preços da soja praticamente estabilizaram. O balcão gaúcho fecha a semana em R$ 79,13/saco (no ano passado, nesta época, o valor era de R$ 72,36/saco). Ou seja, o balcão gaúcho fecha 2019 com um ganho nominal ponta-à-ponta de 9,4%. Considerando que a inflação oficial está ao redor de 3,5%, o ganho real é de algo em torno de 5,9%. Já os lotes fecham a semana entre R$ 85,00 e R$ 86,00/saco (no ano passado, nesta época, os lotes eram cotados a R$ 78,50 e R$ 79,50).

Assim, os lotes registram um ganho médio nominal de 8,2% e um ganho real de 4,7% na comparação entre as duas datas. Nas demais praças igualmente os lotes se mantêm elevados, girando entre R$ 77,00 em Sorriso, Sinop e Canarana (MT) e R$ 85,00/saco em Campos Novos (SC). No ano passado, nesta mesma época, os preços eram de R$ 63,50 a R$ 68,00/saco no Nortão do Mato Grosso, até R$ 80,00 em Campos Novos (SC).

Além destas praças, os lotes fecham praticamente o ano de 2019 nos seguintes valores (entre parênteses os valores do mesmo período do ano passado): R$ 85,00 no Paraná (R$ 74,00); R$ 77,00 em São Gabriel-MS (R$ 74,00); R$ 83,50 em Goiatuba-GO (R$ 70,00); R$ 74,00 em Pedro Afonso-TO (R$ 70,00); e R$ 76,00/saco em Uruçuí-PI (R$ 72,00).

O ano termina com o Brasil esperando uma futura colheita de soja em 125,5 milhões de toneladas, com exportações em 74 milhões e esmagamento em 44,1 milhões de toneladas. A produção de farelo de soja fica projetada em 33,6 milhões de toneladas para 2019/20, com exportações em 15,8 milhões e consumo interno em 17 milhões de toneladas. Enfim, a produção de óleo de soja está projetada em 8,8 milhões de toneladas, com exportações de apenas 500.000 toneladas e um consumo interno de 8,4 milhões de toneladas, sendo 3,95 milhões em biodiesel. (cf. Safras & Mercado)


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CEEMA

Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.

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