Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações da soja em Chicago voltaram a subir nesta semana, se mantendo acima dos US$ 15,00/bushel e, em alguns momentos, se aproximando dos US$ 16,00. Algo somente visto em 2012. O fechamento desta quinta-feira (29) ficou em US$ 15,42/bushel, contra US$ 15,33 uma semana antes.
O fator especulativo é intenso, se constituindo em bolha que pode estourar a qualquer momento. Tanto é verdade que o bushel ganhou quase dois dólares em menos de um mês, sem motivos suficientes para justificar tal movimento, salvo os baixos estoques nos EUA. Dito isso, o óleo de soja igualmente apresenta um quadro de disparada extraordinária de preços, na lógica do aumento do consumo de combustíveis pela retomada da economia pós-pandemia, onde cresce o consumo de biodiesel. A librapeso do óleo em Chicago chegou a bater em 68,95 centavos de dólar no dia 28/04, algo que não era visto desde o início de março de 2008, e se colocando como uma das cotações mais elevadas da história recente de Chicago. E isso ajuda a puxar o preço da soja para cima obviamente. Em tal contexto, a especulação sobre o clima nos EUA, no momento de início do novo plantio naquele país, ganha enorme importância.
Ocorre que, se olharmos racionalmente para as cotações na CBOT verificamos que, entre o primeiro mês (maio) e o segundo mês (julho) o grão tem uma redução de 2,9% e sobre novembro, quando ocorre a colheita nos EUA, a redução é de 17,2%. Se verificarmos o comportamento do óleo de soja naquela Bolsa, a diferença entre os dois primeiros meses é de uma redução de 12,7% em seu valor. Já em relação a novembro a redução aumenta para 35,4%.
São sinais de que, em o clima transcorrendo bem nos EUA, ou seja, não dando motivos para especulações altistas desenfreadas, as cotações tendem a recuar para níveis bem mais normais. Mesmo porque a demanda começa a reagir diante de preços tão altos. É o caso da China que vem buscando alternativas mais baratas para compor suas rações animais, visando substituir parcialmente a soja e o milho que são importados.
Dito isso, o plantio da soja nos EUA atinge a 8% da área no dia 25/04, estando bem adiantado pois a média histórica para a data é 4%. Ou seja, não há problemas climáticos que estejam atrapalhando o mesmo em termos médios. Aliás, neste sentido, consultores estadunidenses informam que nesta última semana as condições do clima no Cinturão de plantio dos EUA se mostraram mais estáveis, colocando o plantio “a todo vapor, sendo que alguns (produtores) estão com condições perfeitas, outros com o tempo um pouquinho seco, mas arriscando plantar assim mesmo. Nas áreas já semeadas parece que estão conseguindo a umidade que precisam, e não há nenhum alerta, nenhuma preocupação até agora, embora ainda seja muito cedo para se garantir uma safra cheia”. (cf. Roach AgMarketing) De fato, o ponto crucial da safra é julho e agosto.
Por sua vez, na semana encerrada em 22/04 os EUA exportaram 233.911 toneladas de soja, ficando dentro do esperado pelo mercado. No somatório do ano comercial, o total exportado chega a 55,3 milhões de toneladas, correspondendo a 89% acima do que foi exportado na mesma época do ano anterior.
Enquanto isso, na Argentina, o governo local cogita aumentar as taxações sobre as exportações de grãos. O país vizinho já impõe um imposto de 33% sobre as vendas externas de soja, 31% sobre as de farelo e óleo de soja e 12% sobre as de milho e trigo. Lembrando que a Argentina é o maior exportador mundial de farelo de soja e o terceiro exportador de milho. Obviamente, tal possibilidade provoca reações contrárias junto aos produtores locais.
Pelo lado da demanda chinesa, espera-se que a mesma continue a comprar a soja brasileira até setembro, momento em que começa a entrar a nova safra dos EUA, a qual deve vir mais barata do que a brasileira. Neste momento, por exemplo, o prêmio da soja no Golfo do México é positivo em 75 centavos de dólar por bushel, enquanto no Brasil o mesmo gira na média de 15 centavos negativo. O fato de os estoques estadunidenses estarem baixíssimos sustenta os preços da oleaginosa no mercado físico local, com reflexos diretos em Chicago. Por outro lado, a China estaria bem abastecida, não precisando correr atrás do produto. (cf. Labhoro) A China projeta importar 100 milhões de toneladas de soja neste ano comercial 2020/21. Lembrando que o governo chinês, desde o início do ano, sinaliza pedido aos seus especialistas em nutrição animal para reformularem suas rações, de maneira a usar menos milho e farelo de soja devido aos altos preços dos mesmos. No dia 21 de abril foram emitidas novas diretrizes neste sentido, indicando substituir os dois insumos básicos por outras matérias-primas tais como trigo, sorgo, mandioca, arroz, farelos de algodão, amendoim ou palma. Obviamente, é um processo que tende a mudar o mercado no médio prazo, devendo ser, em tendo sucesso, uma mudança estrutural que poderá modificar o mercado da soja como até agora o conhecemos em relação à China. Neste momento os chineses estão usando mais trigo e óleo de soja nas rações em substituição ao milho e ao farelo de soja.
Ainda em relação ao mercado chinês, a peste suína africana voltou em algumas regiões do país oriental, porém, não na intensidade vivida dois a três anos antes. Tanto é verdade que a população de matrizes suinícolas aumentou de 24 milhões de cabeças em setembro de 2019 para 38 milhões em dezembro de 2020. Dito isso, o abate de suínos no primeiro trimestre de 2021 naquele país recuou mais de 10% em comparação com o quarto trimestre de 2020. (cf. Agrinvest)
É neste contexto que entra a preocupação com a safrinha de milho brasileira, já bastante prejudicada pelo clima neste ano. Se a mesma for bem menor do que o esperado, o mercado internacional de milho, e obviamente o mercado interno, manterá preços em elevação não só em 2021 mas também em boa parte de 2022.(cf. Germinar Corretora)
Desta forma, e com um câmbio que começa novamente a ceder no Brasil (R$ 5,37 por dólar na manhã de quinta-feira, 29/04), os preços da soja ainda se mantiveram em elevação, refletindo o efeito altista de Chicago, já que os prêmios na média dos portos nacionais estão negativos e/ou em torno de zero. Assim, pela primeira vez na história gaúcha, a média semanal nominal ficou em R$ 170,90/saco. Já nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 161,00 e R$ 168,00/saco. Na prática, os preços da soja estão em recorde nominal em todo o Brasil nesta temporada.
Entretanto, não custa alertar que, no caso da tendência de recuo em Chicago se confirmar nos próximos meses, e o câmbio voltar aos patamares de R$ 5,20, e o prêmio se manter em níveis normais, os preços em novembro, tomando o Rio Grande do Sul como referência, podem recuar para médias ao redor de R$ 130,00/saco. Já para maio, tomando as cotações atuais em Chicago como indicativo, por enquanto o preço da soja, em safra normal, aponta para valores entre R$ 128,00 e R$ 130,00 no balcão. Diante do natural aumento dos custos de produção, esta realidade, se confirmada, pode reduzir a rentabilidade dos produtores de soja em 2022 na comparação ao quadro excepcional do corrente ano. Isso exige, portanto, mais atenção na gestão das empresas rurais, assim como a manutenção da prática da média de comercialização.
Em paralelo, as exportações brasileiras de soja estão muito elevadas, com a média diária de abril já superando em 30% o exportado em abril de 2020. Nos primeiros 11 dias úteis de abril as exportações nacionais de soja atingiram a 10,6 milhões de toneladas. A expectativa é de que abril tenha encerrado com exportações em 15,8 milhões de toneladas da oleaginosa. Um recorde mensal, embora menor do que o estimado anteriormente. Em abril de 2020, as vendas atingiram 14,3 milhões de toneladas. (cf. Secex e Anec)
Quanto a colheita da soja, no Rio Grande do Sul a mesma avançou bem já batendo em 80% neste momento e rapidamente se aproximando do final caso se mantenha o clima seco. Como se sabe, a mesma está bastante atrasada em relação a anos anteriores. A produção gaúcha deve atingir a 20,2 milhões de toneladas, talvez um pouco mais devido a excelentes produtividades em alguns locais.
Enfim, no Mato Grosso do Sul, onde a colheita está encerrada, os preços continuam firmes, com aumento de quase 100% sobre o ano passado na mesma época. A exportação de soja pelo Estado ficou em 879.000 toneladas no primeiro trimestre do ano, ou seja, 17,1% a menos do que o registrado no mesmo período de 2020. Isso se deve ao atraso na colheita e ao menor estoque existente oriundo do ano anterior. Já em abril a situação exportadora melhorou, com a média diária subindo 29,9% sobre abril do ano passado, com mais de 965.000 toneladas ao dia. O maior comprador é a China, com 77,5% de toda a receita de exportação obtida pelo Estado sulmatogrossense. Chama a atenção que a Argentina aumentou suas importações de soja deste Estado em função de perdas em sua atual safra mais uma vez. A safra total do Mato Grosso do Sul, neste ano, soma 13,3 milhões de toneladas, sendo um recorde . O histórico igualmente e 17,8% superior à frustrada safra do ano passado. A produtividade média fechou em 62,8 sacos/hectare. (cf. Semagro/MS e Aprosoja/MS)
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).