Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

Em Chicago, as cotações da soja, nesta semana, se mantiveram firmes, com o bushel, para o primeiro mês cotado, fechando o dia 18/02 em US$ 13,75, contra US$ 13,67 uma semana antes. O mesmo chegou a atingir US$ 13,84 no dia 16/02. A registrar a nova elevação nas cotações do óleo de soja, puxadas pelos preços do petróleo, as quais chegaram a ultrapassar os 47 centavos de dólar por libra-peso durante a semana.

O mercado esteve atento as questões climáticas na América do Sul e aos resultados do conhecido Fórum Outlook que sempre ocorre nesta época nos EUA, pois o mesmo oferece as primeiras projeções de safra futura naquele país. Neste sentido, a expectativa dos analistas era de que o Fórum indicasse uma área a ser semeada com soja, nos EUA, entre 35,2 e 37,2 milhões de hectares, contra 33,6 milhões semeados na safra anterior. Em isso se confirmando, o mercado poderá assistir a uma pressão baixista sobre as cotações da oleaginosa. Porém, será preciso garantir uma safra cheia para normalizar os baixos estoques existentes naquele país. Qualquer problema climático entre maio e agosto fará as cotações subirem. E haverá muita especulação neste sentido logo adiante. É importante lembrar que um indicativo mais preciso de plantio virá no dia 31/03, quando do anúncio do relatório de intenção de plantio dos produtores estadunidenses.

Por enquanto, além do frio intenso e fortes nevascas, o clima seco nas regiões produtoras dos EUA vem preocupando o mercado. Para a soja, cujo plantio se dá em abril/maio, ainda é cedo, porém, alimenta a especulação. Segundo meteorologistas locais, hoje mais de 60% dos EUA passa por algum tipo de seca, contra 25% no ano passado nesta época.

Por sua vez, o USDA divulgou que na semana encerrada em 11/02 os EUA embarcaram 809.574 toneladas de soja, ficando abaixo das expectativas do mercado. Em todo o ano comercial, iniciado em setembro passado, os estadunidenses exportaram 50,1 milhões de toneladas, ou seja, 77% acima do exportado no mesmo período do ano anterior. A estimativa é que, no encerramento do atual ano comercial 2020/21, em 31 de agosto, o volume exportado alcance 61,2 milhões de toneladas

Em paralelo, a Associação Nacional de Processadoras de Soja dos EUA, informou que foram esmagadas 5,03 milhões de toneladas do produto em janeiro, naquele país, superando as expectativas do mercado. É o segundo maior volume mensal da história da trituração de soja dos EUA.

E no Brasil, os preços cederam um pouco nesta semana sob pressão da colheita no Centro-Oeste e Norte do país. Isso, mesmo com Chicago firme e o câmbio se mantendo ao redor de R$ 5,40 por dólar. A redução das chuvas naquelas regiões propiciou uma aceleração da colheita.

A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 155,63/saco, enquanto nas demais praças os preços oscilaram entre R$ 146,00 e R$ 155,00/saco, dependendo da região.

A produção brasileira de soja continua estimada entre 130 e 134 milhões de toneladas, porém, há dúvidas quanto a qualidade final do produto, em muitas regiões, devido aos problemas climáticos.

Em termos de colheita, a mesma está atrasada, confirmando a tendência a partir do atraso no plantio da oleaginosa. Com isso, os EUA terão um tempo maior de exportação, especialmente para a China. Isso pode levar os chineses a comprarem menos soja brasileira nos meses futuros, em comparação ao ocorrido em 2020.

Mas os estoques mundiais igualmente se reduziram para este ano. Este fato pode levar muitos compradores a manterem suas aquisições, segurando as cotações da soja em níveis elevados até a nova colheita estadunidense, em setembro/outubro próximos.

Pelo sim ou pelo não, os embarques de soja em janeiro, por parte do Brasil, foram 28 vezes menores do que em igual período do ano anterior, somando apenas 49.500 toneladas, volume insuficiente para encher um navio. Enquanto isso, os EUA inspecionaram 8,9 milhões de toneladas de soja para embarque no mês, maior nível já registrado.

Neste sentido, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), confirma que o atraso na colheita brasileira favorece os competidores, especialmente os EUA. Para fevereiro, os embarques brasileiros de soja tendem a ficar em 6 milhões de toneladas, o que seria praticamente 30% a menos do que o inicialmente esperado. Assim, o abastecimento de soja no Brasil apenas se normalizaria em março, fato que está levando muitos importadores a sondarem fornecedores nos EUA e na Argentina, sendo que neste último país a colheita da oleaginosa se inicia apenas em março.

Por outro lado, importadores como a China continuam ampliando sua compras já que a pandemia, mesmo com a vacinação, ainda está longe de ceder. O surgimento de mutações mais agressivas do vírus, inclusive no Brasil, mantém o mercado em alerta. Somente em janeiro, os chineses importaram 5,6 milhões de toneladas de soja dos EUA, volume que se constituiu no maior da história para aquele mês com destino ao país asiático. Neste contexto, os estoques finais estadunidenses, que já estão extremamente baixos, podem encolher ainda mais até setembro, quando se inicia a colheita naquele país.



Assim, é possível que se tenha uma pressão baixista nos preços brasileiros, na medida em que a colheita avançar, porém, na sequência os preços podem subir novamente na esteira deste quadro de baixos estoques estadunidenses e forte demanda chinesa. Obviamente, muito deste comportamento dependerá, igualmente, do câmbio no Brasil, o qual pode ceder um pouco na medida em o Copom, a partir de março, acena com o retorno da elevação do juro básico, a conhecida Selic.

Dito isso, a colheita da soja no Mato Grosso atingia a 22,3% da área semeada até o último dia 12/02. O volume colhido teria chegado a 7,9 milhões de toneladas nesta área, com produtividade média de 57,4 sacos/hectare. A colheita mato-grossense está 36 pontos percentuais atrasada em relação ao ano anterior e 23 pontos abaixo da média histórica para esta época do ano. (cf. Imea)

Já em termos do país todo, segundo a AgRural, a colheita chegou a 9% da área até o dia 11/02, contra 20% na média histórica para este período. A preocupação agora é com o regime de chuvas no Centro-Oeste e Norte, que vem atrasando a colheita. Além disso, como a logística brasileira nestas regiões é ruim, as chuvas estão mantendo centenas de caminhões, carregados com soja, atolados nas estradas que vão aos portos, especialmente no norte do país.

Consequência deste atraso na colheita da oleaginosa, o plantio do milho safrinha nestas regiões igualmente atrasa. Até o dia 11/02 apenas 11% da área prevista estava semeada no Centro-Sul brasileiro, contra 31% na média histórica para esta época.

Por sua vez, a Abiove estima que o Brasil irá exportar 83 milhões de toneladas de soja neste ano de 2021, ficando praticamente no mesmo volume do registrado em 2020. No acumulado de fevereiro o país exportou, até meados do mês, 900.000 toneladas, faltando muito para atingir as 6 milhões esperadas. Em fevereiro do ano passado o Brasil exportou 6,61 milhões de toneladas. Em farelo de soja, a Anec espera que o país exporte 960.060 toneladas, contra 1,25 milhão estimados na semana anterior. Em fevereiro de 2020 o país exportou 1,02 milhão de toneladas de farelo de soja.

Ao mesmo tempo, o Brasil deverá triturar 46,3 milhões de toneladas de soja neste ano, contra 45,5 milhões em 2020. Isto se dá em função da forte produção de carnes, puxada especialmente pelas exportações, em particular para a China, mais uma vez.

Vale ainda destacar que a Abiove revisou para cima a safra de soja de 2020, indicando que o Brasil produziu 128,5 milhões de toneladas. Com isso, os estoques finais para 2021 aumentam para 528.000 toneladas.

Enfim, a Associação apontou que o complexo soja brasileiro (grão, farelo e óleo) tende a render, em 2021, um total de US$ 44,7 bilhões, contra US$ 35,2 bilhões em 2020.


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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ

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