Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações da soja, em Chicago, subiram nesta semana, na expectativa do relatório de oferta e demanda, anunciado pelo USDA neste dia 09/12. Assim, o bushel da oleaginosa, para o primeiro mês cotado, após fechar o dia 08/12 em US$ 12,61, puxado, especialmente, pelo farelo, fechou o dia seguinte (09/12), após o anúncio do relatório, em US$ 12,64/bushel, contra US$ 12,44 uma semana antes. A anotar que o farelo atingiu a US$ 368,80/tonelada curta, seu mais alto nível dos últimos 12 dias úteis, enquanto o óleo de soja recuou, atingindo a 54,79 centavos de dólar por librapeso, o mais baixo valor desde o dia 14 de abril do corrente ano.
O relatório indicou que a safra dos EUA, recentemente colhida, teria ficado mesmo em 120,4 milhões de toneladas. Já os estoques finais, para 2020/21, naquele país, permanecem projetados em 9,25 milhões de toneladas. Com isso, o preço médio aos produtores de soja estadunidenses, no atual ano comercial, continuam projetados em US$ 12,10/bushel. Quanto à produção mundial, o relatório reduziu a mesma para 381,8 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais mundiais caem para 102 milhões de toneladas, com recuo de 1,8 milhão em relação ao relatório de novembro. A produção brasileira foi mantida em 144 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina permanece estimada em 49,5 milhões. Já as importações chinesas de soja, para este ano comercial, foram mantidas em 100 milhões de toneladas.
Por outro lado, na semana encerrada em 02/12, os embarques de soja por parte dos EUA atingiram a 2,2 milhões de toneladas, ficando no limite superior esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial as exportações estadunidenses de soja atingem a 23,6 milhões de toneladas, ou seja, 21% abaixo do realizado no mesmo período do ano anterior.
Pelo lado da demanda, as importações de soja pela China, originárias dos EUA, devem cair bastante neste ano comercial 2021/22, quando comparadas ao ano anterior. Um dos motivos é os estragos provocados pelo furacão Ida, ocorrido em setembro, na cadeia de embarque estadunidense. Além disso, a safra brasileira, com volumes maiores no início de 2022, tende a reduzir a janela de exportação estadunidense. Neste contexto, estima-se que as importações totais de soja estadunidense pela China, para o ano comercial atual, iniciado em 1º de setembro, devam cair ao redor de 20%, para menos de 30 milhões de toneladas. Ora, os EUA acabam de colher sua segunda maior safra da história e, normalmente, exportam entre 45% a 50% desta produção. Mais da metade dessas vendas vão para a China, país que compra 70% de sua soja importada, entre setembro e dezembro, do país norte-americano. Em os EUA reduzindo suas vendas para os chineses, ou escoa o produto para outros compradores, ou terá que aumentar seus estoques, pressionando para baixo as cotações em Chicago em 2022. Vale ainda destacar que os principais elementos que impulsionam a demanda de soja na China – margens de esmagamento e produção de suínos – atingiram um estágio muito fraco nesta última metade de 2021. Além disso, em desfavor da soja dos EUA, está o fato de que a oleaginosa brasileira tem melhores margens de esmagamento para as indústrias chinesas, graças a níveis de proteína mais elevados. Neste sentido, os embarques de soja da Costa do Golfo, para janeiro próximo, foram oferecidos em torno de 500 dólares por tonelada FOB no final do mês passado, com um adicional de 78 a 80 dólares por tonelada de frete para a China. A soja brasileira está em torno de 520 dólares por tonelada FOB, porém, com frete em torno de 60 dólares por tonelada. Com isso, o Brasil entra cada vez mais na chamada janela de exportação estadunidense. As chegadas de soja na China em novembro-dezembro são principalmente carregamentos dos EUA, mas os embarques brasileiros devem aumentar drasticamente durante janeiro-março para mais de 6 milhões de toneladas. Isso representaria um aumento de mais de quatro vezes em relação aos 1,35 milhão de toneladas durante o primeiro trimestre de 2021. Enfim, com a expectativa de que a China responda por quase 60% de todas as importações de soja nesta temporada, os exportadores dos EUA não conseguirão encontrar um único grande comprador para substituí-la. Europa, México, Argentina, Egito e Tailândia são os próximos cinco maiores importadores, de acordo com o USDA, mas compram juntos apenas um terço do total da China. (cf. Notícias Agrícolas)
Dito isso, no Brasil os preços subiram nesta semana, mesmo com o câmbio cedendo um pouco e voltando à casa dos R$ 5,53 por dólar em alguns momentos. O fechamento no balcão gaúcho, na média semanal, ficou em R$ 160,70/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 142,00 e R$ 158,00/saco.
A grande preocupação no momento é o clima extremamente seco no sul do país, atingindo, agora, os três Estados meridionais. As chuvas têm sido largamente abaixo da média, atrasando o plantio e prejudicando a soja já semeada. Muitas regiões estão sendo obrigadas a replantar, com custos adicionais. Este problema da estiagem igualmente já é sentido no sul do Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Enquanto isso, o plantio da nova safra brasileira chegava a 94% da área esperada até o dia 02/12, sendo que no Mato Grosso a mesma está tão avançada que a colheita já poderá começar por volta do Natal em áreas mais adiantadas daquele Estado. (cf. AgRural) Contrariamente ao sul do país, no Mato Grosso e a maior parte do CentroOeste a umidade do solo está acima da média. Enquanto isso, o Paraná teve o novembro mais seco dos últimos 20 anos, com chuva acumulada de apenas 66,5mm, contra média de 157,8mm para o mês. Mesmo assim, a situação ainda apresenta um quadro melhor, em comparação ao mesmo período de 2020, ano de forte quebra nas lavouras de soja devido à seca. No Rio Grande do Sul o índice de umidade do solo é o segundo pior dos últimos 10 anos. E Santa Catarina registra situação semelhante. Em novembro o volume de chuva acumulado foi de 69,75 mm, sendo a média de 163,67 mm para o período. A previsão é de que a seca continue, o que pode limitar o potencial produtivo das lavouras. (cf. Geosys)
Pelo lado das exportações nacionais de soja, nos primeiros três dias úteis de dezembro o país vendeu 313.900 toneladas, superando todo o volume exportado em dezembro de 2020, que foi de apenas 274.080 toneladas. (cf. Secex) Este empuxe no presente ano se dá em função da China, conforme já comentamos anteriormente. Neste momento, cerca de 93% da última safra já está comercializada, contra a média de 90% para esta época do ano. Isto mantém os prêmios ainda nos níveis entre US$ 1,10 e US$ 1,20/bushel, ajudando a sustentar os preços internos da soja. Em todo 2021, o Brasil já exportou 87,5 milhões de toneladas de soja em grão, contra 82,7 milhões no mesmo período de 2020. No complexo soja – contabilizando farelo e óleo, além do grão – são 106,1 milhões de toneladas, enquanto eram 100,5 milhões no mesmo intervalo em 2020. Já em relação a safra 2021/22, que acaba de ser semeada, as vendas antecipadas atingiam a 37% nesta primeira quinzena de dezembro, contra 45% na média histórica para este período. (cf. Brandalizze Consulting)
Em termos estaduais, além dos problemas climáticos do sul, tem-se que no Mato Grosso o plantio se deu sobre 10,86 milhões de hectares, fato que poderá resultar em uma produção de 38,1 milhões de toneladas, sendo esta a maior safra estadual da história. A produtividade média esperada é de 58,5 sacos/hectare, com aumento de 1,9% sobre o ano anterior. No Estado mato-grossense igualmente o milho segunda safra deverá ser melhor. A área a ser semeada deverá chegar a 6,23 milhões de hectares, com aumento de 0,2% sobre a projeção anterior. (cf. Imea)
Por sua vez, no Paraná apesar da falta de chuvas em algumas regiões, ainda 91% das lavouras semeadas apresentam condições boas, 8% regulares e apenas 1% ruins. (cf. Deral)
Enfim, em termos gerais do país a área total semeada com soja deve ter chegado a 41 milhões de hectares, ou seja, 7,1% acima da área do ano anterior, sendo que quase toda ela já estaria concluída. Com isso, a estimativa de colheita chega a 145,6 milhões de toneladas, com produtividade média de 59,2 sacos/hectare. Todavia, a estiagem que se abate sobre o sul do país pode alterar para menos esta projeção de safra caso não chova rapidamente. (cf. Pátria Consultoria)
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).