Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações da soja trabalharam estáveis durante esta semana em Chicago, mantendo-se em níveis baixos. Porém, na quinta-feira, após o anúncio do relatório de oferta e demanda do mês de abril, e às vésperas do feriadão de Páscoa, o mercado reagiu um pouco com o fechamento, para o primeiro mês cotado, ficando em US$ 8,63/bushel naquela Bolsa, contra US$ 8,58 uma semana antes.

O mercado esteve amarrado pela pandemia do coronavírus, que atinge, agora, fortemente os EUA, além dos efeitos negativos do relatório de intenção de plantio da nova safra, divulgado no dia 31/03. No final da semana o novo relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado neste dia 09/04, animou um pouco as cotações.

A respeito deste relatório, embora ainda não seja importante para indicar as tendências para a nova safra, os números que vieram trouxeram algumas novidades, a saber:

  • A última safra dos EUA está consolidada em 96,8 milhões de toneladas e os estoques finais para 2019/20 foram aumentados para 13,1 milhões;
  • A safra mundial de soja foi reduzida para 338,1 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais mundiais ficaram em 100,4 milhões;
  • A produção brasileira de soja está prevista em 124,5 milhões de toneladas e a da Argentina em 52 milhões;
  • O preço médio ao produtor dos EUA, para 2019/20, fica agora estimado na média de US$ 8,65/bushel.

O mercado esperava que os estoques finais nos EUA, para o ano 2019/20, fossem elevados para 12,1 milhões de toneladas (o relatório apontou um milhão de toneladas a mais), enquanto os estoques finais mundiais fossem reduzidos para 101,9 milhões de toneladas para o mesmo ano (o relatório apontou 1,5 milhão de toneladas a menos). Já a projeção de safra no Brasil recuaria para 124,2 milhões de toneladas (o relatório indicou um volume de 300.000 toneladas acima), enquanto a da Argentina cairia para 52,7 milhões (o relatório apontou 700.000 toneladas a menos). Nestes dois casos devido a perdas em função da seca que se abateu sobre algumas regiões destes países.

Afora isso, houve muitas vendas técnicas, para cobrir posições por parte dos Fundos e especuladores em Chicago, mesmo diante da alta do petróleo e dos bons resultados das exportações de soja estadunidense.

Neste último caso, as exportações líquidas dos EUA, em soja, para o ano comercial 2019/20, iniciado em 1º de setembro passado, somaram 957.400 toneladas na semana encerrada em 26/03. Esse volume representa um aumento de 75% sobre a média das quatro semanas anteriores. Para o ano 2020/21 o volume alcançou 114.000 toneladas.

Assim, no somatório dos dois anos o volume superou as expectativas do mercado. Por sua vez, as inspeções de exportação estadunidenses somaram 298.124 toneladas na semana encerrada em 2 de abril. Com isso, o acumulado no atual ano comercial é de 31,9 milhões de toneladas, contra 30,2 milhões no ano anterior na mesma época.

Ajudou ainda a conter o aumento nos preços da soja o fato de que o dólar continua muito valorizado perante as demais moedas do mundo, tirando competitividade dos produtos exportados pelos EUA. Soma-se a isso, ainda, a entrada da nova safra sulamericana, a qual faz forte concorrência com o grão estadunidense, devendo o mesmo ver sua demanda externa reduzida a partir de agora.



Enfim, a boa notícia é que, aparentemente, a pandemia do coronavírus Covid-19 está diminuindo na China, país onde tudo começou ainda em dezembro passado. Isso, se confirmado na prática, poderá levar o país asiático a voltar a sua normalidade nos próximos meses, sendo um bom indicativo para os demais países do mundo, embora nestes casos ainda falte mais tempo para que a doença seja vencida.

No Brasil, os preços da soja se estabilizaram na medida em que o Real se valorizou um pouco durante a semana, atingindo valores em torno de R$ 5,14 em alguns momentos da mesma. Ao mesmo tempo, os prêmios nos portos nacionais pouco se alteraram em relação à semana anterior, ficando entre US$ 0,38 e US$ 0,72/bushel.

Assim, o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 91,01/saco, com ganho mínimo de alguns centavos sobre a semana anterior, enquanto os lotes passaram a valores entre R$ 97,00 e R$ 97,50/saco. É importante frisar que, diante da forte quebra da safra gaúcha, a corrida pelo produto colhido cresce, aumentando seu preço neste momento de colheita.

Já nas demais praças nacionais os lotes registraram os seguintes valores médios: R$ 93,50/saco no norte e centro do Paraná; R$ 84,50 em Querência (MT); R$ 82,00 em São Gabriel (MS); R$ 86,00 em Goiatuba (GO); R$ 98,00 em Campos Novos (SC); R$ 86,00 em Uruçuí (PI); e R$ 84,00/saco em Pedro Afonso (TO).

Quanto à colheita brasileira, até o dia 03/04 a mesma atingia a 82% da área, contra 78% na média histórica e 83% no ano passado nesta época. Todos os Estados produtores, com exceção dos menos significativos em volume e da Bahia, estão adiantados em relação a média histórica, com o RS atingindo a 59%; PR 95%; MT e MS já tendo concluído a mesma; 95% em Goiás; 96% em SP; 91% em MG; 35% na BA; 67% em SC; 59% no MA; 34% no PI e 62% no TO. (cf. Safras & Mercado)

Os preços agora estão na dependência da evolução das cotações em Chicago, as quais dependem do comportamento climático nos EUA, pois logo mais o plantio se inicia por lá, e do câmbio no Brasil, onde o quadro tende para uma revalorização do Real caso a contaminação com o coronavírus não piore mais do que o previsto.

Neste sentido, é bom alertar que o enorme déficit fiscal do governo federal, estimado agora em R$ 500 bilhões para este ano, em função do socorro estatal aos mais atingidos pelos efeitos econômicos nocivos do coronavírus, deverá fazer pressão sobre o câmbio em todo este ano e ainda em 2021. Este fato não permite, por enquanto, esperar uma revalorização muito intensa do Real, apesar de a mesma estar fora de sua realidade considerando a Paridade de Poder Compra média dos últimos 12 anos.


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CEEMA

Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.

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